Direção: Daniel Ribeiro
Roteiro: Daniel Ribeiro
Elenco: Ghilherme Lobo, Fabio Audi, Tess Amorim
Produção: Diana Almeida e Daniel Ribeiro
Estreia no Brasil: 10 de Abril de 2014
Gênero: Drama/Romance
Duração: 95 Minutos
Lidar com a temática gay no âmbito da sociedade sempre foi muito difícil. No cinema não teria como ser diferente, ainda mais quando estamos falando de um filme feito no Brasil o qual, recentemente, vem causando vergonha por causa de algumas bancadas políticas por ai. Vários filmes já tentaram, sem sucesso, abordar esse tema que, além de delicado, foca em uma minoria que ainda sofre muita opressão e preconceito. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho ao mesmo tempo que tem coragem de tocar no assunto, é muito cauteloso (para não dizer covarde) para mostrar as consequências que serão enfrentadas pelo casal protagonista, principalmente em um país como o nosso.
O enredo é, basicamente, igual ao do curta, então se você não o viu, eis o link. O filme irá aprofundar um pouco mais o mundo dos protagonistas, apresentando alguns personagens novos como a família de Léo.
Durante boa parte da projeção, presenciamos a super proteção da mãe de léo que não o deixa ter a autonomia de ficar sozinho em casa ou ir até a casa da avó sem ajuda, pois acha que ele não tem capacidade. De fato, quem tem qualquer deficiência, seja motora ou auditiva, sofre, antes de tudo, um preconceito na própria família a qual, muitas vezes, não permite ou priva o deficiente de certas atividades por achar que ele não conseguirá, quando, na maioria das vezes, o único empecilho é o próprio preconceito e até medo, como no caso do filme, de deixar que essas pessoas especiais possam ter uma liberdade. A forma como Hoje Eu Quero Voltar Sozinho trata do assunto (na própria alteração do nome do curta ao retirar a palavra não) já mostra que a verdadeira grande busca de Léo, antes de dar seu primeiro beijo ou encontrar o seu amor, é ter a sua liberdade.
Outro ponto positivo do longa vem da sensibilidade para tratar temas como a sexualidade e a descoberta sem, em nenhum momento, apelar para vulgaridade ou insistir em cenas mais sexuais para atrair público. O filme é simples e honesto e, assim como o curta, trabalha com a homossexualidade do jeito que ela merece ser tratada: de forma comum, normal e ordinária. Não como se fosse algo de outro mundo. Tanto que não vemos muitos conflitos internos em relação aos personagens, pois o que realmente importa é a grande afeição criada um pelo outro, o gênero/sexo não é importante, o amor, é.
Assim como no filme de Aluízio Abranches, Do Começo ao Fim, falta coragem para mostrar as dificuldades que eles irão enfrentar como homofobia e falta de aceitação dos pais, por exemplo. Em Hoje Eu Quero voltar Sozinho, o máximo que aparece é uma brincadeira que ocorre em um determinado momento do filme, mas em nenhum momento vemos uma discriminação propriamente dita. Com certeza, hoje a sociedade vêm aceitando muito mais as relações homoafetivas, principalmente devido a grande mobilização dos movimentos LGBT+ e, também, do cinema e da TV que recentemente têm dado mais importância à causa. Filmes como Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, Azul é a Cor Mais Quente e o próprio recente beijo gay em uma novela de grande alcance tem uma fundamental importância para a consciência da sociedade, pois conseguem fundamentar personagens com os quais vamos nos importando e nos identificando. No entanto, não podemos ignorar que ainda existe muita repressão. Podemos ver isso, claramente, nos olhares estranhos que um casal gay sofre quando passa de mãos dadas na rua, isso quando esses olhares não são transformados em violência física, resultando, como já vimos em vários casos, em morte.
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é tão querido e sensível que é praticamente impossível não sair da sessão com um sorriso no rosto. A despeito de não explorar algumas dificuldades que certamente serão enfrentadas, a cena final e a mensagem deixada por ela nos dão a certeza que eles terão força para enfrentar tudo o que esta por vir. É que nem andar de bicicleta: uma vez que apreendemos, nunca esquecemos, pois de tanto tentar e cair adquirimos a experiência necessária para que não falhemos novamente. É exatamente o que vemos em Léo.
1 Comment
Pingback: Crítica | Fala Comigo - Cine Eterno - Cinema Sem Fronteiras