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Crítica | O Telefone Preto 2

Scott Derrickson é um nome conhecido do cinema do horror há pouco mais de duas décadas, fora desse gênero o cineasta já passou até pela Marvel, com o primeiro “Doutor Estranho”. No entanto, sem sombra de dúvidas seu melhor trabalho até então foi “A Entidade” (2012), co-escrito com seu recorrente parceiro de roteiros e produções, C. Robert Cargill. Tanto lá como em “O Telefone Preto” (2021), a dupla traz aos holofotes o protagonismo de crianças, mas de formas quase justapostas, mas igualmente soturnas, com o maior mérito do filme protagonizado por Mason Thames (“Como Treinar Seu Dragão”) residindo na angustiante sensação de impotência frente ao antagonismo do sequestrador interpretado por Ethan Hawke. Já em “O Telefone Preto 2” não há esse elemento como trunfo, e até por isso há uma mudança no protagonismo, ainda que Thames marque muita presença, quem ganha total atenção é a Gwen de Madeleine McGraw. Com isso, também há um aprofundamento na subtrama da paranormalidade da personagem de Gwen, com uma reviravolta que, de certa forma, traz similaridades com “A Hora do Pesadelo”, contudo, o filme de Derrickson fica só nas semelhança de ideias mesmo, porque na execução a insistência é nós piores momentos do primeiro filme.

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(Divulgação: Univresal Pictures)

O Telefone Preto 2” começa de maneira um pouco arrastada, menos porque precisa encontrar uma desculpa para continuar a história e mais porque Scott Derrickson quer desenvolver a narrativa como se fosse um drama, dando aos personagens de Thames e McGraw um desenvolvimento e profundidade que venham a gerar um maior impacto emocional no decorrer do filme. O que se sobressai, no entanto, não é essa trama, ainda que os dois atores demonstram que têm talento suficiente para conduzirem o drama. Os melhores momentos, a princípio, são os que envolvem os sonhos de Gwen, especialmente pelo estilo em que Derrickson e seu diretor de fotografia, Pär M. Ekberg, optaram por filmar essas sequências, com as imagens granuladas como se fossem captadas por uma Super8, remetendo diretamente ao que é feito em “A Entidade” quando os assassinos das famílias são revelados. Em “O Telefone Preto 2” isso dá um requinte que torna o filme numa experiência também sensorial, com a chegada dos irmãos no acampamento que será o cenário principal e os ataques sobrenaturais do vilão ganhando contornos que são memoráveis e divertidos. Uma pena que essas boas ideias fiquem desgastadas e, no fim, subaproveitadas porque seu desenvolvimento é mais superficial do que realmente integral à narrativa.

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(Divulgação: Univresal Pictures)

Como um conjunto do que Scott Derrickson fez ao longo de sua carreira até aqui, “O Telefone Preto 2” com certeza traz alguns dos piores elementos de seus piores filmes, como “Livrai-nos do Mal” (2014), especialmente quando a temática cristã se faz mais presente, e a sensação que fica é que estamos diante de dois filmes paralelos. O cenário do acampamento é intrigante, mas se torna insosso com personagens descartáveis como os de Demián Bichir e Arianna Rivas, porque ficam apenas no terreno de ideias com os dois, ou do insuportável casal interpretado por Maev Beaty e Graham Abbey, que apesar de expor uma “hipocrisia cristã” soam extremamente deslocados e, pior, quando participam do clímax do filme só ajudam a ressaltar a confusão que se torna o ato final. Ali tudo se mistura, ideias, personagens e estilos em algo que é praticamente uma salada de frutas, onde o ritmo frenético não corresponde ao embate que se quer explorar. A maneira como “O Telefone Preto 2” resolve seus conflitos é tão piegas como uma penitência cristã, e extremamente convoluta porque teve lampejos de grandeza em se tornar um franquia e em falhar ao não compreender que seus melhores momentos estavam na forma introspectiva que lidava com seus personagens e seus medos.

O Telefone Preto 2” – Trailer Legendado:

O Telefone Preto 2” (“Black Phone 2”, 2025); Direção:  Scott Derrickson; Roteiro: Scott Derrickson, C. Robert Cargill; Elenco: Mason Thames, Madeleine McGraw, Jeremy Davies, Arianna Rivas, Miguel Mora, Demián Bichir, Ethan Hawke; Duração: 114 minutos; Gênero: Suspense; Produção: Jason Blum, Scott Derrickson, C. Robert Cargill; País: Estados Unidos; Distribuição: Universal Pictures; Estreia no Brasil: 16 de Outubro de 2025;

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