John Wick: Baba Yaga” (“John Wick: Chapter 4”, 2023); Direção: Chad Stahelski; Roteiro: Shay Hatten e Michael Finch; Elenco: Keanu Reeves, Donnie Yen, Bill Skarsgård, Laurence Fishburne, Hiroyuki Sanada, Shamier Anderson, Lance Reddick, Rina Sawayama, Scott Adkins, Ian McShane; Duração: 169 minutos; Gênero: Ação, Aventura, Thriller; Produção: Basil Iwanyk, Erica Lee, Chad Stahelski; País: Estados Unidos; Distribuição: Paris Filmes; Estreia no Brasil: 23 de Março de 2023;

John Wick: Baba Yaga 05
(Imagem/Divulgação: Murray Close/Paris Filmes)

Há quase uma década atrás “John Wick – De Volta ao Jogo” chegava aos cinemas como um filme de ação B, com diretores estreantes e inexperientes na função e protagonizado por uma estrela de Hollywood que já tinha visto dias melhores. O sucesso surpreendente do filme, muito por sua qualidade em oferecer o que faltava em Hollywood, ação bem coreografada e filmada aliada a uma boa narrativa, rendeu continuações que estabeleceram uma franquia, mas não qualquer franquia. Se no primeiro filme Chad Stahelski e David Leitch (co-diretor não creditado do original) usam de uma simplicidade narrativa para abusar na qualidade técnica da ação, Stahelski nos filmes seguintes se mostrou um cineasta de primeira qualidade. Assinando sozinho a direção do segundo ao quarto filme, Stahelski deixou claro que em todos os anos que trabalhou como dublê e coordenador de dublês na indústria, com uma variedade enorme de cineastas, aprendeu com eles tudo que podia, tendo tirado o melhor de cada um para si e, além disso, ainda se revelando um amante nato do cinema, sem vergonha de apresentar suas referências e homenagear grandes filmes e cineastas que marcaram época e que, de alguma forma, influenciaram sua visão de cinema. O ápice disso tudo encontramos em “John Wick: Baba Yaga”.

John Wick: Baba Yaga 02
(Imagem/Divulgação: Murray Close/Lionsgate)

Entre um filme e outro há uma relação recíproca, e talvez uma das mais saudáveis, entre público, produção e estúdio. Conforme o público da franquia aumenta, o estúdio injeta mais dinheiro no orçamento da sequência e a produção, por sua vez, dá um retorno ao público criando algo que condiz com tudo que foi gasto. Assim, a cada novo capítulo os filmes ficam mais ambiciosos, como se a própria equipe estivesse se desafiando para descobrir quais seus limites. “John Wick: Baba Yaga” nos faz questionar se esses limites sequer existem. Desde o princípio, dando continuidade aos eventos do terceiro filme, esta sequência deixa claro se tratar de um épico de grandes proporções (as quase 3 horas de filme corroboram isso). Mas a ambição só é recompensada se houver um árduo trabalho para conquistar aquilo que se deseja, e o tempo que John Wick (Keanu Reeves) se preparou para o embate que tem a frente parece refletir a inspiração que Stahelski reuniu na obra-prima (perdoem o clichê) que entrega com seu filme. Um trabalho que, sem duvidas, é digno de redefinir o gênero. Se antes outras produções desejavam realizar cenas de ação parecidas com a da franquia, agora é importante repensar como se encara toda a produção de um filme de ação.

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(Imagem/Divulgação: Murray Close/Paris Filmes)

Se a utilização do espaço já era importante nos outros filmes, Chad Stahelski e sua equipe elevam isso a outro patamar em “John Wick: Baba Yaga”. A forma como esses espaços ajudam a construir a narrativa, como cada cenário é pensado meticulosamente para levar a ação sempre em frente e nas diferentes formas de se filmar tudo ali com a maior clareza possível, é um dos feitos mais impressionantes do cinema do gênero. Há uma sinergia e naturalidade, dentro daquilo já estabelecido pela franquia, que tornam cada sequência dentro do filme em um espetáculo à parte, transitando por diferentes particularidades e características que passam desde o cinema oriental, com samurais e afins, ao cinema ocidental e seu ápice no Western. A adrenalina do cinema estadunidense ganha novo fôlego num plano sequência que parece esbanjar o quão capazes são esses profissionais que ficaram tanto tempo subjugados a uma função que poucas vezes recebe o merecido holofote. É tudo muito específico e muito bem estabelecido, coisas que tornam, por exemplo, um personagem que podia ser uma repetição barata de outro já interpretado por Donnie Yen (“Rogue One: Uma História Star Wars”), em uma figura intimidadora e com ares de inventividade. Não são apenas as coreografias e a encenação da ação que vemos se desenrolar, mas em como potencializar cada um desses momentos da melhor maneira possível dentro de cenários desafiadores. É cinema em movimento na sua mais pura forma de arte!

John Wick: Baba Yaga 04
(Imagem/Divulgação: Murray Close/Lionsgate)

E isso porque há também um senso de apuração estético que diferencia a franquia dos demais filmes, não só do gênero, mas do que encontramos no cinema mais comercial e até mesmo em alguns filmes da temporada de premiações. Há uma beleza nas imagens que Chad Stahelski constrói com seu diretor de fotografia, Dan Laustsen (“O Beco do Pesadelo”, “A Forma da Água”), que transcendem o que pode ser considerado um simples filme de ação. É mais do que isso, não porque assim o ambiciona, mas porque assim se faz e sem em momento algum desmerecer o gênero, pelo contrário, evidenciando que dentro dele próprio há a possibilidade de construir algo que vá além da ação “sem cérebro”. Em “John Wick: Baba Yaga” o que não falta, aliás, é inteligência, essa que reforça a capacidade de seus realizadores. Além do fator emocional surpreendente que o filme consegue entregar, com riscos para seus personagens que conseguimos sentir e nos envolver profundamente, mostrando uma maturidade também nesse quesito. Há momentos que unem isso e notamos estar diante da grandeza do cinema. Desde uma conversa entre velhos amigos no Japão, com um diálogo enquadrado em imagens recheadas de beleza e simbolismo, a uma cena de poker onde o estabelecimento da tensão é algo que só um mestre de sua arte é capaz de realizar, a sutileza e a sensibilidade que encontramos nessas sequências são de arrancar suspiros. As explosões e a pancadaria, por mais que movam a narrativa em frente, só funcionam tão bem porque existem respiros recheados da essência do que é o cinema. Uma coisa está ligada a outra, e “John Wick: Baba Yaga” é o melhor que ambas têm a oferecer!

John Wick: Baba Yaga” – Trailer Legendado:

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