“Ingresso para o Paraíso” (“Ticket to Paradise”, 2022); Direção: Ol Parker; Roteiro: Ol Parker, Daniel Pipski; Elenco: George Clooney, Julia Roberts, Kaitlyn Dever, Maxime Bouttier, Billie Lourd, Lucas Bravo; Duração: 104 minutos; Gênero: Comédia, Romance; Produção: Tim Bevan, Eric Fellner, Sarah Harvey, Deborah Balderstone, George Clooney, Grant Heslov, Julia Roberts, Lisa Roberts, Gillan Marisa, Yeres Gill; País: Estados Unidos; Distribuição: Universal Pictures; Estreia no Brasil: 07 de Setembro de 2022;
O cineasta Ol Parker tem envolvimento profissional com o cinema desde 2005, quando escreveu e dirigiu “Imagine Eu & Você” (“Imagine Me & You”), mas começou mesmo a ter mais consistência a partir de 2011, quando assinou o roteiro do simpático “O Exótico Hotel Marigold” (“The Best Exotic Marigold Hotel”), e também de sua sequência. Seu grande trabalho, no entanto, foi “Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo” (“Mamma Mia! Here We Go Again”), justamente por saber ativar gatilhos fundamentais ao filme, como a participação de Meryl Streep na sequência de 2018, uma surpresa muito mais que bem-vinda e arrebatadora. Percebe-se, então, que existe uma determinada similaridade nos principais trabalhos de Parker, há uma simplicidade na fórmula, mas sua efetividade é perfeitamente executada quando necessário, o que favorece e torna aceitável e compreensível a estrutura simples. O ápice disso é “Ingresso para o Paraíso”, comédia romântica em que o cineasta comanda as estrelas Julia Roberts e George Clooney. A dupla encarna no filme um casal divorciado que se odeia desde a separação, cerca de duas décadas atrás, mas que precisam se unir para um bem comum: ir até Bali sabotar o casamento da filha, Lily (Kaitlyn Dever), com um homem, Gede (Maxime Bouttier), que ela conheceu há menos de um mês enquanto estava de férias.
A princípio, o filme demora um pouco a engrenar, tanto porque Clooney e Roberts não estão juntos em cena, então estabelecer o todo ali soa um pouco artificial, no decorrer de “Ingresso para o Paraíso” é que a química dos dois entra em cena e faz o filme fluir, mesmo com alguns empecilhos. É uma realidade muito difícil de empatizar em um primeiro momento, pois os personagens soam esnobes e elitistas, então há uma certa distância. Pode parecer besteira, mas há, de certa forma, tanta referência ao status das personagens que se torna até irritante. E é um feito do filme contornar isso para que possamos nos envolver com o todo. Acredito que há um mérito de ambas as partes, tanto de Ol Parker como da dupla protagonista, mas é fato que existem arestas que podia ser melhor aparadas, como a personagem de Billie Lourd, que está sempre um tom acima, cuja humor nem sempre funciona e que soa deslocada, pois não faz, literalmente, diferença nenhuma à narrativa. É um alívio cômico absurdista que podia funcionar se desenvolvido para algum lugar, mas nada acontece, é algo apenas jogado e que fica por isso mesmo. Inclusive, é completamente aleatório como a atriz contracena numa das melhores, e mais dramáticas, cenas de George Clooney, num relato seu capaz de arrancar lágrimas, mas que soa solto dentro da narrativa justamente por conta dessas arestas.
O todo, porém, não é prejudicado. São coisas que podiam potencializar ainda mais um filme que, finalmente, se torna tão gostoso de se assistir. É encantador, de fato, como aos poucos essa relação passiva agressiva dos dois vai evoluindo e se torna algo contagiante, ao mesmo tempo engraçada e apaixonante. Arrisco até a dizer que é o melhor trabalho tanto de Julia Roberts como de George Clooney em uma década, e não é exagero. Os dois têm cenas poderosas, se no cômico ambos parecem estar se divertindo em cena e, em contrapartida, divertindo ao espectador, quando as partes mais dramáticas do filme entram em ação, nos vemos apegados aos dois, a seus personagens, e realmente tocados pelo que estão vivendo. É a marca registrada de Ol Parker se fazendo valer, mas em “Ingresso para o Paraíso”, seus protagonistas elevam isso a outro patamar, estão tão inspirados e à vontade que tornam a história, o filme, numa jornada empolgante. É uma sensação de prazer causada pela leveza com que o filme lhe deixa, o bem-estar, e isso porque consegue ser sincero, não tenta ser mais esperto que o espectador em momento algum e é honesto com suas emoções, sem sacadinhas pretensiosas. O filme se eleva ao se manter fiel a sua simplicidade, e é recompensado por um trabalho memorável da sua dupla de protagonistas. O resultado pode não ser uma ida literal ao paraíso, mas a sensação é quase esta.