Acompanho o Oscar desde os meus 10 anos, no início não entendia muito bem a diferença disso ou daquilo, achava bapho todo o glamour, lindos vestidos, todo o brilho que uma festa de Oscar pode oferecer, com o passar do tempo e sempre motivada pelos filmes, a curiosidade de entender acabou surgindo naturalmente e fui podendo aplaudir e compreender o significado de cada categoria, e principalmente a importância dos trabalhos indicados.
A cada ano temos a missão de tentar ver todas as produções indicadas, o que nunca dá certo.
Mas nessa tentativa de conseguir ver todos os filmes, pelo menos comigo, acontece o fenômeno de ser tocada por alguma categoria específica, e este ano a categoria de curta-metragem de documentário roubou meu coração e sono. A complexidade e importância de cada assunto abordado, me trouxe algumas noites de insônia. Os indicados desse ano são:
– Joe’s Violin – Direção: Kahane Cooperman, Raphaela Neihausen
– Os Capacetes Brancos – Direção: Orlando von Einsiedel
– Watani: My Homeland – Direção: Marcel Mettelsiefen
– 4.1 Miles – Direção: Daphne Matziaraki
– Extremis – Direção: Dan Krauss
Fiz uma ordem cronológica dos curtas, que me ajudou a perceber a relação entre os curtas.
1° Em “Joe´s Violin” narra a história de sobrevivente do Holocausto de 91 anos de idade que perdeu familiares em campos de concentração, e encontrou um pouco de conforto ao tocar violino. As marcas em seu corpo permanecem como memórias vivas de um passado cruel, que não é muito longe do que vivenciamos hoje.
2° “Os Capacetes Brancos” mostra equipes de resgate que colocam suas vidas em risco para civis afetados pela guerra em Aleppo, Síria e na Turquia no início de 2016. Guerra que a cada dia se intensifica ainda mais, podemos ver em noticiários, que milhares de vidas são perdidas tanto em combate ou na tentativa das pessoas de se refugiarem para os outros países, elas acabam morrendo em um trajeto e transporte nada seguros.
3° “Watani: My Homeland” bravamente acompanha uma família da cidade de Aleppo, Síria, que se refugia na Alemanha, na tentativa de fazer uma nova vida.
4º “4.1 Miles” é mais um curta-metragem que mostra refugiados sendo ignorados, e morrendo a caminho da Ilha de Lesbos, Grécia.
5º “Extremis” sai do cenário de guerra, e entra na sala UTI’s, onde pacientes terminais e seus familiares precisam tomar a difícil decisão de desligar ou não os aparelhos.
Entre os 4 primeiros curtas citados, o cenário de guerra é evidente, o desespero das pessoas prende nossa respiração e nos angustia ainda mais porque sabemos que aquela história não terminará com os desenhos da Disney. A crise em relação aos refugiados mostra o quanto estamos despreparados para lidar com o mundo real. E em “Extremis” me fez pensar que estamos tão vegetais, que será conseguiremos respirar sem aparelhos?
Toda essa reflexão, eu senti o impacto depois de ver a produção dos curta-metragem de documentário, fiquei pensando que criamos mundos paralelos e acabamos nos isolando…E aí entra a importância de aplaudirmos essa categoria dita como “secundária”.
E a boa notícia é que quase todos estão muito acessíveis esse ano, “Os Capacetes Brancos” e “Extremis” são produções originais Netflix. “Joe´s Violin” é uma produção do jornal The New Yorker, e está disponível na página no jornal. “4.1 Miles” também produzido por um jornal, o The New York Times, também se encontra na página do jornal. Já “ Watani: My Homeland” é o mais difícil para encontrar, só em festivais ou torrent.
Uma legítima #MaratonaOscar também é assistir curta-metragem, e saber a importância que o cinema tem em seu papel social de informação, quebrar preconceitos, estereótipos. Acredito que o arte cinematográfica pode unir as pessoas e nos levar a respirar sem aparelhos.