A Hora do Mal 01

Crítica | A Hora do Mal

Zach Cregger surpreendeu a muitos com “Noites Brutais” (“Barbarian”), e não só pelas reviravoltas que seu filme apresentava ao público da maneira mais deliciosa possível, mas também pela guinada em sua carreira, se distanciando das comédias que até então havia feito, e principalmente pela qualidade do filme no todo, menos comentado aqui no Brasil por ter sido lançado, infelizmente, de forma direta em um serviço de streaming. O sucesso desse filme nos Estados Unidos, no entanto, rendeu ao cineasta a oportunidade de realizar “A Hora do Mal” da maneira que melhor quisesse e o resultado só não surpreende porque já tínhamos indícios do que ele era capaz de fazer, entregando aqui um filme que é superior ao seu antecessor, ao mesmo tempo que mais complexo e igualmente eficaz, ainda que bem mais ambicioso. Um filme que transita entre diversos gêneros e faz uso de uma narrativa instigante e cada vez mais extasiante, onde até mesmo o que a princípio pode parecer simples se torna uma poderosa arma nas mãos de Cregger, que se revela um grande cineasta em todos os sentidos, utilizando muito bem suas referências e criando algo com uma identidade própria muito forte e que, com certeza, será lembrada por muito tempo.

A Hora do Mal 03
(Cortesia da Warner Bros. Pictures)

A Hora do Mal” não é um filme memorável apenas por suas reviravoltas, mas também pela maneira como Cregger conduz sua narrativa, seja no formato ou na imagética. É reconfortante ver um cineasta em Hollywood filmando de forma mais inventiva, brincando dentro dos limites que a indústria geralmente impõe de forma enlatada às fotografias dos filmes, ainda que não seja o trabalho mais brilhante do mundo, é com certeza extremamente divertido em como nos coloca em diversos pontos de vista durante o decorrer do filme. O clímax é a síntese perfeita disso tudo, culminando numa sequência que recompensa o espectador por tudo que se vivenciou até ali. E boa parte desse sentimento só é possível de existir porque “A Hora do Mal” se debruça sobre seus personagens com a dose certa de maturidade, e os explora individualmente de uma maneira que me lembra, ligeiramente, “The Leftovers”, porque por mais que possa parecer haver um excesso ali em determinado momento, no fim das contas me faz sentir como se constrói toda uma tragédia em relação a vida desses personagens centrais que Zach Cregger desenvolve aqui. É algo de um requinte muito especial, que se vê no direito de brincar com suas próprias ideias, arrancando desde susto até mesmo a risadas.

A Hora do Mal 04
(Cortesia da Warner Bros. Pictures)

A Hora do Mal” consegue ter essa maestria sobre os sentimentos aos quais nos induz porque se importa muito com seus personagens, e acredito que eles vem em primeiro lugar até mesmo do que do mistério, e as respostas que nos entrega são satisfatórias sem se fazerem sentir didáticas ou condescendentes, pelo contrário, o filme até se dá ao direito de explorar algumas coisas que funcionam sem precisar de uma explicação para cada mínimo detalhe. Flerta com essas ideias e as abraça quando possíveis sem ter receio de que o público não entenda, e isso faz parte também dessa maturidade narrativa que o filme possuí. Zach Cregger tem muitos méritos em tratar seu espectador com honestidade e respeito, mas também nos conduzindo com um olhar muito singular por caminhos que, por mais que em alguns pontos se façam óbvios, nunca deixam de entreter, enquanto outros elementos que complementam a história de maneira instigante vão se tornando uma experiência que é de puro deleite. No fim, acho que o terror fica até mais em segundo plano em “A Hora do Mal”, que fica mais em uma linha tênue entre suspense e thriller, escorado num drama central muito forte por conta de seus personagens, demonstrando uma rara sensibilidade que, por fim, desencadeia um turbilhão de emoções que eu dificilmente esquecerei.

A Hora do Mal” – Trailer Legendado:

A Hora do Mal” (“Weapons”, 2025); Direção: Zach Cregger; Roteiro: Zach Cregger; Elenco: Julia Garner, Josh Brolin, Cary Christopher, Alden Ehrenreich, Austin Abrams, Benedict Wong, Amy Madigan; Duração: 128 minutos; Gênero: Drama, Suspense; Produção: Roy Lee, Zach Cregger, Miri Yoon, J. D. Lifshitz, Raphael Margules; País: Estados Unidos; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 07 de Agosto de 2025;

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