A convite da Downtown Filmes e da Espaço-Z, eu fiz uma entrevista exclusiva com a atriz Samantha Schmütz e com o diretor Pedro Antônio pelo filme “Tô Ryca”, que chegou essa semana aos cinemas!

Aliás, a minha crítica já está no ar e você pode encontrá-la aqui.

Sem mais, vamos para o que interessa: as entrevistas!

Samantha Schmütz (Selminha)
samantha
Foto: Agência Febre

Samantha, como foi que o “Tô Ryca” chegou até você?

A Mayra Lucas, produtora, me chamou e falou da ideia que ela tinha de fazer um filme com base num conto do início do século passado e que já foi montado algumas vez. Em Hollywood, o conto se transformou no “Chuva de Milhões”, de 1985 com o Richard Pryor. Depois chamamos o Fil Braz, roteirista dos meus programas e dos do Paulo Gustavo, que deu uma abrasileirada total e, por fim, chamamos Pedro Antonio, que já tinha dirigido meus programas no Multishow, e tivemos uma parceria muito assertiva.

Você é muito reconhecida pelos seus trabalhos na televisão, como o “Vai Que Cola?” e o “Zorra Total”. Como é, agora, ser protagonista de um filme nos cinemas?

Então, eu já fiz várias participações em filmes como o “Minha Mãe é uma Peça”, o “Doidas e Santas” – que ainda vai estrear -, fiz, também, um filme da Xuxa – que foi meu primeiro. Mas é muito importante para mim esse momento. Fazer a protagonista no cinema, acho que é uma consagração e um momento de colheita de tudo que já fiz na vida.

No “Tô Ryca” há alguns momentos mais dramáticos, você acha que essas cenas são mais difíceis de fazer?

Eu me formei como atriz e, ainda que eu use mais da comédia, tenho toda a técnica e todas as ferramentas para passear em todos os gêneros, então não vejo isso como uma dificuldade.

E os teus futuros projetos? E o Vai que Cola?

Estamos terminando de gravar a temporada do “Vai que Cola?” que estreia 7 de outubro. Eu estou montando um show cantando, o Samantha Canta, que até teve participação do Criolo em um especial que fiz da Elis Regina. Estou escrevendo, também, a segunda temporada do meu desenho animado “Juninho Play e Família”.

Tô bem preenchida até o final do ano!

Ah que ótimo, estamos aguardando para poder assistir

Por favor!

E, para finalizar, a pergunta que não quer calar: o que você, Samantha, faria no lugar de Selminha com 30 milhões em 30 dias?

Eu acho que eu alugaria um avião e sairia com os amigos pelo mundo, passeando por lugares bem bacanas para gente se divertir!

Então, Samantha, muito obrigado pela entrevista, sucesso para você e para o filme!

Muito obrigada, querido!

Pedro Antonio (Diretor)

pedro
Foto: Agência Febre | Pedro Antonio e Fil Braz

Pedro, você veio de produções para TV como “Os Buchas” e “Não Tá Fácil Para Ninguém”. Agora, no cinema, quais as diferenças em linguagem e em técnica que você encontra em comparação entre os dois formatos.

Na verdade, eu sou de uma família de cinema. O cinema sempre esteve muito presente na minha vida. Eu comecei na televisão e já fiz mais de 20 trabalhos. A TV te dá um pouco do exercício da direção; ela te coloca num lugar de domínio do set e da pressão das filmagens. Eu já podia ter entrado até antes no cinema, mas eu me preocupei em estar preparado para fazer um filme, pois acho que quando se faz um longa metragem, com início, meio e fim; com uma hora e quarenta de duração; para uma sala fechada com público, acaba que você precisar esta num lugar em que possua uma estrutura técnica, psicológica e intelectual para conduzir o processo.

Acho que a televisão é uma forma menos radical de iniciar o processo de direção, ainda que seja um processo muito difícil começar em um veículo de comunicação de grande massa, porque você está ali trabalhando com uma audiência e com demandas muito especificas condicionadas ao canal. No cinema, não há esse compromisso efetivo, há uma diferença técnica, pois no cinema você pode ampliar suas possibilidades de filmagem, uma vez que você tem mais estrutura para filmar; há uma diferença artística, pois, na TV, é preciso estar alinhado ao perfil artístico do canal – no cinema, por outro lado, você está preso ao gênero do filme, a menos que seja um filme de arte; e do ponto de vista intelectual o que ajuda muito ter começado na TV é que eu tenho muita troca com atores e consigo chegar fortalecido no cinema.

O desafio desse filme, para mim, era fazer um filme de comédia que não fosse tão mais do mesmo do que vem sendo feito, apesar do plot recorrente do pobre ficando rico.

Pegando o teu gancho, no filme nós temos algumas questões políticas. Quando você estava fazendo o “Tô Ryca”, imaginava que o longa chegaria às telas em um momento tão conturbado do nosso país?

Então, a personagem Selminha é uma frentista de posto que é pobre. Ela é muito real. Há frentista em São Paulo, Porto Alegre, tem em todos os lugares. O objetivo era desenvolver essa personagem com uma verborragia, com uma visão consciente e critica do mundo que, quando ela fosse viver essa ilusão de cinema de ficar rica de uma hora para outra, ela conseguisse colocar na riqueza e, depois, na política, a visão de mundo dela. Aí há esse lugar que eu chamo das felizes coincidências. O Brasil é um país constantemente em crise. Acho que nesse momento político que estamos vivendo, o filme vem a calhar: políticos falando da família, enquanto a Selminha vem do povo e quer o melhor para o povo. Acho que ela traduz um pouco do infortúnio que é ser um pobre no Brasil, mas ao mesmo tempo mostrando o que é ser um cidadão ativo. É muito interessante que o filme consiga estar dialogando com esse Brasil, esse era o nosso objetivo.

