“Beekeeper – Rede de Vingaça” (“Beekeeper”, 2024); Direção: David Ayer; Roteiro: Kurt Wimmer; Elenco: Jason Statham, Emmy Raver-Lampman, Josh Hutcherson, Bobby Naderi, Minnie Driver, Phylicia Rashad, Jeremy Irons; Duração: 105 minutos; Gênero: Ação; Produção: Bill Block, David Ayer, Chris Long, Jason Statham, Kurt Wimmer; País: Estados Unidos; Distribuição: Diamond Films; Estreia no Brasil: 11 de Janeiro de 2024;
David Ayer é um cineasta que já passou por diversas fases em sua carreira, entretanto, sempre ligado ao cinema de ação. Mas sua filmografia tem uma variedade de estilos, escopos e linguagem, mas que sempre quer aparentar uma pegada um tanto urbana e marginal, disfarçada com uma estética que aspira a um cinema intelectual, que clama por passar essa impressão. No geral, até gosto de maior parte dos filmes dele, mas é inegável que existem altos e baixos, acentuados depois do desastre de crítica que foi seu “Esquadrão Suicida” e, posteriormente, sua empreitada na tentativa de franquia com a Netflix em “Bright”. Todo o processo entre os dois filmes parece ter feito com que Ayer perdesse sua identidade, a primeira parte das características que comentei, sobrando somente uma pretensão que é esvaziada de sentido ou real conteúdo. A mais nova prova disso -ou podemos chamar até de consequência, é “Beekeeper – Rede de Vingança”, filme de ação protagonizado por Jason Statham que conta a história de um ex-agente secreto aposentado e atualmente apicultor que, quando a senhora de quem ele é vizinho acaba virando vítima de estelionato, se vê na obrigação de retornar à ativa e fazer justiça com as próprias mãos.
Há toda uma ironia com a profissão do personagem antes e depois de sua aposentadoria, e até algumas piadas durante seu caminho na busca pela vingança, mas nunca é o suficiente para soar como algo lúdico a ponto de convencer que o filme não se leva tão a sério. Isso porque há uma gritante urgência, por parte do filme, em tentar estabelecer vários detalhes no que parece um anseio em gerar uma franquia, se assimilando muito à “John Wick” e toda a ideia de Alta Cúpula dos filmes com Keanu Reeves, é inegável a semelhança. Contudo, falta primeiro à “Beekeeper – Rede de Vingança” ser um filme que se sustente por si só, porque há uma convulsão de ideias que inflam a narrativa de maneira completamente desnecessária. Um exemplo disso são antagonistas desperdiçados da maneira mais banal possível, como o embate inteiramente esquecível do personagem de Statham com a agente que a substituiu após a aposentadoria, ou o vilão de Taylor James que apesar da pequena participação, parece ser o que melhor entende o tom que o filme pedia. E o fato dele destoar, porque sua atuação, devido ao personagem, é a mais caricata, denota como os atores parecem estar até em filmes diferentes.
O tom de alguns personagens é incondizente com a narrativa, como a dupla de agentes do FBI interpretada por Emmy Raver-Lampman e Bobby Naderi, enquanto a primeira não consegue nem ser engraçada nem gerar a conexão emocional que o filme desejava, o segundo serve sempre como um bom alívio cômico. Jeremy Irons é puro canastrão em cena, enquanto Josh Hutcherson tem um personagem tão genérico que é até difícil culpar o ator pela apatia em cena. Contraponto do personagem de Hutcherson, quando Jemma Redgrave entra em cena então, a coisa fica risível de tão ridícula, e a atriz parece estar no papel de alguma figura política em um episódio aleatório de “Homeland”. Tudo isso incomoda porque tira atenção do que realmente se espera ou deseja do filme, que é Jason Statham protagonizando uma ação desenfreada, o que resulta em poucos momentos realmente cativantes e de boas lutas, que no fim das contas também são genéricas. O erro, talvez, tenha sido a abordagem, porque se havia a intenção de toda essa narrativa para tentar justificar os extremos que o protagonista chega, era melhor tê-lo colocado como essa figura misteriosa e coadjuvante, uma força da natureza, que conduzia o rumo da história dos outros personagens que já tanto tempo tomam de tela. No fim, sobra a violência gratuita de um personagem que tem uma motivação fula e zero personalidade para cativar ou empolgar o espectador.