A Censora” (“Cenzorka”, 2021); Direção: Peter Kerekes; Roteiro: Peter Kerekes; Elenco: Maryna Klimova, Iryna Kiryazeva, Lyubov Vasylyna, Vyacheslav Vygovskyl, Raisa Roman, Irina Tokarchuk; Duração: 93 minutos; Gênero: Comédia, Drama; Produção: Ivan Ostrochovský; País: Eslováquia;

A Censora” é um filme bastante simples, na verdade, em se tratando de Olhar de Cinema, é um filme até padronizado demais, um pouco diferente do que estamos acostumados a ver na seleção do Festival Internacional de Curitiba. Ainda assim, é um dos melhores filmes a passar pela Mostra Competitiva. Há um quê de documental, e isso é porque Peter Kerekes se inspira numa história real e, além disso, consegue empregar uma naturalidade muito grande ao seu elenco, inclusive fazendo uso de “entrevistas”, algo que reforça essa impressão. Não duvido que ele tenha ali aproveitado para inserir histórias reais das outras prisioneiras que fazem parte das pessoas que aqui servem de inspiração. É um toque que dá ao filme a possiblidade de ser um tanto mais reflexivo, nos dá a oportunidade de repensar essas figuras marginalizadas e que, no caso do filme, em sua maioria são mães de recém nascidos ou prestes a dar à luz. É muito interessante como em tão pouco tempo, tendo pouco mais de 90 minutos, Kerekes consiga estabelecer tudo tão bem, suas personagens, a prisão, a dinâmica entre aquelas figuras. O fato é que, aqui, a simplicidade joga a favor do filme, fortalece a experiência de como é ficcionalizada a história.

Mas isso é feito com muita inteligência pelo cineasta, que divide o filme em basicamente duas perspectivas. Há a visão de uma prisioneira recém chegada e que acabou de dar à luz, Lesya (Maryna Klimova), e a visão de Iryna (Iryna Kiryazeva) chefe da prisão, e censora das cartas que recebem as presidiárias -daí o título. As duas personagens se complementam e servem em diferentes momentos como um espelho do espectador, tornando tudo mais fácil de se ver introduzido. A verdade, também, é que Kerekes consegue gerar uma empatia muito grande com todas as personagens a partir disso, mas o que ele extrai de ambas as protagonistas é algo muito visceral. Enquanto Lesya serve como um arquétipo para um sentimento mais triste, Iryna serve algumas vezes como alívio cômico, e isso força uma aproximação emocional com as duas, segredo para que tudo seja tão funcional e efetivo. Esse envolvimento e a sensibilidade com que Kerekes consegue desenvolver através de suas imagens, que dizem tanto sobre suas personagens, por vezes a refletem, fazem de “A Censora” um grande filme. Mesmo dentro de suas limitações, ele se destaca, mas justamente por estar ciente delas e como fazer bom uso destas. No fim, é uma jornada emocionante que, apesar de estar em um filme tão contido, ecoa para muito além.

Acompanhe aqui nossa cobertura do Festival Internacional de Curitiba. Confira aqui a programação completa do 11º Olhar de Cinema.

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