Andrzej Wajda foi um diretor de cinema polonês que contribuiu fortemente para a constatação política de seu país, com filmes dominantemente de cunho político e histórico, visando desde a independência dos soviéticos (trilogia da guerra: Geração (1955), Kanal (1957) e Cinzas e Diamante (1958), passando pela Revolução Francesa retratada em Danton – O Processo da Revolução (1983), até chegar em filmes extremamente autorais, que alcançaram o auge de seu cinema, como Katyn (2007), contando o massacre dos oficiais poloneses, inclusive de seu pai e Doce Perfume (2009) com seu minimalismo refletido no luto mais verdadeiro e profundo, mostrando a indagação de dor da morte e a insuficiência de recobrir o sofrimento através da arte. Walesa (2013), forma o último filme da trilogia da solidariedade, composta também pelas grandes obras-primas O Homem de Mármore (1977) e O Homem de Ferro (1981), mostrando a crise do socialismo com a abertura à censura soviética, retratando o desgosto por estes. Além disso, deixou obras importantes que não tiveram tanto reconhecimento, como Samson (1961), um ensaio sobre o terror do holocausto polonês de forma documental ao mesmo tempo que fictícia, abandonando o estilo exuberante e retratando o crime da existência, utilizando como pano de fundo a lenda de Sansão.
O último filme deixado por Wajda é Afterimage, estreado no Festival de Toronto um mês antes de sua morte, contará a biografia de Wladyslaw Strzeminski, artista vanguardista que lutou contra o stalinismo. Diretor premiado em Cannes, Oscar, César, Berlim, Veneza e outros festivais, agora recebe uma belíssima homenagem na 40ª Mostra Internacional de Cinema, com grande parte de suas obras sendo exibidas e faz-se totalmente necessárias, podendo constatar que Wajda foi o último dos grandes cineastas poloneses que marcaram uma geração histórica e política.
Infelizmente, veio a falecer este ano logo após ser anunciado como merecedor do prêmio Humanidade da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, reservado a cineastas cujo trabalho contempla temas políticos e sociais, além de apresentar uma retrospectiva com os principais filmes de sua carreira. A oportunidade de rever os filmes do cineasta na telona reafirma seu legado e mostra o quão atual e urgente ainda permanece. Wadja morreu, porém permanece eterno. E são oportunidades como esta que mostram como o Cinema imortaliza aqueles que o abraçam.
Muito obrigado, Wadja. Até breve.