Não é surpreendente que uma sequência para “Tron: Uma Odisseia Eletrônica” tenha levado tanto tempo para acontecer, afinal o filme lançado em 1982 ganhou repercussão mais por sua fama de “cult” e a influência nos anos seguintes, sendo isso pela forma como fez uso de CGI, ao invés do filme por si só. Até por isso em 2010 acredito que se esperava algo mais do “Tron: O Legado” de Joseph Kosinski (“F1 – O Filme”, “Top Gun: Maverick”), que entregou uma história simplória demais e alguns visuais que eram mais conceituais do que práticos, tanto que falhou em cativar o público e tendo como seu ponto alto a trilha sonora da dupla Daft Punk. Com isso, uma nova empreitada nesse universo tardou em acontecer, com “Tron: Ares” chegando aos cinemas somente 15 anos depois do segundo filme e trazendo um elenco completamente diferente, até porque, convenhamos, Garrett Hedlund nunca foi a estrela que imaginaram ser. Não que as escolhas de protagonistas para esse novo filme, comandado por Joachim Rønning, sejam tão mais atrativas ao público, mas em alguns momentos é perceptível a diferença de qualidade que alguns nomes fazem, em especial o de Greta Lee, que torna “Tron: Ares” em um filme algo mais que ordinário.

Praticamente quase nada do filme de 2010 é reaproveitado aqui e, funcionando quase como um reboot, “Tron: Ares” nos introduz a três personagens essenciais: o programa Ares (Jared Leto), seu criador Julian Dillinger (Evan Peters) e sua rival comercial e nova CEO da Encom, Eve Kim (Greta Lee). Enquanto Ares é um programa bem-sucedido no mundo digital, falta a Julian algo que Eve também procura para trazer seus planos do mundo digital para o real: o código de permanência criado por Flynn (Jeff Bridges), pois, sem ele, tanto Ares como qualquer outra cópia do mundo digital perecem em nosso mundo após 29 minutos. Enquanto uma empresa quer desenvolver tecnologias armamentistas com inteligência artificial, a outra quer criar meios sustentáveis de ajudar o mundo, entre essa binariedade do bem e mal, o programa Ares entra em conflito com suas diretrizes e sua completa descartabilidade. Resumidamente, é toda essa lenga lenga que permeia “Tron: Ares” com tramas e subtramas que pouco ou nada influenciam no que realmente importa, num filme que quer soar complexo, mas que no fundo é bastante superficial e, infelizmente, gasta tempo demais com “MacGuffins” e verborrágicos diálogos extra expositivos sobre a tecnologia no filme que tiram muito do ritmo do que vemos no geral.

Chega a ser irritante o quão pseudointelectual “Tron: Ares” é, e ainda por cima desnecessariamente, porque, por exemplo, um dos seus melhores momentos está na participação especial de Jeff Bridges e em um raro momento onde a nostalgia é não só engraçada, mas de encher os olhos, numa homenagem que compreende o status que o filme original angariou. Até mesmo ali, entretanto, o filme sofre com uma falta de sutileza que é perceptível até pela subutilização da excelente trilha sonora da banda Nine Inch Nails (compositores de “Rivais”, “A Rede Social”, entre outros), onde o filme não permite ao respiro que as próprias músicas pedem passagem para os momentos chave presentes aqui. Mesmo assim, temos alguns bons momentos, principalmente quando Greta Lee ou Jodie Turner-Smith estão em cena, sendo as duas atrizes as que melhor entendem o contexto todo, com Greta Lee conseguindo extrair do pouco que o roteiro lhe oferece algo que faz do filme mais do que um mero passatempo, a atriz empresta a “Tron: Ares” uma nuance que torna o filme um pouco mais humano. Uma pena que Jared Leto não seja capaz do mesmo, mas também, o roteiro é tão convoluto e obcecado por termos dispensáveis e ideias mal resolvidas e exploradas que é difícil o personagem ter o impacto necessário.

Algo que também é refletido visualmente no comando de Joachim Rønning, que parece pouco imaginativo para criar sequências de ação mais elaboradas, com coreografias sempre muito engessadas e sem o mínimo de resquício da elegância que Kosinski foi capaz de imprimir em “Tron: O Legado”. Visualmente também há a obsessão pelo slow motion, que chega a ser cansativo, uma pena porque o design do mundo digital segue sendo uma das melhores coisas desses novos filmes da agora franquia e, pela primeira vez em contato com o “mundo real”, a sensação que fica é que mereciam algo melhor. É o reflexo do corporativismo que “Tron: Ares” crítica tão timidamente, assim como seu discurso sobre inteligência artificial, que só não é tão raso quanto um pires porque parece sistematicamente enfraquecido. Enfim, é um filme tornado em produto, que têm suas oportunidades de ir para além disso, mas que esbarra num conformismo que não é bom nem para seu realizador quanto para o público. O resultado é algo esquecível, e aperta o coração dizer isso, pois, assim como em 2010, fui ao cinema com a melhor das esperanças e de peito aberto para algo que é fruto de tanta influência no cinema estadunidense, contudo, só resta aceitar que nostalgia é hoje mais um fruto comercial do que uma inspiração para inovar ou, ao menos, tentar construir algo que faça jus ao seu legado.
“Tron: Ares” – Trailer Legendado:
“Tron: Ares” (2025); Direção: Joachim Rønning; Roteiro: Jesse Wigutow; Elenco: Jared Leto, Greta Lee, Evan Peters, Jodie Turner-Smith, Hasan Minhaj, Arturo Castro, Gillian Anderson, Jeff Bridges; Duração: 119 minutos; Gênero: Ação, Ficção Científica; Produção: Sean Bailey, Jared Leto, Emma Ludbrook, Jeffrey Silver, Steven Lisberger, Justin Springer; País: Estados Unidos; Distribuição: Disney; Estreia no Brasil: 09 de Outubro de 2025;