“Asteroid City” (2023); Direção: Wes Anderson; Roteiro: Wes Anderson e Roman Coppola; Elenco: Jason Schwartzman, Scarlett Johansson, Tom Hanks, Jeffrey Wright, Tilda Swinton, Bryan Cranston, Edward Norton, Adrien Brody, Liev Schreiber, Hope Davis, Stephen Park, Rupert Friend, Maya Hawke, Steve Carell; Duração: 105 minutos; Gênero: Drama, Comédia; Produção: Wes Anderson, Steven Rales, Jeremy Dawson; País: Estados Unidos; Distribuição: Universal Pictures; Estreia no Brasil: 10 de Agosto de 2023;
Wes Anderson é o queridinho dos cinéfilos e grande nome do cinema “independente” há décadas, numa carreira que têm suas oscilações, mas sempre encontra alguma forma de arrebatar ao espectador. Essas oscilações, no entanto, são mais comuns quando nos lembramos que já faz uma década que “O Grande Hotel Budapeste”, seu filme de maior sucesso, foi lançado nos cinemas. Talvez por ser a produção mais renomada de sua carreia, Wes Anderson viva um tanto à sombra disso, preso entre tentar -ou ser obrigado a- replicar aquele sucesso e seguir numa nova jornada com seus filmes. Acontece que ele é também refém de seu estilo, porque fica preso esteticamente a expectativas do que já se viu antes. Não que seja um problema, pois, mesmo quando não se encontra nos seus melhores momentos, há ainda em seu cinema um quê de genialidade. E o aperfeiçoamento cada vez maior de suas escolhas técnicas desembocam numa realização tal qual seu novo filme, “Asteroid City”, um trabalho que se faz, talvez, o mais complexo de Wes Anderson, através de uma metalinguagem que conversa sobre diversos aspectos de seu cinema e, através disso, explora muito bem vários temas que tocam nos tantos personagens que habitam a narrativa aqui.
“Asteroid City” funciona entre dois espectros, que conversam entre si, numa pegada de metalinguagem que, em dados momentos, pode ser até um tanto confusa. Mas não é aí, no entanto, que reside a complexidade do filme. Essas idas e vindas dos atos e entreatos, quase como uma “peça-filme” parecem tecer um comentário sobre o cinema do próprio Wes Anderson, tanto seu estilo como suas narrativas e conforme suas conexões vão sendo reforçadas e refletidas, o filme vai ganhando vida para além das obviedades, recheado de uma contemplação que diz muito mais do que há à primeira vista. A enxurrada de personagens interpretados por nomes muito conhecidos, vários sem o desenvolvimento exato que mereciam e outros apenas como gostosas anedotas, são retratados por Wes Anderson com tremenda inspiração. Não são apenas suas já conhecidas marcas registradas, com cenários e figurinos que conversam por si só com o espectador, mas através de uma cinematografia que encontra novas inspirações para nos envolver, de forma que o cineasta olha para seus personagens/atores com tal carinho que percebemos estar diante de uma obra extremamente pessoal. Extravagâncias e ludismos à parte, há algo no âmago de “Asteroid City” que se sobressaí não sobre o restante, mas por causa dele!
Enquanto a musa de “Asteroid City” aparenta ser a Midge Campbell de Scarlett Johansson, aqui em um dos seus papéis mais divertidos, a realidade é que quem toma esse papel para si é o queridinho de Wes Anderson, seu “muso” Jason Schwartzman, não só por ser um dos colaboradores mais constantes do diretor, mas pelo que ele representa em todo o filme enquanto protagonista. Mas se seu personagem passa o filme observando aos outros, principalmente a personagem de Johansson, é ele que nós observamos. Até por isso o excesso de personagens subdesenvolvidos, alguns que pouco ou nada agregam e possivelmente até tornam o ritmo do filme um pouco mais arrastado do que devia ser, não influencia no todo e em como “Asteroid City” consegue ser efetivo quando precisa. Isso porque os pontos, quando conectados, jogam os holofotes sob Schwartzman, que conduz muito bem o filme com sua presença. No jogo de cena seu luto se torna arrebatador, e a confusão de todo aquele lugar parece fazer sentido, principalmente quando ele contracena com uma determinada atriz cuja participação é mínima, mas que faz toda a diferença. É ali que Wes Anderson se sobressaí em seu cinema, na forma como constrói e nos conduz até aquele exato momento.
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