Me intriga um pouco o rumo da carreira de Edward Berger, realizador que surpreendeu a todos (positivamente ou não) na temporada de premiações de 2023 com sua adaptação de “Nada de Novo no Front”, produção lançada pela Netflix e vencedora de quatro categorias no Oscar. Até aquele momento Berger era pouco conhecido por seus filmes, todos de pequenas produções, mas era um nome constante na assinatura de séries europeias e filmes televisivos, até passar por uma transição onde assumiu mais projetos de minisséries, mas sempre apresentando uma veia autoral que acredito não fugir muito daquilo que apresentou em seu filme de 2022, bem como em “Conclave”, que chega aos cinemas brasileiros agora em 2025, recheado de expectativas. O filme tenta tornar o evento católico da escolha do novo Papa, um acontecimento já quase milenar, em um thriller (a)político de disputa de influências e poder, recheado de intrigas e conspirações em seus bastidores, em meio a luta de egos e crenças das figuras da igreja favoritas ao cargo maior do catolicismo. Acompanhamos tudo isso através da perspectiva do cardeal Lawrence (Ralph Fiennes), responsável por conduzir a escolha do novo Papa, mesmo que relutante de sua função devido a uma crise de fé em si próprio.

Berger faz do seu estilo e sua visão algo fundamental desde o primeiro momento, é bastante claro como a mão do cineasta pesa sobre as escolhas e o desenvolvimento do filme, sendo que “Conclave” precisa justamente desse trabalho de direção para que o “suspense” em torno do evento seja funcional. Essa é a melhor característica do filme, porque é inevitável não se ver envolvido nas maquinações e descobertas encabeçadas pelo personagem de Ralph Fiennes, enquanto se mergulha cada vez mais numa espiral que coloca em xeque os prováveis escolhidos, enquanto o próprio protagonista se vê numa cilada quanto ao seu comprometimento com a Igreja e suas possíveis ambições em ver seu nome como o escolhido. Fiennes trabalha muito bem essa dubiedade, e entrega uma atuação consistente e que por si também eleva o filme, afinal, é difícil imaginar “Conclave” sendo efetivo, quando o é, com outro ator no papel, pois Fiennes tem completa ciência de como transparecer essa angústia do fardo que o personagem carrega, com uma delicada construção que ecoa nos momentos mais catárticos da narrativa. Ele é a chave para moldar os sentimentos que se refletem para o espectador, e isso funciona de maneira irretocável através de um recipiente perfeito.

Tudo em “Conclave” é amplificado, também, por sua estética, mais pelo impulso do catolicismo do que pelas escolhas da direção em si. Independentemente de crenças, é inegável que a Igreja Católica é a que tenha, provavelmente, as arquiteturas e visuais mais belos, e Edward Berger faz um uso muito bom disto, entregando um filme que tem um refino visual e uma classe que pode aparentar arrebatadora. Porém, no fim das contas é uma estética asséptica demais porque sempre busca desesperadamente impactar o espectador com algum visual, de forma que precise impressionar mesmo que seja esvaziado de sentido, algo que se reflete também na narrativa e suas reviravoltas. Porque, apesar de uma condução decente na construção dessa faceta de thriller, e a trilha sonora de Volker Bertelmann denota essa crescente como se uma nova revelação estivesse à espreita a todo momento, “Conclave” nunca realmente se entrega à desenvoltura de ser polêmico ou, de fato, radical. Há uma certa imparcialidade que prejudica porque no todo soa tão formal que a grande reviravolta se faz um dispositivo barato e até forçado, que apela gratuitamente ao choque e destoando de tudo que até então havia sido construído.
“Conclave” – Trailer Legendado:
“Conclave” (2024); Direção: Edward Berger; Roteiro: Peter Straughan; Elenco: Ralph Fiennes, Stanley Tucci, John Lithgow, Sergio Castellitto, Isabella Rossellini; Duração: 120 minutos; Gênero: Drama, Suspense; Produção: Tessa Ross, Juliette Howell, Michael Jackman, Alice Dawson, Robert Harris; País: Estados Unidos, Reino Unido; Distribuição: Diamond Films; Estreia no Brasil: 23 de Janeiro de 2025;