Caça-Fantasmas: Mais Além (“Ghostbusters: Afterlife”, 2021); Direção: Jason Reitman; Roteiro: Gil Kenan & Jason Reitman; Elenco: Carrie Coon, Finn Wolfhard, Mckenna Grace, Paul Rudd, Logan Kim, Celeste O’Connor; Duração: 125 minutos; Gênero: Aventura, Comédia, Fantasia; Produção: Ivan Reitman; País: Estados Unidos; Distribuição: Sony Pictures; Estreia no Brasil: 18 de Novembro de 2021;
Ainda que seja filho de Ivan Reitman, diretor do “Caça-Fantasmas” original, Jason Reitman (“Casual“) parece encarar o cinema de forma completamente diferente ao pai. Uma rápida olhada na filmografia de ambos deixa bem claro como é simples a diferença. O Reitman pai, inclusive, tem uma única indicação ao Oscar por um filme dirigido pelo filho, em que ele assina como produtor. Não tomemos isso como uma métrica de qualidade, pelo contrário. É só a forma como as produções de ambos conversam com diferentes públicos, têm escopos diferentes e percepções muito distintas sobre seus personagens e seu espaço imagético. Ignorando o nepotismo que lhe deu o cargo, é um tanto estranho -ainda mais como fã do diretor-, ver Jason Reitman assumindo um projeto como “Caça-Fantasmas: Mais Além”. Porém, manter os negócios em família é também uma forma de fugir das críticas infundadas e, em grande maioria, misóginas sofridas pelo reboot comandando por Paul Feig alguns anos atrás. Também como um controle de danos, por assim dizer, Reitman, Sony e companhia tentam capitalizar numa indústria que cada vez mais se vê na necessidade de sobreviver a base de franquias que se alastrem para mais além do que somente as telas dos cinemas.
O nome do cineasta parece ser visto como o certo para equilibrar as coisas que o filme precisa: a sensação de nostalgia, que vai agradar aos fãs do original -não que eles mereçam, mas dinheiro fala; A apresentação da franquia para uma nova geração; tentar ser agradável ao público em geral. De quebra também parece falar diretamente para um público fã de coisas mais “cults”, colocando Carrie Coon (“The Leftovers“) como uma das personagens (aqui eu me senti contemplado!). A sensibilidade do cinema de Jason Reitman parece ser necessária para criar a conexão entre as diferentes margens da nova tentativa de alavancar uma eventual franquia e fazê-la funcionar. Mas é difícil abrir mão de coisas que ele fez a carreira toda. Com isso, “Caça-Fantasmas: Mais Além” tem um tom um tanto quanto diferente. O humor soa mais protocolar, porque não é uma necessidade para o filme em si, mas para o público. De certa maneira até funciona, muito nas tentativas da personagem de Mckenna Grace de socializar. Junto com o diretor, a atriz entrega uma personagem imbuída de carisma e que funciona de maneira divertida com seu amigo “Podcast” (o ator mirim Logan Kim). Eles são parte fundamental de uma das propostas do filme, e funcionam bem dentro dela em determinados momentos.
Mas são tantas gerações dentro de uma mesma narrativa, e tantas tramas que se veem numa tentativa de serem amarradas juntas, que “Caça-Fantasmas: Mais Além” acaba ficando um pouco irregular. Porque falta tempo para investir em cada personagem. Tempo que é usado, por exemplo, no personagem de Paul Rudd servindo como uma exposição do roteiro, e para um mistério do qual o público já sabe a outra metade. Então andamos em círculo, chegando a uma conclusão que já sabemos qual é. Esses cacoetes que soam industrializados conflitam com um filme ainda mais interessante que se apresenta ali nas entrelinhas. Um filme que através de suas referências se constrói como os clássicos que, com certeza, fizeram parte da vida do próprio diretor. Contudo, o excesso prejudica, até porque Jason Reitman sequer pode explorar como quer algumas das relações. O personagem de Finn Wolfhard, por exemplo, parece incompleto por causa disso. Ele e seu interesse romântico nunca recebem tempo o suficiente para serem desenvolvidos. O que é uma pena, pois são diversas ideias jogadas ali que renderiam algo mais cativante e também mais envolvente. Mas, outra vez, também soa protocolar. Assim como o interesse romântico entre as personagens de Coon e Rudd, apesar da cafonice aqui ser engraçada.
Até porque Carrie Coon não está aqui à toa e, por mais que sequer chegue perto do que sabemos que a atriz é capaz de entregar, ela é uma das principais responsáveis pelo filme funcionar em momentos chave. Porque quando é preciso, ela entrega justamente o que Jason Reitman deseja para seu filme. A nostalgia é algo muito perigoso, o saudosismo flerta diretamente com o conservador e reacionário, partindo daqui a maior parte das críticas ao filme de 2016. Só que Reitman tem muito interesse em debater alguns pilares da cultura americana, é um traço fundamental em sua carreira. Ao mesmo tempo em que faz parte disso tudo. Mas sua consciência sobre o que está realizando torna essa troca entre gerações algo muito especial. “Caça-Fantasmas: Mais Além” tem um percalço irregular, é verdade. Todavia, aos poucos vai construindo algo que se une muito em prol de uma força catártica bárbara. É aí que Carrie Coon brilha, mas também porque ela entende melhor alguns dos momentos mais lúdicos do filme. Porém, quando chegamos ao clímax, a surpresa está no que o filme é capaz de fazer em um gesto, e na simplicidade com o que tudo ali ocorre. A sensibilidade com que tudo é conduzido transforma o filme em uma tocante homenagem e foge dos padrões nostálgicos. Sobram algumas lágrimas. Quem dera mais filmes soubessem como fazer isso…
PS.: “Caça-Fantasmas: Mais Além” possuí duas (2) cenas pós-créditos. Portanto, fiquem até acabarem todos os créditos do filme.
1 Comment
Pingback: Crítica | Caça-Fantasmas: Apocalipse de Gelo - Cine Eterno