Halloween (2018); Direção: David Gordon Green; Roteiro: Jeff Fradley & Danny McBride & David Gordon Green; Elenco: Jamie Lee Curtis, Judy Greer, Andi Matichak, Will Patton, Virginia Gardner, Nick Castle, Haluk Bilginer; Duração: 105 minutos; Gênero: Drama, Suspense, Terror; Produção: Malek Akkad, Jason Blum, Bill Block; País: Estados Unidos; Distribuição: Universal Pictures; Estreia no Brasil: 25 de Outubro de 2018;
40 anos depois, o cultuado filme de John Carpenter ganha uma continuação praticamente direta, ignorando todas as outras sequências e o reboot de Rob Zombie, com o último filme deste realizador tendo sido lançado já há quase uma década. Entretanto, este novo “Halloween” não exatamente ignora tudo o que vimos na franquia até então, o filme de David Gordon Green entende a mística envolta na produção original, que tornou a figura de Michael Myers em um ícone da cultura popular. Vai além, emprestando elementos que funcionaram em um ou outro filme, dentre os outros 10 existentes, e presta suas homenagens com louvor.
Seu carinho e apreço pela produção original é tão grande que, a busca para apagar os erros cometidos ao longo dos anos, serve em si como uma maneira de homenagem também. Longe, no entanto, de ficar preso a uma nostalgia barata. Não exatamente um remake, é um filme que tenta reconstruir de maneira atualizada personagens que fazem parte dessa história. Inclusive, há do próprio filme uma auto-confirmação dessa postura restauradora, que tem como intenção resgatar o que foi perdido, vide os créditos de abertura, que brincam com a maneira com a qual foi realizado quatro décadas atrás, no precursor de um dos tropos mais populares do cinema de terror.
É bem verdade que “Halloween” recorre a clichês ao longo do caminho e, até certo ponto, parece partilhar certo gosto pela violência gratuita. O primeiro ato do filme é muito mais brutal que seu terceiro e derradeiro ato. Entretanto, este último é mais visceral, porém, também mais justificável. Porque o que interessa, desde o princípio, é o aguardado embate que marcará o reencontro de Michael Myers e Laurie Strode (Jamie Lee Curtis). Contudo, o suspense feito para se chegar ao clímax não deixa a desejar em momento algum.
David Gordon Green intercala momentos de construção de novos personagens, estabelecendo uma relação entre eles, deixando, no entanto, algumas arestas que podiam ser aparadas, enquanto subverte a narrativa de seu precursor. De dada maneira, inverte os papéis dos personagens, mas de nenhuma maneira que aqui eu possa estragar a experiência ao dizer isto. Apenas uma constatação da sagacidade que Green, junto de seus co-roteiristas Jeff Fradley e Danny McBride (Alien: Covenant), utiliza para tornar a história mais empolgante e mais envolvente, preparando para uma catarse que, ao final, compensa plenamente a investida em retornar às raízes, mas sem deixar de olhar para a frente.
É emblemático, portanto, toda sua sequência final. Todavia, ela jamais seria passível de tal força e significado não fosse pelos nomes do elenco. Entretanto, até chegarmos lá as mulheres centrais à narrativa tomam para si as rédeas deste “Halloween”. Judy Greer (Casual) mais timidamente, visto que apesar de um importante papel, não possui assim tanto tempo em cena. Andi Matichak, que no filme interpreta a neta de Laurie Strode, é uma revelação e se apresenta como uma “Scream Queen” de respeito, dando personalidade à sua personagem e provando ser dona de uma força arrebatadora. É ótimo ver as duas em cena.
É ainda melhor, porém, vê-las juntas de Jamie Lee Curtis. A atriz volta a dar vida à sua personagem 40 anos mais velha e sua situação é completamente diferente, incorporada muito bem pela interpretação da atriz. Ela denota em seu trabalho os efeitos do trauma das experiências passadas, enquanto equilibra com o rigor adquirido pela figura para se tornar uma sobrevivente. A tênue linha existente entre os dois limites é algo que a atriz trabalha com sutileza, mas enorme maestria. Nos exibe, por entre as frestas, as feridas que carrega e o mal que adquiriu e do qual precisa se exorcizar, de uma vez por todas.
A crescente intensidade culmina em algumas das cenas mais funcionais do gênero em memória recente, o suspense toma conta do filme e o jogo que David Gordon Green realiza com a caça de gato ao rato é cheia de significados. Há uma beleza na maneira como se estabelecem os traumas e estes são trabalhados tanto imageticamente como desenvolvidos pela própria narrativa em si, entrando em um bem-vindo confronto durante o clímax. “A Forma”, como ficou conhecido Michael Myers, retorna com a pompa que ganhou ao longo dos anos, fazendo jus a seu sucesso.
Assim, a palavra que, talvez, melhor defina este novo “Halloween” é equilíbrio. Nostálgico na medida certa, utiliza isso a seu favor para gerar e acrescentar ao misticismo que envolve seus protagonistas. Fazendo desta, portanto, uma continuação que entrega um reencontro revitalizado e extremamente catártico. Ainda que seja um terror e aja como tal, reserva um simbolismo em seus personagens que tornam o filme numa experiência também emocional, em um nível psicológico funciona plenamente e recompensa aqueles que vencerem seu medo, assim como faz com seus personagens. É um deleite que o todo valha a pena para entregar algo tão gratificante, cuja encerramento é a cereja no topo do bolo. Michael Myers vive!
Laurie Strode e família igualmente!
2 Comments
Pingback: Os Indicados ao Critics' Choice Awards 2019 - Cine Eterno
Pingback: Os Indicados ao 24º Critics’ Choice Awards - Cine Eterno