Falando um pouco mais sobre a produção do “To Ryca”, como o projeto chegou até você?

Então, a história do filme é inspirada num conto americano chamado “The Brewster’s Millions”, que é a história de um tio que resolve deixar uma herança de 100 milhões de dólares pro sobrinho que terá de gastar 1 milhão por dia. Inclusive, já ocorreram outras adaptações para o cinema americano, como o “Chuva de Milhões” com o Richard Pryor. Quando a Mayra Lucas (produtora) chegou com a ideia para mim, eu disse: ué? isso aí é o “Chuva de Milhões”! Ela falou que era. Daí eu disse que só faria se esse fosse um filme brasileiro, um filme real, com questões nacionais, crível, possível, não tão caricato. A produtora disse que estava chamando o Fil Braz, que eu ja conhecia e que já estava trabalhando com a Samantha, aí eu vi que havia uma vontade de todo mundo de fazer uma comedia que, apesar de partir de uma premissa não tão original, eu achei que era possível fazer um filme diferente, a começar por uma protagonista mulher, negra, baixinha, brasileira de cabelo sarará. Ali eu já achei uma mistura boa, a qual me agradava.

A proposta veio e eu achei que já estava preparado tecnicamente como diretor para assumir essa responsabilidade, tanto que eu não me senti, em momento algum, desafiado tecnicamente. Me senti muito preparado e isso foi muito bom. Eu me senti muito bem com a galera que participou do filme. Eu acredito muito em cinema, também, quando se está num grupo de pessoas que quer fazer a mesma coisa. E, no fim, eu não estava errado na escolha, pois tanto no processo criativo, quanto na parte de estruturar o roteiro, passando pelas filmagens e pela edição; tudo foi sempre muito legal e eu sempre tive muita autonomia. Isso foi muito gratificante para mim.

E já que você falou na questão de autonomia e de desafio, vou te fazer uma pergunta um pouco mais pessoal, sobre a comédia no brasil. Temos uma indústria de comédia muito aquecida no país, você vê como um desafio fazer comédia frente a um mercado tão grande?

O Brasil tem uma tradição teatral e circense da comédia, não só os palhaços do circo como também a tradição dos palcos do Procópio Ferreira, depois no próprio cinema da Atlântida, Oscarito, Grande Otelo, passando pela televisão brasileira, Dercy, Chico Anysio. O ator-comediante brasileiro tem uma comunicação muito grande com o público, sempre teve. No cinema, não pode ser diferente.

As comédias brasileiras ganharam o mercado e muitas foram feitas, mas nem todas elas estão no mesmo lugar. Atualmente, acho que a comédia precisa de uma renovação cinematográfica e de discurso, porque, acho que o próprio público está mais crítico. E falo isso em contradição com o próprio filme que eu fiz, visto que a primeira impressão é que Tô Ryca é mais do mesmo. E o nosso desafio era contradizer isso, era dar para o espectador um a mais que o próprio espectador já vai achando que não existe.

E a comédia brasileira também vive hoje nesse lugar do “o que temos de novo, engraçado e interessante que vale a pena rir, vale a pena ver?”. Quando se produz muito, sempre nascem talentos, não acho que é o excesso da produção que seja o problema. Acho que a comédia brasileira é a própria obra em si: quanto mais filmes legais existirem, mais diretores entrarão nessa onda e novos projetos surgirão. Vamos supor que saia um novo filme de terror brasileiro e que esse filme exploda. Vão surgir vários outros filmes de terror em função do sucesso desse primeiro de longa de terror. O 19º filme do gênero feito depois deste, pode vir a ser muito bom, o problema que entre o 1º e 19º podem ter uns 10 que não sejam tão bons. Então, como é que você renova o olhar do gênero? Como se constrói um boa obra? Esse é o nosso desafio. A questão não é ter muita comédia, mas qual a qualidade dessa comédia; o quê essa comédia está trazendo de bom e de divertido.

No caso do “Tô Ryca”, nós temos a Samantha, um olhar crítico muito forte, um final louco de político e uma personagem muito bem construída. Creio que existem elementos suficientes para a pessoa se divertir e sair com uma sensação de superação de expectativas. Nesse sentido é legal fazer comédia.

Quais teus futuros projetos?

Então, tudo na minha vida é muito rápido. Eu fiz o “Tô Ryca” ano passado; já dirigi um segundo filme, o “Altas Expectativas”, que é mais um drama-cômico e, no momento, estou dirigindo um outro longa que é um filme família, o “Um Tio Quase Perfeito”. Além disso, também, tenho uma comédia romântica para o ano que vem!

Algum já com data de estreia?

O “Um Tio Quase Perfeito” nós, a princípio, queremos lançar no primeiro semestre de 2017, assim como o “Altas Expectativas”.

Então, Pedro, muito obrigado pela entrevista, sucesso para você e para o filme!

Muito Obrigado!

About the author

Editor-Chefe do Cine Eterno. Estudante apaixonado pelo universo da sétima arte. Encontra no cinema uma forma de troca de experiências, tanto pelas obras que são apresentadas, quanto pelas discussões que cada uma traz. Como diria Martin Scorsese "Cinema é a importância do que está dentro do quadro e o que está fora".

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