
Executivos da Universal Pictures quebraram a cabeça tentando construir um universo compartilhado com monstros clássicos de sua história, com direito ao anúncio de um “Dark Universe” que caiu nas graças do público, pelos motivos errados. Nada deu certo, e tudo foi pelos ares, até que, em 2020, chegou aos cinemas “O Homem Invisível”. Protagonizado por Elisabeth Moss, a atriz do momento naquela época, e comandado por um diretor pouco conhecido, o impacto do filme foi imediato e parecia sugerir um novo caminho a ser seguido para esses personagens clássicos, só teve um porém: o coronavírus. O filme dirigido por Leigh Whannell foi um dos últimos lançamentos nos cinemas antes do mundo virar de cabeça para baixo -inclusive, foi o último filme que vi antes de ficar mais de um ano sem ir ao cinema-, assim, a euforia por esse universo arrefeceu, e cinco anos depois chega aos cinemas pelas mãos de Whannell mais uma releitura solo de outro personagem clássico. A criatura da vez é “Lobisomem” e, francamente, se eu ficaria decepcionado se “O Homem Invisível” fosse o último filme que visse no cinema, esta nova empreitada do cineasta me faria ficar mais do que satisfeito com a hipótese anterior.
“Lobisomem” tenta adaptar para o contemporâneo o folclore dessa figura que é vastamente conhecida e inserir numa história que desenvolve um drama familiar sobre um jovem casal em crise que quer se reconectar principalmente em prol de sua filha. Leigh Whannell usa toda uma roupagem de terror como metáfora para um relacionamento problemático, só que não há nenhum mistério, é tudo tão óbvio quanto os elementos circulares da narrativa, que desde o primeiro momento estão presentes ali da maneira mais didática possível. É uma repetição tão maçante que empobrece o filme e parece tratar o espectador como um total ingênuo, não chega a ser desrespeitoso, mas é irritante. O pior de tudo é como essa narrativa, mesmo em toda sua simplicidade e obviedade, nunca se faz efetiva no nível que precisa, porque nada em “Lobisomem” colabora para isso. É resultado da pouca inspiração que parece permear o filme todo, desde a premissa iniciada no prólogo até o relacionamento central, porque é tudo muito raso e pautado em cima dessas repetições que são regurgitadas como uma tentativa de fixar gatilhos que possam desencadear alguma reação do público. Só que tudo é fajuto, é vazio e não oferece qualquer peso que influencie na experiência.
Se textualmente “Lobisomem” é bastante simplório, visualmente não fica longe disso. Com poucos personagens em sua narrativa, o filme também se desenrola todo em poucos cenários, num vai e vem na casa de infância onde o personagem de Christopher Abbott cresceu. Mesmo tendo tão poucos cenários, falta ao filme uma inventividade para explorá-lo e acaba tornando-se algo enfadonho. Em nenhuma instância durante seu decorrer, seja dentro ou fora da casa, o filme é capaz de desenvolver um cenário de tensão que utilize o que tem à sua disposição. Essa subutilização é vista também com o elenco, onde tanto Abbott como Julia Garner ficam à deriva de um roteiro e uma direção que apelam apenas à redundância e nada mais. Nem química o casal tem em cena, o que faria sentido se o filme quisesse explorar esse desencontro no relacionamento dos personagens, só que a resolução que pouco se interessa por isso mostra que é mais outro elemento do filme que deixa a desejar. Por fim, o visual da mítica criatura interpretada por Abbott decepciona porque quer se ater demais a um realismo que se escora em body horror como desculpa para algo que, mais uma vez, é bem pouco criativo, decisão que faz ainda menos sentido levando em conta ao ponto de vista que nos é introduzido. Aquilo que devia ser o mais marcante é completamente esquecível, ainda mais se tratando de um filme intitulado “Lobisomem”.
“Lobisomem” – Trailer Legendado:
“Lobisomem” (“Wolf Man”, 2025); Direção: Leigh Whannell; Roteiro: Leigh Whannell & Corbett Tuck; Elenco: Christopher Abbott, Julia Garner, Matilda Firth, Sam Jaeger; Duração: 103 minutos; Gênero: Drama, Suspense, Terror; Produção: Jason Blum; País: Estados Unidos; Distribuição: Universal Pictures; Estreia no Brasil: 16 de Janeiro de 2025;
Estava há muito tempo aguardando novas produções sobre a temática “Lobisomem”. Fui assistir na estréia sem nem ver o trailer, pq eu pensava que não seria necessário. Se tivessem feito o básico sobre o folclore, ainda que na atualidade… seria minimamente interessante. Concordo com todos os pontos levantados e a sensação que eu acrescento é que é uma narrativa que sai do “nada” e termina em “lugar nenhum”, infelizmente.
Elenco inexpressivo e sem conectividade com o público. Fico com a versão de 2010, com Benicio del Toro.