Lançado 15 anos atrás, “Como Treinar Seu Dragão” abria uma trilogia memorável principalmente pela sinceridade em suas emoções com uma afeição estabelecida através da simplicidade de suas premissas e a maneira direta como lidava com elas, em um certo sentido sendo até “primal” para se mostrar completamente funcional. Cada novo capítulo encontrava uma forma de ganhar o espectador num golpe autêntico de emoção, com personagens carismáticos para todos os lados e gostos, criando essa sensação de acolhimento e familiaridade que tornaram a trilogia em algo especial e que, mesmo com ramificações em outras mídias, felizmente soube o tempo certo de dizer adeus, diferente de muito conteúdo que encontramos atualmente. No contexto contemporâneo, inclusive, o fim nunca é uma opção viável e com isso a nostalgia ganha cada vez mais importância, o que fortalece o desenvolvimento de versões live actions de animações que muitos cresceram assistindo, como é o caso desta “nova” versão de “Como Treinar Seu Dragão”, comandada pelo próprio Dean DeBlois, co-diretor do original. Tudo o que se conhece do filme de 2010 está aqui, com toda suas similaridades e como uma cópia terrivelmente fiel ao original, só que com inexplicáveis quase 30 minutos a mais de duração numa empreitada que torna este a nova vítima da insaciabilidade da indústria de Hollywood.

É compreensível o desejo pela fidelidade para aproveitar justamente dessa familiaridade com a obra e facilitar o engajamento do público com a mesma, mas o repeteco que se torna “Como Treinar o Seu Dragão”, aliado a essa extensão de algumas coisas, faz com que o filme acabe enfadonho, sai de cena muito da simplicidade que era o forte da franquia e entra no lugar uma verborragia e idas e vindas que arrastam o longa mais do que o necessário, aquela relação direta com a ação e com as emoções ficam em segundo plano e enfraquecem o todo. Nesse copia e cola de cenas o que se faz mais chocante é que visualmente “Como Treinar o Seu Dragão” atinge uma pobreza melancólica, se não há nada que justifique uma versão live action pela maneira como é filmada, por ser quase uma refilmagem do original, é mais injustificável ainda quando encontramos cenas como a de abertura aqui, com essa escuridão que Hollywood assumiu para desenvolver suas cenas de ação e nos deparamos novamente com isto em “Como Treinar Seu Dragão”, onde se tira toda e qualquer graça da sequência ao se optar por essas tonalidades pretas e cinzas que nem as chamas dos dragões conseguem gerar algum contraste interessante.

Além disso, a muleta visual de “Como Treinar Seu Dragão” na similaridade com o que é o original não traz nenhuma novidade que empolgue, nenhuma sequência de ação que seja realmente eletrizante, chega a ser preguiçosa a falta de criatividade. Pelos mesmos motivos também encontra dificuldade em gerar uma emoção genuína qualquer, nem mesmo a atuação de Gerard Butler (“Covil de Ladrões 2”) como Stoico, personagem que ele dubla na animação, consegue ser plenamente efetiva. Essa transição para formatos diferentes também afeta o tom do filme, que não consegue equilibrar muito bem o cômico com o dramático e, no fim das contas, a recompensa no final não é, nem de perto, capaz de emular o que foi feito 15 anos atrás. Nessa tentativa de recriar algo de sucesso, Dean DeBlois acaba entregando algo vazio que é quase o completo oposto do que sua obra original inspirava, chega a ser triste em tempos de Inteligência Artificial cada vez mais integrante no audiovisual se abrir mão da criatividade de tal maneira. Acredito que não somente o elenco do filme merecia algo melhor, como o próprio público que irá assistir ao filme, ganhando em “Como Treinar Seu Dragão” não somente um subproduto, mas algo muito aquém daquilo ao que o próprio filme aspirava.
“Como Treinar Seu Dragão” – Trailer Legendado:
“Como Treinar Seu Dragão” (“How to Train Your Dragon”, 2025); Direção: Dean DeBlois; Roteiro: Dean DeBlois; Elenco: Mason Thames, Nico Parker, Gerard Butler, Nick Frost, Julian Dennison; Duração: 125 minutos; Gênero: Aventura, Comédia, Drama; Produção: Marc Platt, Dean DeBlois, Adam Siegel; País: Estados Unidos; Distribuição: Universal Pictures; Estreia no Brasil: 12 de Junho de 2025;