Parece que foi num piscar de olhos que se passou mais de uma década desde que “O Lobo Atrás das Portas” foi lançado, longa de estreia de Fernando Coimbra que surpreendeu positivamente, entregando um thriller protagonizado por uma Leandra Leal arrebatadora, rendendo ao cineasta, inclusive, uma indicação ao prêmio de novatos do DGA, sindicato de diretores dos Estados Unidos. Desde lá, no entanto, Coimbra não teve muitos trabalhos de destaque, comandando um ou outro episódio de alguma série nos Estados Unidos, além de um longa com Nicholas Hoult (“Superman”) no elenco e que não teve muita repercussão. Apesar de seu envolvimento em tais produções, a expectativa era de que ele fosse alçar voos mais altos, coisa que talvez tenha surgido como oportunidade de se fazer com um novo longa aqui no Brasil e num reencontro com Leandra Leal, claramente a musa do diretor e que, assim como em seu primeiro longa, é quem toma as rédeas da narrativa para si, ainda que em “Os Enforcados” tenha em Irandhir Santos um co-protagonista de altura. Assim, voltando a um terreno familiar, Coimbra mostra tudo que aprendeu ao longo de suas jornadas nesta última década, tanto para o bem quanto para o mal.
Desde o primeiro momento é perceptível o esmero técnico que Fernando Coimbra e sua equipe empregam em “Os Enforcados”, e visual e esteticamente o filme é um completo desbunde, uma produção com ares luxuosos, cuja trabalho de fotografia comandando por Ulisses Malta Jr. parece fazer de cada quadro um mais impressionante que o outro, com uma narrativa que se constrói também através das imagens. Toda essa faceta do filme é algo que encanta e potencializa sua história, e que tem liberdades que Coimbra dificilmente encontraria em produções pasteurizadas e/ou industrializadas que predominam nos mercados que o cineasta atuou nos últimos anos. Essa experiência talvez influencie em decisões que vão justamente na contramão do que o filme tem de mais brilhante, porque se os planos e enquadramentos de “Os Enforcados” são deslumbrantes, a coloração do filme tem uma saturação que chega até a ser exaustiva, num excesso que parece condizente com alguns pontos da narrativa ou algumas ações dos personagens. Em certa parte é compreensível a espiral na qual o filme joga seus personagens, mas com um roteiro tão clichê e até datado, com algumas piadas que parecem deslocadas porque se referiam a acontecimentos políticos de alguns anos atrás, no todo mais incomoda.
Bem como a participação do português Pêpê Rapazote, que é pura canastrice em seu papel, mas não num bom sentido. Há uma rigidez em “Os Enforcados” que aos poucos vai dando espaço para uma caricatura, mas não de forma natural, o roteiro imputa diálogos, falas e situações que contradizem o resto e o todo vai descambando para algo rocambolesco, culminando na sequência final que é uma tremenda bobajada, porque falta ao filme ser mais inteligente, tudo ali é narrativamente muito simplório e genérico, calhando de soluções que são até anticlimáticas. É o problema de como o filme e o roteiro estabelecem algumas coisas narrativamente, como a personagem de Irene Ravache, que destoa muito do restante do tom do filme. Não importa o quão bons Leandra Leal e Irandhir Santos estejam em cena, “Os Enforcados” dará um jeito de fazer com que seu texto se sobressaia de alguma maneira negativa. Fernando Coimbra deixa claro como seu talento permanece intocado para alguns detalhes, mas não foi dessa vez que ele correspondeu às expectativas que criou sobre si próprio.
“Os Enforcados” – Trailer Oficial:
“Os Enforcados” (2024); Direção: Fernando Coimbra; Roteiro: Fernando Coimbra; Elenco: Leandra Leal, Irandhir Santos, Thiago Thomé, Pêpê Rapazote, Ernani Moraes, Augusto Madeira, Ricardo Bittencourt, Gustavo Arthidoro, Stepan Nercessian, Irene Ravache; Duração: 123 minutos; Gênero: Thriller; Produção: Fabiano Gullane, Caio Gullane, André Novis, Fernando Coimbra, Luís Galvão Teles, Gonçalo Galvão Teles; País: Brasil, Portugal; Distribuição: Paris Filmes; Estreia no Brasil: 14 de Agosto de 2025;