“Alien: Romulus” (2024); Direção: Fede Álvarez; Roteiro: Fede Alvarez & Rodo Sayagues; Elenco: Cailee Spaeny, David Jonsson, Archie Renaux, Isabela Merced, Spike Fearn, Aileen Wu; Duração: 119 minutos; Gênero: Ficção Científica, Suspense, Terror; Produção: Ridley Scott, Michael Pruss, Walter Hill; País: Estados Unidos; Distribuição: 20th Century Studios Brasil; Estreia no Brasil: 15 de Agosto de 2024;
“Alien” é uma franquia que perdura já há quase meio século, mas entre sua primeira iteração e suas sequências existem alguns longos anos, assim como o retorno de Ridley Scott (“Napoleão”) para retomar a história, mais de uma década depois -se não levarmos em conta os filmes com o “Predador”. Nos anos 90 a história pareceu se encerrar mais de uma vez, primeiro com David Fincher, depois com Jean-Pierre Jeunet, mas tanto o alien como a Ellen Ripley de Sigourney Weaver sempre retornavam. Nos anos 2010, apenas o alien retorna, e acredito que continuaremos assim, mas agora com Scott apenas como produtor, dando as rédeas do filme para outra pessoa. Desta vez o responsável é Fede Álvarez, que também co-roteiriza “Alien: Romulus”. A história se passa entre os dois primeiros filmes, onde acompanhamos um grupo de 5 amigos e um androide que encontram uma nave à deriva e veem ali uma oportunidade de irem embora da colônia desoladora onde vivem, o que eles não esperavam é que havia algo mais além deles a bordo. Assim, somos introduzidos a novos sobreviventes na franquia, enquanto Álvarez tenta equilibrar entre o que é seu filme e as várias referências aos nomes que o antecederam.
Essas referências são algo que não apenas inundam “Alien: Romulus”, mas ativamente fazem parte da sua narrativa, desde a forma como ele se inicia, até uma participação surpreendente e questionável, aos moldes de “Rogue One”. São elementos que denotam uma preocupação grande demais em explicar isso ou aquilo, estabelecer relações não só com os outros filmes, mas com esse universo compartilhado que Ridley Scott tenta há anos fazer se fixar na franquia, com inúmeras citações ao conglomerado fictício Weyland-Yutani. Algo que parece engessar as tramas que Fede Álvarez deseja explorar com seu filme, porque tudo acaba sendo burocrático e batido demais. Entre estabelecer as relações emocionais e os conflitos pessoais, e a baboseira da franquia que não faz diferença, “Alien: Romulus” demora demais para engrenar e a “ação” de fato começar, onde se assemelha muito mais a um thriller de assalto do que um terror de sobrevivência, o problema é que o filme anseia em ser ambos por diferentes vezes, mas é pouco eficaz nessas tentativas, salvo momentos que Fede Álvarez nos oferece aquilo que seu cinema tem de melhor, com uma identidade visual singular e uma construção de clímax estasiante. Só que tais momentos vivem muito perdidos e dispersos uns dos outros durante o filme.
É evidente o quão conflitante “Alien: Romulus” é por si, simultaneamente uma homenagem, com afagos aos estilos e escolhas que outros cineastas empregaram à franquia -até mesmo as do quarto filme, que aqui podem se fazer bem divisivas-, bem como um refém dessa necessidade de existir não só com eles, mas para eles. É quase uma muleta, que impede que o filme de Álvarez tenha sua individualidade ressaltada. Ele não existe por si só, o que é uma pena, porque em seus grandes momentos encontramos ali o grande cineasta que é o uruguaio e sua aspiração como um grande mestre do horror/suspense. Ainda assim, dentro dos tropos já comuns neste universo, principalmente em relação ao protagonismo feminino, “Alien: Romulus” se sai muito bem, com Cailee Spaeny (“Priscilla”) se mostrando não só uma excelente final girl, mas uma atriz capaz de enfrentar qualquer desafio. O brio que Spaeny canaliza através de sua interpretação é o que move e sustenta o filme, o que o torna empolgante e, apesar de sua carismática parceria com o androide interpretado por David Jonsson, o filme no todo fica devendo e mesmo com todos os pontos que apresenta, falta uma funcionalidade para o que seria a catarse emocional do filme. O que falta é arriscar, é o cinema sem rédeas do ato final, que pode e vai ser considerado controverso e será divisivo, mas é exatamente esse frescor que a franquia, e o filme, necessita.