O Bem Virá” (2020); Direção: Uilma Queiroz; Roteiro: Uilma Queiroz; Elenco: –; Duração: 79 minutos; Gênero: Documentário; Produção: Kika Latache, Livia de Melo; País: Brasil; Distribuição: –; Estreia no Brasil: –;

Gosto como em determinado momento de “O Bem Virá”, a realizadora Uilma Queiroz não tem medo de colocar seu ponto de vista, sua opinião, como força narrativa do filme. Chama golpe de golpe, e joga verdades sem pudor algum sobre o preconceito sofrido por nordestinos. É justo porque Queiroz é também o tema de seu próprio documentário. A não ser pela narração, ela está sempre fora dele, mas é uma personagem como qualquer outra na história. Porque ela é parte e consequência direta de tudo que as mulheres que retrata em seu filme fizeram nos anos 80, na região do Pajeú, em Pernambuco. Conforme ela vai reencontrando as mulheres de uma foto tirada há tantos anos, e as entrevistando com tanta fluidez, não é apenas a história de cada uma delas que nos é contada, mas de toda uma região e como ela foi moldada, seja cultural, social, econômica ou politicamente. Queiroz ainda vai contextualizando com imagens de arquivo e construindo um cenário tão cristalino que expira a paixão que a realizadora tem pelo tema. É algo não só bonito, mas inspirador de se assistir. Ainda que seja doloroso assimilar o que essas mulheres passaram e a dificuldade enfrentada na região.

Não só contornar a miséria na qual tentavam sobreviver com suas famílias, mas com uma cultura machista e misógina, que na grande maioria das vezes subjugava essas mulheres. É difícil ouvir a todos os depoimentos, porque se trata de uma dura realidade. Como Uilma Queiroz olha para essas mulheres, olha para sua região, é o que torna “O Bem Virá” tão especial. Como ela desenvolve de maneira tão rica personagens e região através de praticamente quatro décadas, fazendo um panorama que aborda desde o mais íntimo ao contexto macro de como a situação no Brasil influencia tudo. Por isso no final suas palavras tão pessoais são tão marcantes, não é apenas uma opinião pessoal. É uma vivência que conquistou seu lugar e está cheia de ver seu povo como o atual governo deseja, por exemplo. É uma constatação dos fatos que tentam subjugar todos de volta a miséria. Não é pouca coisa, não o que ela faz. Que o diga o final que Uilma consegue para seu filme. “O Bem Virá” é grandioso!

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