Recentemente meu pai queixou-se da carência do gênero de guerra de obras realmente instigantes, realmente para uma geração contemplada com “Apocalypse Now (1979)”, era difícil uma obra contemporânea no tom de tal clássico, um parâmetro difícil a ser batido. O gênero tem o problema de cair na repetição sempre, poucos são os realizadores ousados, beirando ao eterno beabá de sempre, fugindo da temática muitas vezes quando acrescentam um tom mais incisivo politicamente, caso dos filmes da Kathryn Biguelow. Agora com “Corações de Ferro”, pode até não haver uma inovação corajosa, porém é um filme interessante por abordar uma nova percepção da segunda guerra mundial, em seus minutos finais, sobre a ótica dos americanos.

O pelotão norte-americano do tanque Fúria (Fury) adentra na Alemanha nazista, a guerra está praticamente ganha, porém ainda há resistência por parte dos nazis. Don (Brad Pitt) é o sargento do grupo, ele vivenciou a guerra desde a entrada dos americanos no conflito, sendo seus soldados parte de sua família, sentindo as eventuais mortes destes. Norman (Logan Lerman), datilógrafo do exército, acaba sendo deslocado para substituir o motorista do tanque, o problema é ele não ter nenhuma experiência com conflitos armados, sendo reles burocrata. Há um grande choque entre as duas distintas partes, sendo agravado a medida que o conflito se avança, tornando-se pulsante a união do grupo em prol da sobrevivência e, consequentemente, da vitória.

Pela vastidão de personagens, poderia soar irritante focar meramente em um, o roteiro foge disso simplesmente por não mirar em nenhum. É uma saída muito bem dada, pois assim todos conseguem seu tempo em cena, conseguem proporcionar certa profundidade e deixar ao expectador os devidos pensamentos em relação a cada indivíduo retratado. A argumentação usa os minutos finais da segunda guerra mundial como pano de fundo, denuncia o horror desumano de qualquer conflito bélico entre nações ou povos, deixando refém princípios básicos dos direitos humanos, cerceando liberdades e alimentando o morticínio. O grande mérito fica por conta de retratar com grande verossimilhança a destruição de um indivíduo em meio à guerra, perdendo todos os parâmetros morais, éticos e humanos, sendo máquinas de morte com o objetivo simples de sobrevivência. É algo bem cru, com uma violência igualmente pesada, o diretor David Ayer não faz questão de usar da sutileza, quando mais pesado, desagradável e grotesco melhor.

O principal demérito do longa é sua falta de ritmo, são quase 2h e 30 minutos de puro marasmo, até as sequência de guerra não são muito instigantes, sendo mais interessante os conflitos humanas que propriamente os conflitos armados em si. O elenco está bem, Brad Pitt reafirmando-se como um ator competente e versátil, Logan Lerman surpreendendo e demonstrando ter competência merecedora de atenções, temos uma ponta ótima da alemã Alicia von Rittberg, num momento chave, pena ser tão superficial sua participação, mas demonstra a competência da jovem a serem aproveitas futuramente.

Corações de Ferro pode até soar desalmado ou desumano, mas é um filme que consegue pregar o pacifismo em meio a barbárie, com uma argumentação crú, dolorosa e até sádica, porém de genuína qualidade. Merecedora de atenção e uma reflexão, sobretudo quando os conflitos armados se intensificam em pleno século XXI.

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