É, aconteceu. Aves de Rapina com três semanas já pode ser declarado o que já estava claro que seria desde seus primeiros dias: um flop. Não cabe aqui lamentações, visto que o filme inteiro já era uma tragédia anunciada, mesmo que alguns, como o que vos fala, não quisesse acreditar. Os sinais estavam todos lá, só não via quem não queria – ou, quem muito torcia.
Para começar, a DC parece não aprender com seus próprios erros e méritos. Depois do fracasso de Liga da Justiça (2017) e do horrendo Esquadrão Suicida (2016), não estava claro que o público não queria mais um grupo do barulho aprontando altas loucuras na telinha, como um bom filme de Sessão da Tarde? Mais imperdoável é o fato de que nem tudo são lamúrias para a produtora. Poucos meses atrás a DC conquistou 1 bilhão com Coringa (2019), um filme focado somente em uma figura que deu total liberdade de roteiro e direção para seu idealizador, o quase sem personalidade Todd Philipps – que ainda conseguiu roubar uma indicação ao Oscar por isso.
Nesse cenário, o que justifica a escolha da DC/ Warner em tentar emplacar mais um grupo? A Arlequina da Margot Robbie foi um fenômeno desde 2016 e conseguiu reviver a personagem para toda uma geração que não a conhecia. A atriz além de ser excelente, tem disposição para fazer mais filmes com a personagem e carisma para dar e vender. Então, por que diabos, não ganhamos um longa inteiro somente para a ex-psiquiatra mais querida da DC nas mãos de algum diretor – preferencialmente diretora – com suas próprias ideias (ou copiando do Scorsese, como o Phillips) e entregando uma história de substância e qualidade?
É a inegável vontade de Hollywood em perder dinheiro. Parece impossível, mas as vezes tudo indica ser o caso. O público de games/desenhos sabe do que estou falando. Muitas vezes, podendo investir em algum produto, criar um filme para toda uma base de fãs e conquistar muito mais pelo mundo com um filme de qualidade, os executivos acham uma excelente ideia fazer um “mais ou menos”. Um arroz com feijão mal feito. São filhos desse pensamento filmes como o infame live action do Mario Bros., de 1993, e os filmes dos Smurfs, lançados alguns anos atrás.
A ideia de subverter totalmente uma boa ideia e colocar um personagem que em outro cenário poderia ser extremamente rentável em um filme esquecível parece ser contagiante. É o cinema de executivos. Eles, visando o lucro acima de tudo, assinam a ordem que leva todo o dinheiro embora.
E as Aves de Rapina continuam sem decolar.