Nos intensos e frígidos dias em Curitiba, as constantes idas ao cinema tem esquentado e engrandecendo o público. O quinto olhar de cinema está a todo vapor nos apresentando filmes do mundo inteiro, além da oportunidade de conhecer pessoas, ouvir e debater com cineastas. Hoje, tive a oportunidade ímpar de conhecer e entrevistar a diretora Marina Person, filha do homenageado da mostra Luís Sérgio Person. Ela que se popularizou graças ao seu programa na MTV, falou um pouco sobre sua carreira, sua visão do momento que o país vive e sobre a influência do pai em seu cinema. Veja aqui!
- Você pretende seguir carreira como cineasta?
Sim, pretendo. Eu sou formada em Cinema, na verdade. Eu fui trabalhar na MTV quase que por acaso… Era uma época difícil, do Plano Collor, tinha acabado de sair da faculdade e o cinema no Brasil estava numa situação bastante difícil. Então acabei entrando na MTV por acaso, fui pra ficar um ano e acabei ficando 18! (risos)
- Você sentiu dificuldade para fazer cinema? Achou a indústria sexista?
Olha, certamente o cinema é um meio dominado por homens, não só no Brasil. No mundo inteiro. Eu não saberia dizer com propriedade se o fato de ter demorado para captar o Califórnia – seu primeiro longa – foi pelo fato de ser mulher… Enfim, são ponderações que eu não sei ao certo. Contudo, a questão é o fato da situação estar mudando, pela tomada da consciência, a percepção do problema da questão de representatividade feminina. Acredito que nos próximos anos nós sentiremos consequências dessa “primavera feminista” que estamos passando.
- O Califórnia, ao meu ver, é um panorama daquela geração no final da década de 70, início dos anos 80, término da ditadura militar. Como você enxerga hoje a geração atual, num momento conturbado politicamente e socialmente no país?
Bom, o Califórnia se passa em 1984, o ano das diretas já, talvez o ano mais importante para o Brasil neste sentido. O filme não é sobre política, contudo mostrava que mesmo cada jovem tendo sua particularidade, havia uma sintonia referente ao movimento político. Se existisse um Hashtag na época, com certeza seria “Eu quero votar para presidente”.
Hoje o que temos é totalmente o contrário, é uma cisão completa do país. As pessoas de um lado e de outro gritando coisas opostas. Um momento de ameaça clara a democracia. A democracia está nitidamente dividida: Num lado temos jovens ocupando as escolas, a FUNARTE, indo às ruas questionando a legitimidade deste governo interino ao mesmo tempo que temos uma juventude que defende bandeiras como “Fora Dilma, fora Petralhas” … etc. O país está dividido.
- Como você recebeu a notícia que seu pai, o cineasta Luís Sergio Person, seria homenageado pelo Olhar de Cinema, ainda mais pelo tom político de seus filmes, num momento como este?
Ficamos muito feliz, são 40 anos da morte dele. Fizemos uma exposição no começo do ano no ITAU CULTURAL. Este Festival, o Olhar de cinema, é muito jovem porém com grande importância na cena nacional, sobretudo por ser um foco internacional, acho importante olharmos para dentro na mesma medida que percebemos o que está vindo de fora.
Fiquei muito feliz com isso, é uma mostra com público bastante jovem que nunca teve a oportunidade de ver os filmes de meu pai e agora podem perceber, propagando a sua obra e se perpetuando, deixando também algo para o público que for conferir.
- Eu consegui assistir graças ao Festival o antológico São Paulo S/A. Você tem essa identidade visual que seu pai tinha com a cidade de São Paulo, não só a usando como narrativa mas também como personagem?
Olha… Se você quer saber se eu quero fazer filmes como meu pai, a minha resposta é não (risos).
Meu pai me influenciou muito na minha percepção de mundo, contudo eu fui muito influenciado por outros cineastas, que me fazem pensar não só o cinema, mais também meu lugar no mundo, eu como pessoa. Então eu acredito que o cinema do Person é grandioso, porém eu não consigo dizer com precisão até onde ele pode me influenciar. Acho que o que posso dizer é que não tenho a pretensão de repetir a linguagem adotada pelo meu pai.
- Você pretende construir uma identidade para com São Paulo ou você pretende ir para outros Estados?
Eu realmente não sei ao certo. Eu tenho dois novos projetos que vão se passar em São Paulo, por casualidade, por eu ser nascida e criada na cidade. Contudo, eu não tenho essa pretensão de me ater apenas a ela. Se um dia eu pensar em um projeto para fazer no Pará, no Mato Grosso, em Goiás… ou aqui mesmo aqui em Curitiba. Pode ter certeza que eu farei, independente da região.