“Contra o Mundo” (“Boy Kills World”, 2024); Direção: Moritz Mohr; Roteiro: Tyler Burton Smith e Arend Remmers; Elenco: Bill Skarsgård, Jessica Rothe, Yayan Ruhian, Michelle Dockery, Famke Janssen, Sharlto Copley, Brett Gelman, Isaiah Mustafa, Andrew Koji; Duração: 111 minutos; Gênero: Ação, Comédia; Produção: Sam Raimi, Zainab Azizi, Roy Lee, Wayne Fitzjohn, Simon Swart, Stuart Manashil, Dan Kagan, Alex Lebovici; País: África do Sul, Alemanha, Estados Unidos; Distribuição: Paris Filmes; Estreia no Brasil: 25 de Abril de 2024;
É um tanto incomum vermos filmes como “Contra o Mundo” ganhar mais destaque em Hollywood, e consequentemente mundo afora, porque sua realização parte de uma premissa que o funcionamento industrial do cinema americano pouco permite acontecer, porque é tudo muito mecânico e calculado, sem tempo a perder. A padronização dizima a criatividade e a possibilidade de tentativa e erro, não é de hoje que se fala sobre isso quando se trata de filmes de ação que, cada vez mais, também precisam funcionar como comédias. Não é somente como funciona o sistema, mas também o desinteresse dos nomes envolvidos e comandando as produções em fazer algo mais elaborado nesse quesito. Assim, o longa de estreia de Moritz Mohr serve como um respiro de ar fresco, ainda que “Contra o Mundo” mais busque inspiração em filmes que fogem dessas regras, do que as quebre por si só. No entanto, a maneira como equilibra ação e comédia e consegue ser funcional dentro de suas limitações deixa a experiência bastante divertida e num saldo que tem mais acertos que erros, resultando numa obra que apesar de imperfeita tem virtudes a serem exaltadas e conferidas, além de um novo nome para ficarmos de olho em futuros projetos.
Contudo, a primeira coisa a qual Moritz Mohr precisa se atentar é ao quanto sua narrativa pode agregar ou não, porque o principal problema de “Contra o Mundo”, sem sombra de dúvidas, são as voltas que a história dá e o quão desnecessariamente convoluta ela se torna por causa disso. A premissa de “colheita” a lá “Jogos Vorazes” é algo com o qual já estamos bastante familiarizados e essa simplicidade faz bem ao filme, mas acaba se optando pelo pior caminho, que é uma jornada que torna sua história muito mais complicada do que era preciso, e não é que simplesmente não funciona no todo, mas por acabar desandando numa reviravolta que soa completamente forçada porque é muito mais complexa do que qualquer outro elemento do filme, até em níveis de uma dramaticidade que não há aqui. O grande trunfo de “Contra o Mundo” está justamente em como abraça o lúdico e o absurdo, por isso, momentos como alguns protagonizados por Quinn Copeland no primeiro e segundo embate do personagem de Bill Skarsgård (“John Wick: Baba Yaga”) funcionam de maneira tão hilária, ou até mesmo a forma como o personagem de Isaiah Mustafa se comunica ou então toda a sequência inicial com Yayan Ruhian, sempre excelente em cena. Mas a construção de um mundo mais complexo, e essa reviravolta inclusa, são algo que pesa negativamente, ainda mais que quando Mohr aceita e embarca nessa ideia mais leviana, “Contra o Mundo” consegue ser um filme extasiante por diversos momentos. Não importa se as soluções são muito digitais, mesmo que dentro do surrealismo do filme, porque quando precisa Mohr demonstra que sabe conduzir seu filme e canalizar as emoções para tornar qualquer cena de ação um desbunde, seja ele cômico ou catártico!