Sully: O Herói do Rio Hudson (Sully, 2016); Direção: Clint Eastwood; Roteiro: Todd Komarnicki; Elenco: Tom Hanks, Aaron Eckhart, Laura Linney, Anna Gunn; Duração: 96 minutos; Gênero: Biografia, Drama; Produção: Clint Eastwood, Frank Marshall, Allyn Stewart, Tim Moore; Distribuição: Warner Bros. Pictures; País de Origem: EUA; Estreia no Brasil: 15 de Dezembro de 2016;
Confira a crítica em vídeo de Márcio Picoli, clicando no player acima! Aproveite e clique aqui para conhecer o nosso canal do YouTube.
Em Janeiro de 2009 duas grandes manchetes se fizeram ser ouvidas em um período de menos de uma semana nos Estados Unidos. Entre os dias 15 e 20 daquele mês escreviam-se eternamente alguns nomes na história. No dia 15, o de Capitão Chesley Sullenberger, também conhecido como Sully. Cinco dias depois era a vez de Barack Obama, que tomava posse como o 44º Presidente dos Estados Unidos, o primeiro afro-americano a assumir o cargo.
Ainda que um dos dois sequer seja mencionado em Sully: O Herói do Rio Hudson (Sully), é inevitável não contextualizar o filme do diretor Clint Eastwood (Jersey Boys) em tal período. Principalmente pela posição política do diretor não se mostrar, na maioria das vezes, favorável à administração de Obama.
Então, quando o feito heroico retratado no filme é dado como “o melhor acontecimento do ano” até meados daquele mês, onde são criticadas taxas de desemprego e a economia, percebemos a dura. Só que, enquanto se pode ler tal linha de um diálogo, vinda de um imigrante, como uma crítica e um posicionamento, também se pode encarar com um mesmo olhar que lança o filme como uma experiência gratificante.
Por mais que em sua grande maioria pareça um filme simples, Sully: O Herói do Rio Hudson faz justamente disso sua virtude. No filme protagonizado por Tom Hanks, já sabemos qual é o destino do voo que partia de LaGuardia, em Nova York, para o aeroporto de Charlotte, na Carolina do Norte. A compreensão, ou a proposta do filme, é a de que faltam os pontos de vistas diferentes para complementar o panorama que transformou uma decisão na salvação de todos os 155 presentes no Voo 1549.
Assim, Tom Hanks interpreta seu Capitão Sully como o centro de atenções indesejadas, porque ele sequer parece compreender muito bem todo aquele panorama em meio ao êxtase público que o taxa como herói. Apresentando um personagem que questiona suas próprias ações, seu bom desenvolvimento se dá justamente naquilo que move a narrativa da trama: a justificativa do título de herói concedido ao capitão.
Com ele, também todo o patriotismo norte-americano. Mas menos intrusivo do que aquele que usualmente se acompanha em Hollywood. Possivelmente um dos maiores trunfos do filme se faz presente, portanto. Há uma certa frieza, um olhar clínico por parte de Clint Eastwood, que torna aquilo que geralmente é intragável em filmes que elevam esse patriotismo a um nível de heroísmo por muitos considerado intangível.
A simplicidade acaba quando há uma tentativa de complicar a compreensão da equação que resulta no ato, possivelmente heroico, de Sully. Junto com isso acaba também o bom funcionamento do filme. Isso mais posteriormente, quando o próprio Clint Eastwood não parece perceber que transforma alguns de seus personagens, inclusive sequências inteiras, em algo quase caricato.
Seja por criar uma aura de vilania grande demais para alguns, seja por colocar o personagem de Aaron Eckhart como um alívio cômico que, a bem da verdade, destoa por completo da proposta integral do filme. Elementos que fazem de Sully: O Herói do Rio Hudson um filme menos pertinente e mais típico aos clichês dos quais já nos acostumamos.
Tanto que, em meio a isso, algo que parece destoar do típico, do usual, do corriqueiro, é uma das grandes vantagens aqui. Porque vale a reflexão de como o filme se diferencia em alguns quesitos do nauseante patriotismo norte-americano. Uma das coisas que faz de sua ausência a mais sentida são as típicas sensações de extrema urgência e ação insurgente, aplicadas em outros filmes, para a resolução do problema que está por ser encarado.
Aí Tom Hanks se torna o coadjuvante do próprio filme que protagoniza porque entramos em outro contexto. Semelhante ao do início da crítica, assim, voltemos a política. Mesmo que lançado antes de qualquer um imaginar plausível os Estados Unidos eleger Donald Trump, o filme se passa justamente onde o candidato republicano viu sua oponente ter, talvez, a vitória mais fácil.
Essa gritante rejeição, ainda que não esteja presente no filme, representa exatamente a necessidade de uma ideia que Clint Eastwood explora. Pois, ainda que seus protagonistas odeiem a cidade, é um fato que são gratos a sua população, assim como ela é a Sully. A ausência de urgência, ou até mesmo pânico, por parte do filme, numa de suas sequências mais contundentes, expressa justamente o que propicia a frieza necessária para a concretização do heroísmo: amor ao próximo. Algo que, até talvez mais que Nova York, os Estados Unidos, e quem sabe o mundo todo, careçam por demais nesse momento.
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