Mike Flanagan é reconhecido por suas adaptações de horror, seja para o cinema ou streaming, fazendo muito sucesso com minisséries na Netflix, sendo que seu projeto mais ambicioso foi provavelmente uma adaptação de Stephen King, o filme “Doutor Sono”, continuação de “O Iluminado”. Nada ali era uma tarefa fácil e talvez a experiência tenha afetado Flanagan de alguma forma, que só retorna aos cinemas 5 anos depois, com mais uma adaptação de King, contudo, desta vez numa obra e projeto que são muito mais introspectivos, seja no conteúdo do material ou no escopo do filme, que é bem mais singelo e contido. Em “A Vida de Chuck” fica de lado o horror e o suspense, e entra em ação o mistério em relação ao que ocorre no mundo, onde começamos acompanhando o cotidiano de um professor, Marty Anderson (Chiwetel Ejiofor), que aos poucos passa a deixar de fazer sentido enquanto desastres naturais se fazem cada vez mais comuns, a internet deixa de funcionar e estranhas mensagens de despedidas, por 39 anos de serviços prestados, para um tal de Chuck (Tom Hiddleston) começam a aparecer de um lado a outro e até mesmo nas transmissões da televisão. Quem é Chuck e o que sua vida tem a ver com os outros?
Mike Flanagan conta essa jornada de uma maneira que tenta guardar surpresas, mas que tem como ferramenta principal o melodrama, se tornando praticamente um dramalhão com o tom que assume. A todo o momento “A Vida de Chuck” tem essa pegada melancólica que parece querer fazer com que o espectador se debulhe em lágrimas, só que é tudo a partir de um sentimentalismo barato, a cada novo capítulo mais piegas ainda, numa embalagem que se assemelha a um metafórico “comercial de margarina”. Esteticamente o filme sofre com isso, porque apesar de em parte a artificialidade de seu mundo fazer sentido, ao passo que se estende para todo o filme, é prejudicial, principalmente porque diminui a força que as diferentes revelações podiam exercer, nesse lugar que Flanagan construiu, onde tudo parece um palco, todo e qualquer sentimento soa falso, artificial, independentemente de sua sensibilidade para contar a história de um ou outro personagem, seu impacto é efêmero, sua força se esvai com uma fragilidade tal qual a das ruas ou lugares aos quais somos introduzidos no filme. Esse Universo é muito capenga para sustentar qualquer sentimento verídico, assim, Flanagan precisa apelar a um discurso bastante genérico e extremamente redundante, a ponto de ser irritante, numa lenga-lenga demasiadamente melosa e que vai do nada a lugar nenhum numa quase lição de moral com arremedos óbvios e para lá de banais.
“A Vida de Chuck” – Trailer Legendado:
“A Vida de Chuck” (“The Life of Chuck”, 2024); Direção: Mike Flanagan; Roteiro: Mike Flanagan; Elenco: Tom Hiddleston, Chiwetel Ejiofor, Karen Gillan, Mia Sara, Carl Lumbly, Benjamin Pajak, Matthew Lillard, Jacob Tremblay, Mark Hamill; Duração: 111 minutos; Gênero: Drama, Fantasia; Produção: Mike Flanagan, Trevor Macy; País: Estados Unidos; Distribuição: Diamond Films; Estreia no Brasil: 28 de Agosto de 2025;