“AIR: A História Por Trás Do Logo” (“AIR”, 2023); Direção: Ben Affleck; Roteiro: Alex Convery; Elenco: Matt Damon, Ben Affleck, Jason Bateman, Marlon Wayans, Chris Messina, Chris Tucker, Viola Davis; Duração: 112 minutos; Gênero: Biografia, Comédia, Esporte; Produção: David Ellison, Jesse Sisgold, Jon Weinbach, Ben Affleck, Matt Damon, Madison Ainley, Jeff Robinov, Peter Guber, Jason Michael Berman; País: Estados Unidos; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 06 de Abril de 2023;
É muito legal ver Ben Affleck retornar à cadeira de diretor após tudo que passou em sua vida pessoal, uma figura tão reconhecida na indústria cinematográfica de Hollywood (e global), vencedor de 2 Oscars e que não assinava o comando de um filme desde 2016, com o decepcionante “A Lei da Noite”, que o próprio protagonizou. Algo ali já não parecia muito certo, havia um óbvio desalinhamento. 7 anos depois o Ben Affleck diretor volta às telas dos cinemas -também como estrela coadjuvante- com uma pegada um tanto diferente, mas que parece inspirada não só pela história que conta, mas pela ressurgência do próprio cineasta. De certa forma, “AIR: A História Por Trás Do Logo” acaba sendo um filme muito sincero, tanto pelo que representa como pelo que opta em omitir. Uma história de superação, do “underdog”, cuja ápice encontramos no sonho americano regado ao consumismo e capitalismo, virtudes fundamentais do estadunidense. Difícil esperar outra coisa da dupla de produtores Affleck e Matt Damon, sócios e amigos de longa, longa data. A química entre os dois, inclusive, influencia muito bem o filme. No imediatismo, a experiência é excepcional, regada a momentos que são realmente recheados de inspiração cinematográfica que, todavia, encontram alguns empecilhos.
É engraçado “AIR: A História Por Trás Do Logo” ser estrelado logo por Matt Damon porque é justamente outro filme protagonizado por ele que vem a memória sempre que possível, durante as quase duas horas de duração. O filme em questão é “Ford vs. Ferrari”, outra produção que parece sintetizar perfeitamente esse âmago capitalista do estadunidense, e como ele é conflitante com os anseios pessoais dessas figuras que protagonizam o filme. Se no filme de 2019, no entanto, Damon não conseguia reproduzir a emoção necessária para nos conectarmos ao filme -isso ficava a cargo de Christian Bale, aqui o ator recebe a ajuda necessária de seu amigo Ben Affleck, porque é justamente ele quem consegue ser o fio condutor emocional do filme. Juntos, os dois conseguem nos fazer sentir a empatia necessária pelo protagonista, melhor, nos conseguem quase fazer acreditar que suas atitudes são altruístas, realmente em prol do atleta lendário que estava surgindo ali e merecia um reconhecimento que não vinha recebendo. Influencia também nesse quesito as participações pontuais de Viola Davis (“A Mulher Rei”), uma coadjuvante de luxo, que com pouco tempo em cena causa um impacto tremendo. Contudo, também deixa evidente como falta mais desse ponto vista e, de fato, dessa versão de quem realmente é o protagonista da história.
A forma como Ben Affleck opta por tratar Michael Jordan em “AIR: A História Por Trás Do Logo” é compreensível, ao mesmo tempo que contraditória. O personagem vira coadjuvante de sua própria história, assim, brancos em uma sala são responsáveis pela revolução de uma marca, enquanto ao mesmo tempo é uma maneira de respeitar uma das maiores lendas do esporte, isso no quesito técnico do filme. Narrativamente há pouco espaço para isso. São alguns desses destaques técnicos esporádicos que não somente tornam, por vezes, o filme em algo bonito de se assistir -alguns planos e contraplanos de diálogos fogem do que estamos acostumados em enlatados estadunidenses, e que refletem também o controle de Affleck sobre o todo. O filme funciona muito por conta de uma graciosidade de seu elenco, bem carismático em cena, e do ritmo que faz o tempo passar sem que seja sentido. Narrativamente, o arco dramático surte todo o efeito necessário, e por isso é importante que Matt Damon entregue aqui uma boa atuação, só assim a catarse emocional do filme consegue ter o impacto que é necessário. No entanto, “AIR: A História Por Trás Do Logo” termina com um gosto agridoce, principalmente pelas coisas que diz nas entrelinhas. Se a canção de Bruce Springsteen nos ensina algo, se a história do personagem de Jason Bateman e sua filha reflete isso, o que fica no fim de uma história inspiradora é que ela é só possível por conta de uma marca. Funciona, mas é uma inspiração artificial. Ainda assim, Ben Affleck opta por tratar ela com uma verdade plena…
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