‘Eye in the Sky’ recebeu o título pouco convidativo e genérico no Brasil de “Decisão de Risco”, é um daqueles longas discretos e com poucos atributos que chamem a atenção do público médio, ainda mais nessa época onde os blockbuster’s se proliferam. Contudo, é uma boa opção para quem quer fugir do cinema hollywoodiano e ver um drama britânico de guerra que tem uma abordagem peculiar, com novas nuances ao espectador. Particularmente, não estava empolgado para conferir, mas ao fim da projeção percebi que se tratava de um filme interessante, não por sua temática ou desenvolvimento em si, porém por exaltar uma questão esquecida em praticamente todos os filmes do gênero: a burocracia da guerra, suas consequências, seus agentes… Enfim, são os bastidores dos bastidores, como poucas pessoas sentadas numa mesa discutem sobre atos que eliminam a vida de civis entorno da famosa “segurança nacional”, por mais hipócrita que isso soe.
O longa se passa durante a execução de uma missão para achar dois altos comandantes de um núcleo terrorista no norte da África, eles são americanos e ingleses e recrutaram dois estrangeiros para executar um ataque terrorista. Com isso, a Coronel do Exército Britânico (Helen Mirren) lidera a missão para impedir que tais atrocidades aconteçam, com apoio dos Estados Unidos na ação, ela tem que decidir explodir a casa na qual os terroristas estão alojados, contudo as coisas se complicam quando uma jovem menina encontra-se na mira da explosão eventualmente ocasionada com a missão. Paralelamente, os representantes do governo britânico junto com o general responsável pela missão (Alan Rickman) precisam pensar em como prosseguir com a operação para que não crie um escândalo político e afete o governo central. A premissa é justamente o que o longa é, bastante burocrático, a ação é subjetiva em vez de implícita, algo que geralmente é o contrário em filmes do gênero, as discussões sobre a missão não são cansativa graças ao roteiro sempre acrescentar um adendo novo que pode ser contraditório, seja pelo ataque ou pela recua. É interessante perceber como a argumentação não parte por caminhos previsíveis, evitando o uso de maniqueísmo, tenta apenas demonstrar como a guerra ao terror se resume na guerra da propaganda, no governo agir contra os inimigos externos, deixando as questões internas muitas vezes maquiadas. A questão da empatia é outro ponto positivo, nos colocando ao lado tanto dos militares que necessitam explodir uma casa e consequentemente ferir uma criança inocente mortalmente ou dos políticos e representantes institucionais que detém da responsabilidade em autorizar o ato, levando em conta os dados a sua popularidade e a missão em si.
É um filme discreto, sem muitos riscos ou pretensões, uma duração razoável e uma história que nos deixa aflito ao mesmo ponto que envolvido emocionalmente com aquele fato. Helen Mirren sempre agradável, numa performance mais discreta que o habitual, sem querer muitos holofotes para si, porém conquistando uma grande simpatia mesmo com uma personagem tão difícil de aturar. Alan Rickman deixando saudades em seu último papel nas telas, o que é sempre uma pena pois ele merecia um papel à altura de sua competência em vez de uma pontinha. No final das contas, “Decisão de Risco” é um longa interessante, sobretudo se pensarmos que ” O olho no Céu” passa a ser o espectador, impotente e com a única possibilidade de acatar as ordens, doa a quem doar. Mais uma vez é um filme necessário para mostrar como é hipócrita as questões de segurança nacional e seus agentes, vale a pena pensar, por mais que se torne batido, é cada vez mais necessário, sobretudo num filme instigante assim.
TRAILER LEGENDADO