Direção: Jorge R. Gutierrez

Roteiro: Jorge R. Gutierrez, Douglas Langdale

Elenco: Diogo Luna, Zoe Saldana, Channing Tatum, Kate Del Castillo, Ron Perlman (Vozes Originais)

Estreia no Brasil: 16 de outubro de 2014

Gênero: Animação/ Aventura

Duração: 95 minutos

Recentemente me queixei sobre o momento delicado por qual passa muitas animações , devido a busca dos estúdios em lucro e se firmar no mercado, deixando a qualidade em si de lado. Este ano pode ser destacado justamente por ir na contramão dessa lógica, com ligeira inovação por parte do gênero, proporcionando obras marcantes e universais, capazes de se comunicar com todas as camadas de público, entretanto funcionando mais para as juvenis/adultas. É esse o caso principal de “Festa no Céu“, produzida por Guillermo Del Toro (Círculo de Fogo e O Labirinto do Fauno), fugindo do convencional e sendo uma das mais genuínas e eloquentes dos últimos anos, servindo assim de um frescor para animação e seu grande potencial.

A estória é simples porém encantadora, numa cidadezinha no interior do México, Manolo (voz de Diogo Luna) é um jovem de tradicional família de toureiros, com vocação natural para seguir no ramo, contudo deseja muito focar na música e trilhar seu próprio caminho, além dele temos Joaquim (voz Channing Tatum) filho do finado herói da cidade, visa seguir seus passos e Maria (voz Zoe Saldana), filha do general da cidade, extremamente rebelde, disputada por seus dois amigos que idealizam se casar com ela futuramente, dando início a uma grande rivalidade. Por conta disso, os deuses La Muerte, senhora do mundo dos mortos e Xibalba, senhor do mundo dos esquecidos, apostam em qual dos dois conseguiram levar a jovem ao altar, valendo a troca do comando de seus respectivos reinos. Assim, com o passar dos anos, com o ressurgimento de uma nova ameaça a cidade, Manolo deve decidir qual rumo seguir: o da tradição familiar ou seguir seu coração, tendo em mente conciliar a conquista de sua amada, enquanto Joaquim tenta forçar o matrimônio devido a seu status, porém meramente por vaidade.

O mais interessante do longa-metragem é a comunicação com todas as faixas etárias, sobretudo os mais velhos que levam as crianças, tendo uma direção de arte requintada, colorida e extremamente encantadora, conquistando facilmente a atenção dos pequenos, sem ser deveras infantil ou bobo. Já para os maiores há o debate em torno de qual caminho é melhor, o projetado previamente por nossa família ou aquele que realmente nos revela e nos faz ser nós mesmos, além disso podemos dizer o valor pregado na genuinidade dos sentimentos e moralidade, mas sem ser um discurso vazio, é sim didático demonstrando que no final das contas, por mais demorado, a verdade prevalece. O grande roteiro ainda abre espaço para homenagear a cultura mexicana caracterizada pelo “dia dos mortos” ou “dia de los muertos”, onde famílias recordam se seus entes queridos já falecidos, porém presentes sempre nas memórias, sendo um aspecto cultural bastante agregador e interessante, fugindo dos esteriótipos.

O diferencial dessa animação das demais é como ele flerta com o lado, para muitos, considerado macabro: a morte, chega até haver uma exaltação para o fim da vida, de forma cômica e não forçada, demonstrando que o fim nem sempre é o término de tudo, sejam crédulos ou incrédulos. Talvez por ser uma produção de Del Toro, o convencional passa longe, é uma visão bastante peculiar de se ver a vida -e após-, sem cair no clichê de como a desperdiçamos, sim demonstrando como podemos aproveitar seu fim. Pode até parecer meio mórbido ou de mal gosto, entretanto pra lá de encantador e original, com personagens incrivelmente bem delineados e desenvolvidos, fáceis de se envolver e identificar, me permitindo fazer vista grossa a um defeito ali ou aqui, realmente não importa para o ótimo conjunto da obra.

Com louváveis qualidades técnicas, vale destacar a excelente trilha sonora composta por Gustavo Santaolalla, ganhador do Oscar por seu trabalho em Babel, apresentando tons épicos no mesmo modo a homenagear clássicos do cinema, como o eterno Ennio Morricone e suas composições. Com direito ainda há uma crítica política forte em relação ao coronelismo e tradicionalismo político, perpetuando dogmas arcaicos e famílias no poder, não só no México, além de incluir um debate feminista -o papel da mulher nesse século- e ainda em relação às touradas, culturalmente amadas, mesmo sendo um esporte bem barbárie, assim “Festa no Céu” passa a ser uma das animações mais genuínas e marcantes da década, sem dúvidas digna de aplausos, sobretudo por mostrar que o gênero ainda apresenta potencial e pessoas a aproveitá-lo.

 

TRAILER LEGENDADO:

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