“Wicked” (2024); Direção: Jon M. Chu; Roteiro: Winnie Holzman e Dana Fox; Elenco: Cynthia Erivo, Ariana Grande, Jonathan Bailey, Ethan Slater, Peter Dinklage, Michelle Yeoh, Jeff Goldblum; Duração: 160 minutos; Gênero: Musical, Fantasia; Produção: Marc Platt, David Stone; País: Estados Unidos; Distribuição: Universal Pictures; Estreia no Brasil: 21 de Novembro de 2024;
“Wicked” dispensa apresentações, o sucesso da Broadway é daqueles produtos que a cultura estadunidense aproveitou a exaustão e transformou numa sensação global onde, querendo ou não, você com certeza já consumiu alguma referência. Uma adaptação para os cinemas até que tardou em acontecer, mas finalmente chega às telas com a produção homônima sendo dirigida por Jon M. Chu (“Podres de Rico”) – e dividida em duas partes, um feitio ao qual já nos acostumamos. A primeira parte trata de contar como os caminhos de Elphaba (Cynthia Erivo) e Galinda (Ariana Grande) se cruzaram pela primeira vez, muito antes de serem conhecidas, respectivamente, como a Bruxa Má do Oeste e a Bruxa Boa do Sul. Só que se há algo que esta adaptação cinematográfica de “Wicked” se permite em ir além é a discussão sobre preconceito racial, uma oportunidade de ser ainda mais marcante e independentemente singular. Mesmo com isso em mente, e com uma duração que se dá ao (des)prazer de contar sua parte alongadamente à vontade, “Wicked” joga seguro demais e, talvez pela demora em se tornar filme, bate em teclas que já foram repetidas incansavelmente com uma epidemia de prequels e reboots, resultando num produto cujas aspirações são muito maiores do que é, de fato, o filme.
Dito isso, é difícil esperar originalidade, mas a expectativa criada em torno dessa adaptação dava a impressão de que algo realmente grandioso seria entregue, contudo, “Wicked” passa bem longe de ser capaz disso e fica preso tanto em nostalgia como na sombra de seu material de origem. Ao invés de se permitir criar, inventar ou tentar algo diferente, o que Jon M. Chu entrega é uma obra que parece até familiar, mas que não consegue aliar personagens à mágica que este seu universo promete. Com exceção de umas duas ou três boas cenas musicais – uma nem tão musical assim – o que impera em “Wicked” é a pobreza imagética que reflete essa desconexão entre personagens e cenários. Há todo um mundo fantasioso que devia ser supostamente belo e lúdico, mas estes espaços são tão subutilizados e subdesenvolvidos, e isso fica evidenciado quando são justapostas as melhores cenas do filme, que fazem uso muito bem do espaço ao seu redor e que, geralmente, brincam com as cores e as luzes mais do que em todo o restante. Porque se há uma característica quase inerente em “Wicked” é o processo de homogeneização, tanto das imagens, quase opacas pela iluminação deprimente, como do conteúdo, resultando em algo que, ao invés de catártico, é semelhante a qualquer filme de super-herói visto nos últimos anos, se esvaindo de sentido.
O genérico toma conta de “Wicked” cada vez mais, e o que devia ser um grande momento não tem muito impacto, até porque o roteiro convoluto acelera a narrativa para entregar um final que transmita a sensação de ser minimamente conclusivo para encerrar esta primeira parte. Contudo, mesmo com suas duas horas e quarenta minutos, muito dos personagens fica no superficial e as muitas tramas que o filme tenta começar a desenvolver mais o atrapalham do que enriquecem. Muito porque “Wicked” tem a profundidade de um pires para debater temas mais relevantes, como o próprio racismo sofrido pela protagonista, mas o que esperar de um cineasta que praticamente fez uma ode à pobreza com “Em Um Bairro em Nova York” (“In the Heights”). E assim como lá, muitas das sequências musicais aqui são esquecíveis, sendo que o grande momento de “Wicked” não precisa de quaisquer palavras, cantadas ou não, e a música incidental mais ofusca do que realça quando Cynthia Erivo demonstra todo o potencial de seu talento. Enquanto ela é o destaque positivo do filme, entregando uma atuação consistente, Ariana Grande é simpática quando serve de alívio cômico, mas, pelo menos nessa primeira parte, fica devendo em outros quesitos. Síntese melhor de “Wicked”, impossível, um filme que se apresenta de forma simpática, mas que quando mais se precisa, não entrega. Um produto feito sob medida com a maquiagem superficial da homogeneização industrial hollywoodiana.