Quando o primeiro filme da trilogia “Jurassic World” protagonizada por Chris Pratt e Bryce Dallas Howard foi lançado, existia um anseio porque fazia mais de uma década sem que o mundo criado por Steven Spielberg nos anos 90 fosse revisitado, e é verdade que o próprio Spielberg teve dificuldades em levar a franquia adiante, sem nunca chegar perto à qualidade ou deslumbramento que o filme original foi capaz. Colin Trevorrow tentou recriar isso em 2015, mas sendo o cineasta que é, não chegou nem perto e, apesar de entreter moderadamente, o filme que iniciou uma nova trilogia soou mais como o terceiro “Jurassic Park” do que qualquer outro filme, sensação que persistiu pelos outros dois filmes, mesmo com J.A. Bayona comandando uma das sequências, muito por conta das escolhas narrativas, que insistiam nas mesmas batidas e nos mesmos erros e que desgastaram tudo ali muito rapidamente. Não é à toa que 3 anos depois a franquia troque de mãos e toda equipe criativa para ter um “renascimento”, com Gareth Edwards (“Godzilla”, “Rogue One”, “Resistência”) trazendo consigo também um novo elenco, bastante estrelado, novos personagens e a promessa de novas ideias com “Jurassic World: Recomeço” e, com certeza, sem insistir nos mesmos erros de seus antecessores, não é?

Infelizmente não é esse o caso, e a sequência de abertura já deixa algo bastante claro: “Jurassic World: Recomeço” vai continuar a insistir na tecla de mutação de dinossauros. Algo que em si não é exatamente um problema, mas há essa aparente necessidade de criar um grande antagonista que reflete a trama da narrativa de que o público cansou dos parques e dinossauros “comuns” e precisa de um ainda maior e mais perigoso ou ameaçador para saciar suas vontades. Ganância, aliás, é um aspecto narrativo recorrente neste filme, mas é irônico como os comentários dos personagens soam tão acurados para refletir sobre o próprio filme em si, ainda mais com uma urgência de se debruçar sobre tópicos sociais relevantes, como capitalismo vs socialismo ou imigração, mesmo que seja de maneira sutil. Coisas que simplesmente não tem lugar aqui porque Gareth Edwards entrega um filme completamente superficial e genérico, com direito a vilão corporativo maniqueísta, entre outros clichês. Tanto Edwards como o roteirista David Koepp (“Código Preto”) não têm o tato necessário nem mesmo para criar algo subliminar, e parecem mais vítimas (ou seriam cúmplices) da máquina Hollywoodiana de moer debates sobre conflitos reais e necessários.

O roteiro tem sérios problemas com seus personagens e a forma como suas narrativas são mal resolvidas, principalmente porque há um excesso de figuras “relevantes” para o filme. Apesar do claro protagonismo de Scarlett Johansson e a proximidade disso de Jonathan Bailey (“Wicked”), mais 6 personagens recebem uma devida proporção de atenção na tentativa de criar laços emocionais com o espectador. Só que é muita coisa, e existem praticamente dois núcleos durante “Jurassic World: Recomeço” e o sentimento da preocupação ou conexão entre um e outro, tanto para o filme como para o espectador, só não é inexistente porque é extremamente raso e a recompensa não surte qualquer efeito, assim como o “D-Rex” que inventam para o filme. Isso porque Gareth Edwards faz de suas principais sequências no filme tão empolgantes como efêmeras, uma colagem de ideias mal desenvolvidas e o único deslumbramento do filme pode ser encontrado com melhores sensações num filme lançado há três décadas.
“Jurassic World: Recomeço” – Trailer Legendado:
“Jurassic World: Recomeço” (“Jurassic World: Rebirth”, 2025); Direção: Gareth Edwards; Roteiro: David Koepp; Elenco: Scarlett Johansson, Mahershala Ali, Jonathan Bailey, Rupert Friend, Manuel Garcia-Rulfo, Luna Blaise, David Iacono, Audrina Miranda, Ed Skrein; Duração: 134 minutos; Gênero: Ação, Aventura, Ficção Científica; Produção: Frank Marshall, Patrick Crowley; País: Estados Unidos; Distribuição: Universal Pictures; Estreia no Brasil: 03 de Julho de 2025;