“Thor: Amor e Trovão” (“Thor: Love and Thunder”, 2022); Direção: Taika Waititi; Roteiro: Taika Waititi & Jennifer Kaytin Robinson; Elenco: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Christian Bale, Tessa Thompson, Taika Waititi, Russell Crowe; Duração: 119 minutos; Gênero: Ação, Aventura, Drama, Fantasia; Produção: Kevin Feige, Brad Winderbaum; País: Estados Unidos; Distribuição: Walt Disney Pictures; Estreia no Brasil: 06 de Julho de 2022;
Da cafonice shakespeariana de Kenneth Branagh, a um segundo filme recheado de problemas nos bastidores, Thor só se encontrou nos cinemas, de fato, em seu terceiro filme solo, quando nas mãos de Taika Waititi se tornou mais palatável, alinhando melhor o humor ao personagem e tirando de Chris Hemsworth e companhia uma veia cômica mais funcional do que até então tínhamos visto. A fórmula que deu certo com o público em “Thor: Ragnarok” é retomada na nova aventura do sofrido herói viking da Marvel, em “Thor: Amor e Trovão”, que repete muito da roupagem de seu antecessor e aposta ainda mais na nostalgia oitentista. Em time que está ganhando não se mexe, e Waititi justamente se apropria deste ditado, ainda se beneficiando muito de ser um dos filmes dessa leva da Marvel pós “Vingadores: Ultimato” que soa como um projeto dos mais individuais e herméticos em relação a construção de Universo. A história aqui é bastante focada em Thor e sua relação com a Jane Foster de Natalie Portman, que retorna e traz com ela um reforço imenso para o principal tema do filme: o amor. Visto o que Patty Jenkins fez em seu “Mulher-Maravilha”, ela que uma vez dirigiria o segundo filme do herói, ficaria orgulhosa de ver um filme do Thor com ideias similares às suas.
Condizente com os traumas que Thor carrega nesse Universo, Taika tenta emprestar alguma dramaticidade mais séria em dado momento, utilizando como ponto de partida o vilão interpretado por Christian Bale (“Ford vs Ferrari”). Porém, o que esse antagonista mais oferece ao filme é a oportunidade de uma sequência de ação de visual ligeiramente mais inspirado do que estamos acostumados a ver por parte de filmes da Marvel. Ainda assim, bem como em “Ragnarok”, Taika Waititi tem certa dificuldade em estabelecer ou mesmo dar uma impressão efetiva das escalas das lutas, que soam bastante desordenadas e atrapalhadas por demasiados cortes. O contraste visual é o que mais sobressaí, por isso a batalha contra o Gorr de Bale, na Terra das Sombras, é bonito de se ver e com certeza caíra por completo nas graças do público. No mais, não foge do padrão e impressiona que filmes que custem tanto dinheiro ainda tenham tanta dificuldade de entregar sequências mais eficazes nesses grandes momentos. A bem da verdade que funcionam, mesmo com todos seus defeitos, quando ironizadas como o próprio Waititi faz na primeira batalha em “Thor: Amor e Trovão”. Quase uma esquete a parte, mesmo sem muita criatividade, ela funciona por fazer troça de todo esse “super-heroísmo”.
O humor que Taika Waititi implementou no terceiro filme retorna em “Thor: Amor e Trovão” na mesma toada de tentativa e erro. Algumas piadas funcionam, outras podiam funcionar, mas a entrega nem sempre é no ponto, enquanto outras simplesmente se perdem no nível de infantilização de todos os personagens, algo que torna tudo aqui muito mais bobo do que o recomendado, até porque a narrativa se vê vítima disso e, lá na frente, o que acontece é que o filme precisar apelar ao extremo do piegas, num ato até constrangedor, para que seu arco narrativo possa se encerrar. É uma forma de desacreditar no próprio espectador e do filme desacreditar em sua própria seriedade ou urgência e gravidade que quer transmitir com o vilão de Christian Bale, que se torna mais outro antagonista dispensável, infelizmente. Quem mais brilha com tudo isso, porém, é Tessa Thompson, que parece tão relaxada em sua personagem que diverte enquanto parece estar se divertindo, agindo quase que com completo descaso e desinteresse em estar ali na maior parte do tempo, o que acaba sendo hilário. Só uma pena que o queerbaiting da Marvel continue com a personagem, sendo que é uma figura perfeita para assumir tal protagonismo.
Assim como a personagem de Tessa Thompson, existem vários outros elementos em “Thor: Amor e Trovão” que indicam existir aqui um filme muito bom, um filme ainda mais interessante, perdido em meio ao que Taika Waititi entrega no todo. Em parte, é culpa desse processo industrializado e incapaz de correr riscos que se tornaram não só as produções da Marvel, mas do selo Disney no geral. Em parte, é culpa de um pouco do ego de Waititi, que precisa aceitar que algumas coisas simplesmente não funcionam e outras se excedem. Porém, está longe de ser ruim. Entretém e, com certeza, vai satisfazer ao público como a grande maioria das produções da Marvel. Só é uma pena que não se insista nas ideias que mais tem brilho ali, e se perdem em sequências de ação bem truncadas. Natalie Portman, por exemplo, podia render muito mais, até porque é empolgante vê-la em ação, mas só até certo ponto, quando precisamos lidar com as limitações do próprio filme. Essa limitação também se estende para o fato de os riscos serem mínimos, ou nunca se fazerem, de fato, sentirem como os tais alardeados riscos que são, e isso é parte desse processo de infantilização, no qual Taika Waititi imagina estar arrasando, quando na verdade é bem o contrário…
1 Comment
Pingback: Crítica | The Flash - Cine Eterno