Crítica | A Fera na Selva

Uma das máximas da vida é a de que devemos aproveitá-la. Afinal, a única certeza que ainda nos resta é a de que devemos morrer. No entanto, alguns arriscam-se a achar que isso não passa de um provérbio popular e de que há muito mais para ser feito, ou seja, além da morte, algo extraordinário deve ocorrer também. Algo que não tem como prever, algo que pode acontecer a qualquer momento, pode ser o amor, pode ser um gosto, pode ser qualquer coisa. O problema é que essa coisa pode não ocorrer e este “algo extraordinário” é capaz de ser o arrependimento.

Em A Fera Na Selva, João (Paulo Betti) é um professor de português que, durante uma viagem, reencontra Maria (Eliane Giardini) após 10 anos. A partir deste instante uma amizade surge e não se desgrudam mais. Viram confidentes de suas agonias em relação ao futuro. Ele tem a expectativa de que algo grande vai ocorrer na sua vida, algo inexplicável, mas que tudo fará sentido. Ela começa a dividir esses devaneios e assim a narrativa vai se desenvolvendo.

O roteiro é baseado no conto homônimo de Henry James e a ideia do filme surgiu da peça que Paulo Betti e Eliane Giardini encenam juntos pelo Brasil. O formato teatral aparece carregado na tela, tanto pelas atuações bastante exageradas do casal protagonista, quanto pelos diálogos que são muito expositivos. Alguns realizadores consegue fazer esse misto de teatro e cinema ficar muito natural e inserido no contexto do filme, outros não.

A Fera na Selva acaba soando muito artificial, principalmente pelo fato de que subestima o espectador com narrativas em off que descrevem pensamentos e agonias dos personagens que já ficaram explícitos em suas atitudes. Ademais, a discussão poderia ser muito mais profunda, a ponto de entendermos o porque dos personagens estarem muito preocupados com o futuro. Passam 10, 20, 30 anos e os personagens estão falando a mesma coisa, não há desenvolvimento.

A Fera na Selva, infelizmente, é um desperdício de tema. Indubitavelmente possui boas intenções, mas não sabe como executar as suas ideias, recorrendo sempre às saídas óbvias e fáceis. De qualquer forma, não posso deixar de reconhecer a importância de ver artistas com uma carreira sólida em novelas, se arriscando no cinema e fazendo uma produção nada convencional como esta. Só por isso, o filme já teve sua utilidade!

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