Desde que estrelou “Yellowjackets” é sempre interessante acompanhar as escolhas que Sophie Thatcher fará em sua carreira, mais recentemente tendo sido um dos pontos altos em “Herege”, contracenando com Hugh Grant, se mostrando não apenas promissora, mas pronta para desafios maiores. “Acompanhante Perfeita” tem a chance de ser esse filme, na história que ela protagoniza como Iris, uma robô (androide?) cuja função é ser uma parceira romântica. Seu “dono”, Josh (Jack Quaid), a leva para uma viagem com amigos, numa cabana afastada do resto da civilização, onde o grupo terá uma experiência muito diferente daquelas férias que imaginaram. É uma premissa bastante simples porque serve apenas como pano de fundo para Drew Hancock, diretor e roteirista do filme, explorar algumas das ideias que deseja, e trabalhar uma subversão de diferentes gêneros cinematográficos, mesclando principalmente comédia romântica ao terror e tentando equilibrar o tom entre ambos enquanto acredita desconstruir diversas concepções sobre esses estilos e debater sobre relacionamentos tóxicos. O problema é que essa confiança em ser capaz de subverter qualquer coisa torna “Acompanhante Perfeita” na vítima de suas próprias ideias.

Apesar de alguns pontos positivos, principalmente o visual “retrofuturista” do filme, “Acompanhante Perfeita” é bem escasso de conteúdo em praticamente todas as frentes a que se propõe, e ainda sofre de uma verborragia surpreendentemente negativa ao ser tão expositivo e extremamente didático até nos mais simples detalhes, ainda mais para um filme de apenas 90 minutos. Não existem mistérios ou qualquer suspense, é tudo entregue e devidamente explicado da maneira mais incessante possível, como se em algum momento o filme fosse inteligente demais para qualquer pessoa acompanhar, o que ocorre é o contrário. Ao revelar o que podiam ser seus segredos de forma tão precoce na narrativa, Drew Hancock tem outros desafios que são mais práticos e decaem sobre a execução e a condução do filme através desses gêneros, tarefa na qual ele falha por completo, sem ser capaz de gerar gatilhos que surtam algum efeito no espectador, sendo obrigado a se contentar com alívios cômicos que também não são tão inteligentes ou inventivos assim, mesmo a gag com o saca rolhas deixa a desejar, mesmo que tenha alguma recompensa ao final.

Com exceção de Sophie Thatcher, que é capaz de conduzir o que há de bom em “Acompanhante Perfeita”, ou de Harvey Guillén que arranca duas ou três boas piadas, o elenco todo deixar a desejar, muito por escolhas equivocadas de Drew Hancock, que faz do personagem de Rupert Friend uma completa caricatura, mas ainda que esse seja o desejo é estranho porque Friend parece um tremendo miscast. Lukas Gage é um estereótipo ambulante e cheio de exageros, assim como Megan Suri. O que menos funciona, no entanto, é Jack Quaid, completamente sem carisma e nas mesmas notas de tudo que já fez antes, sendo incapaz de gerar um antagonista à altura de Thatcher, sendo que ela, mesmo que o roteiro não ajude, ainda consegue demonstrar que se esforçou. “Acompanhante Perfeita” precisava que muita coisa funcionasse e que realmente fosse inteligente, com algum diferencial, para se tornar um filme palatável, no mais é só uma repetição de temas e ideias já desgastadas e executadas de maneira mais bem sucedida, tanto no cinema como na televisão, no fim chegando a ser irritante a forma como trata o público com tamanha condescendência.

“Acompanhante Perfeita” – Trailer Legendado:

“Acompanhante Perfeita” (“Companion”, 2025); Direção: Drew Hancock; Roteiro:Drew Hancock; Elenco: Sophie Thatcher, Jack Quaid, Lukas Gage, Megan Suri, Harvey Guillén, Rupert Friend; Duração: 97 minutos; Gênero: Comédia, Ficção Científica, Terror; Produção: Zach Cregger, Roy Lee, Raphael Margules, J. D. Lifshitz; País: Estados Unidos; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 06 de Fevereiro de 2025;