Mais um ano que o site tem a honra de cobrir o Festival de Cinema do Rio, sentimento maior pra mim por ser a primeiro cobertura de um festival de tal porte. Consegui, ao todo, conferir 10 títulos dos mais variados possíveis, foi um ano bom, sendo provável ter visto algum dos melhores títulos deste ano. Minhas considerações logo abaixo:
1) God Help the Girl (2014):
Assim como “Across the Universe (2007)” tenta construir uma narrativa delinear na junção de inúmeros videoclipes que compõem o enredo. Contudo, o principal problema é justamente poucos momentos funcionarem realmente, com um ritmo arrastado e duração excessiva, além de apáticos personagens principais, muito pouco carismáticos. Ainda assim, alguma de suas canções são transpostas de forma bem sucedida, proporcionando, mesmo que remotamente, sentimento ao espectador.
Cotação: 2/5
2) Ida (2014):
Reconstitui de forma sensível e dolorosa a Polônia em meio de sua reconstrução após a segunda guerra mundial, com marcas pulsantes ainda, influenciando muito na busca pela fé por parte da população, a fim de reconforto e amadurecimento para esquecer um passado tão obscuro e no qual todos anseiam esquecer.
Eis que a jovem Ida (Agata Trzebuchowska) reencontrar seu passado, representado por sua tia Wanda (Agata Kulezca), única familiar viva, iniciando assim uma odisseia de auto-descobrimento e maturidade, expondo feridas de um dos episódios mais sofríveis da história da humanidade. Fotografia preto-e-branco sufocante, na mesma medida que deslumbra, completando com atuações soberbas de uma estreante e outra veterana.
Cotação: 5/5
3) Frank (2014):
Convencional é uma característica que passa longe desse longa, chegando até a ser bizarro, sem beirar ao tédio. Mesmo agregando pouco ao espectador, não são 90 minutos jogados fora, tornando uma experiência muito divertida e, no mínimo, inusitada, reafirmando, sobretudo, o potencial do cinema independente.
Não deixa de ser um tapa na cara do cinema comercial, cada vez mais convencional e repetitivo.
Cotação: 2,5/3
4) Garota Exemplar (2014):
Talvez o melhor longa do diretor David Fincher, sendo um estudo analítico da banalização do amor nos dias modernos, das relações destrutivas e superficiais, da mídia manipulativa e corrosiva junto a uma sociedade conservadora com dogmas reacionários, além da inverso do mais sincero e puro amor em um latente ódio capaz de barbaridades. Enfim, não falta temática e debates propostos num dos longas mais intrigantes dos últimos anos, transbordando suspense e arrancando fôlego do espectador, contando ainda com uma performance sobrenatural de Rosamund Pike.
Cotação: 4,5/5
5) Mil Vezes Boa Noite (2014):
Ter a oportunidade de ver Juliette Binoche no cinema sempre é uma boa pedida, porém é uma pena em um filme tão arrastado e convencional. Sua fotografia serve de instrumento de comunicação entre o público, mas falta ousadia de todas as partes, beirando ao repetitivo e gerando até tédio, sem momentos memoráveis. Nem Binoche salva do marasmo, o que não deixa de ser lamentável.
Cotação: 1,5/5
6) Boyhood- da infância à juventude (2014):
Talvez a maior e mais ousada experiência cinematográfica desde A Árvore da Vida (2011) , tendo como mérito apresentar temáticas universais de fácil identificação, conquistando empática do espectador sem grandes esforços.
Entretanto, o maior defeito decai justo em seu protagonista apático, há uma fácil identificação com a etapas transcorridas por ele, porém sem um elo maior por parte do personagem, limitando seu potencial e permitindo o tédio predominar em momentos importantes e de grandes ápices.
Mesmo assim, não deixa de ser um filme singelo, despretensioso e original, uma ode à vida e toda sua grandeza, mesmo com seus percalços, ela não deixa de ser tremenda e bela.
Cotação: 4/5
7) Matar um Homem (2014):
Um filme bem politizado e humanista, retratando a burocratização e ausência do Estado chileno em meio ao processo de redemocratização, sendo o auge da direita chegando ao poder por vias democráticas. Em paralelo, temos a sociedade chilena em meio a banalização da violência e dos descasos públicos, beirando a barbárie sem precedentes, tornando uma luta pela sobrevivência do trabalhador médio.
O mais interessante é a reflexão de como um Estado nefasto nada mais é que o retrato de uma sociedade decadente e banal, tornando até os homens mais virtuosos em animais irracionais.
Cotação: 3,5/5
8) Mapa para as Estrelas (2014):
David Cronenberg nunca foi um diretor para todos os grandes públicos, ainda mais nessa sua fase onde metralha tudo e a todos que o contém seu repúdio. Depois de atacar o sistema financeiro com Cosmópolis (2012), Cronenberg mira na indústria cinematográfica, a mesma limitadora da qualidade dos projetos em detrimento de lucro.
É divertido de se ver como o diretor abusa de forma irônica de todos os tiques e clichês do cinema hollywoodiano, porém apresentando sentimento genuíno e original, numa sátira fria, sórdida e agressiva, demonstrando todo repúdio ao show de horrores e exageros que é o cinema comercial, apresentado papel danoso para sociedade como referência cultural. O mais chamativo são suas atuações soberbas, uma Julianne Moore renascida, uma Mia Wasikowska reafirmando-se como promissora, Eva Bird estreando muito bem e ainda John Cusack em seu melhor momento desde muito tempo.
Cotação: 4/5
9) Homens, Mulheres e Filhos (2014):
Pode muito bem ser considerado um prelúdio ao excelente “Ela (2013)”, retratando as relações cada vez mais frígidas entre pessoas no mundo moderno, afetando casais e também pais e filhos. O principal defeito é a falta de dinâmica entre seus personagens, pouco construídos, alguns inclusive mostram até potencial, mas não são aproveitados. O roteiro de Jason Reitman apresenta o típico humor negro, recheado com ironias, porém carece de uma ousadia a fim de propor debates mais contundentes e não meramente superficiais, principalmente na relação entre homem e tecnologia, uma guerra praticamente perdida para o primeiro. Ainda assim, não deixa de ser um longa despretensioso, sensível e agradável, mesmo com seus defeitos. OBS: Olho em Ansel Elgort, ator jovem com potencial promissor. A conferir
Cotação: 3/5
10) Mr.Turner (2014):
O que fazer quando nos deparamos com um filme, aparentemente, impecável? Nos render ou procurar defeitos? Pois bem, Mr.Turner até pode ser longo e, possivelmente, desinteressante pra uma grande parcela do público, além de apresentar um personagem deveras controverso, o porém entretanto é que isso pouco importa aos amantes de um cinema de arte soberbo.
Sem dúvidas, é um longa sensível, delicado e muito emocionante, apresentando a visão de mundo tão particular de uma figura bastante fascinante, sob as mãos abeis e competentes de Mike Leigh, diretor que expõe beleza mesmo em meio a melancolia. O filme conta também com uma atuação carismática e sobrenatural de Timothy Spall, com uma participação iluminada de Lesley Manville e qualidades técnicas louváveis, aumentando a imersão e tornando a experiência engrandecedora, sobretudo emocionante. Para ver, sentir e aplaudir, pelo menos.
Cotação: 5/5