“Loja de Unicórnios” (Unicorn Store, 2017); Direção: Brie Larson; Roteiro: Samantha McIntyre; Elenco: Brie Larson, Samuel L. Jackson, Joan Cusack, Bradley Whitford, Karan Soni, Hamish Linklater; Duração: 92 minutos; Gênero: Comédia, Drama, Fantasia; Produção: Brie Larson, Lynette Howell Taylor, Paris Kasidokstas-Latsis, Terry Dougas, David Bernad, Ruben Fleischer; País: Estados Unidos; Estreia no Brasil: 05 de Abril de 2019 (Netflix);
Nossa Capitã Marvel, Brie Larson, já tinha mostrado seu brilhante trabalho no filme “O Quarto de Jack” -pelo qual ganhou o Oscar de Melhor Atriz em 2016- e, com a estreia do seu primeiro longa “Loja de Unicórnios”, Brie mostra que tem capacidade para prosseguir também uma carreira como diretora.
Samantha McIntyre assina o roteiro que conta a história de Kit, uma mulher que tenta conquistar seu espaço no mundo das artes, mas seus professores e críticos acham seu trabalho horrível. Ela volta a morar com os pais e começa a viver “a vida adulta”. Com a ajuda de um vendedor exuberante (Samuel L. Jackson) que a oferece um unicórnio de estimação, Kit começa a lidar com suas questões emocionais.
Para prosseguirmos numa análise psicológica sobre o filme, temos que entender a representação do unicórnio na história. O unicórnio é um objeto mitológico que simboliza o mágico, a figura encantadora. Um animal que transmite o acolhimento, magia, afeição, segurança, todas as características que fazem o sujeito, no caso, a protagonista do filme, Kit, estacionar sua vida nesse momento mágico da sua infância para não lidar com os fracassos que a vida apresenta a cada passo.
Importante destacar essa figura unicórnio, pois na narrativa da história, Kit se manteve fiel a sua singularidade, mas a sociedade capitalista, “tradicional”, que não sabe lidar com seu jeito único, tenta calar suas cores.
Infelizmente, essa narrativa não é apenas vivenciada no filme, temos hoje um sistema que preza pelo resultado, não importa como o sujeito precise alcançar, mas precisa mostrar os números. E, dessa forma, são criadas normativas sociais afim de fazer sujeitos pares.
A singularidade do sujeito então se apaga, a personagem Kit também tem esse momento de apagão, mas graças aquela imagem da infância do unicórnio ela consegue pensar saídas que possam manter sua singularidade dentro de um sistema tradicional.
Uma questão muito discutida na psicologia/psicanálise é o crescente de diagnósticos, e em consequência disso, um enorme consumo de remédios que visam ocultar a razão da angústia, ansiedade, medos dessa sociedade contemporânea. Em alguns casos, sim, se tem a importância do acompanhamento da medicalização, mas minha crítica passa pelo fato do uso abusivo de diagnósticos que temos relatos hoje em dia, principalmente na área da educação. (Não, no filme não se trabalha a questão dos medicamentos, mas diante do cenário que a narrativa do filme propõe, abre espaço para conversarmos também sobre a medicalização)
Calar a linguagem e o corpo do sujeito é mais cômodo do que lidarmos com aquela questão que tanto nos traz sintomas dentro da sociedade contemporânea.
“Loja de Unicórnios” mostra de maneira bem leve e com um roteiro engraçado que, claro, temos que nos haver com as questões adultas, mas sem deixar para trás aquela magia inocente do que é viver. E que tudo bem se falharmos, (spoiler alert), reproduzo uma fala do filme para concluir esse cenário tão atual que o filme traz sobre um mundo que valoriza mais o capital do que a felicidade:
“A coisa mais adulta que você pode fazer é falhar no que gosta”