Mesmo que ainda seja uma carreira curta, admito que tenho certa admiração pelo trabalho de Brady Corbet como realizador e a maneira como ele enxerga o mundo, principalmente pelo apresentado em “Vox Lux”, pérola subestimada e controversa de sua filmografia, mas um indicativo tanto de seu apuro estético como de seus sentimentos em relação a cultura pop em geral, bem como de seu tom provocador. Mesmo “O Brutalista” sendo um filme de período, Corbet ainda é capaz de tecer esses comentários e relações com o contemporâneo, tanto dentro como fora da tela, mesmo que o discurso extra-filme tenha se tornado enfadonho, assim como se pode questionar a intermissão que o cineasta coloca em meio ao seu filme, que acaba servindo como um ponto de virada que o define. É inegavelmente um filme de altos e baixos e, mesmo as duas partes tendo suas oscilações, é bastante óbvio que a primeira metade é superior. De qualquer forma, o todo serve em prol da história de László Tóth (Adrien Brody), judeu húngaro sobrevivente do holocausto que imigra para os Estados Unidos em busca de uma oportunidade de recomeçar sua vida e exercer sua paixão como arquiteto formado na prestigiada escola de Bauhaus.
Isso acontece porque “O Brutalista” é um filme extremamente ambicioso e pretensioso, não à toa quer a todo custo passar essa impressão de que é um épico americano, até por isso a intermissão, para remeter aos clássicos que marcaram época nos cinemas estadunidenses. Esse anseio pela grandeza torna o filme de Corbet também um pouco disperso pela quantidade desnecessária de tramas que nos vemos obrigados a acompanhar e muitas serem superficialmente “desenvolvidas”. A primeira parte, mais centrada no personagem de Adrien Brody (“Asteroid City”) é efetiva justamente pelo seu foco nele, sendo que posteriormente tudo fica muito disperso, com exceção da personagem de Felicity Jones, que serve como um excelente contrapeso ao protagonista. A dinâmica de ambos podia ser melhor explorada e, com certeza, qualquer que fosse o final seria muito mais impactante, inclusive o próprio epílogo que existe aqui. Muito do que é superficial é uma ideia para ancorar os diversos temas que o filme deseja debater, mas parece ser através do introspectivo que “O Brutalista” se comunica melhor, e não é uma crítica em relação a escala ou ao tom épico, mas sim às diversas camadas que o filme apresenta sem ser capaz de equilibrá-las.
Até porque tecnicamente “O Brutalista” é algo cada vez mais raro no cinema estadunidense, com personalidade para construir uma narrativa também visualmente, com um belíssimo trabalho de fotografia. É através de elementos assim que Brady Corbet consegue criar uma experiência que tem momentos extasiantes, que contagiam e hipnotizam, delineados perfeitamente pela trilha sonora de Daniel Blumberg. Imageticamente é de uma riqueza tremenda, e acredito que não podia ser diferente visto que o protagonista é um arquiteto, ainda mais de vertente brutalista, o que dá uma ambiguidade ao filme. Adrien Brody sustenta muito bem seu personagem, equilibrando intelectualidade com sofrimento, paixão com abstinência, numa jornada que culmina em uma variedade de grandes momentos, mas que, por fim, soa um pouco incompleta. Muitas das ideias do personagem ecoam bem na narrativa, como o didatismo de suas obras no epílogo ou a visita aos mármores na Itália, mas muito do que o filme deseja trabalhar através dele fica um pouco em vão. Esses ciclos de violência e brutalismo que podem se tornar o sonho americano e a busca por um pertencimento não são nenhuma novidade, e aqui Brady Corbet escolhe caminhos que não são os melhores, em contrapartida limitando sua própria obra.
“O Brutalista” – Trailer Legendado:
“O Brutalista” (“The Brutalist”, 2024); Direção: Brady Corbet; Roteiro: Brady Corbet e Mona Fastvold; Elenco: Adrien Brody, Felicity Jones, Guy Pearce, Joe Alwyn, Raffey Cassidy, Stacy Martin, Emma Laird, Isaach de Bankolé, Alessandro Nivola; Duração: 214 minutos; Gênero: Drama; Produção: Trevor Matthews, Nick Gordon, Brian Young, Andrew Morrison, Andrew Lauren, D.J. Gugenheim, Brady Corbet; País: Estados Unidos, Hungria, Reino Unido; Distribuição: Universal Pictures; Estreia no Brasil: 20 de Fevereiro de 2025;