Rosa Tirana (2021); Direção: Rogério Sagui; Roteiro: Rogério Sagui; Elenco: Kiarah Rocha, José Dumont, Stela De Jesus, Rogério Leandro, Carlos White, Yan Quadros, Jocimário Kannário, Mufula, Eliene D´Goió, Sindy Rodrigues, Maria Flor; Duração: 72 minutos; Gênero: Drama; Produção: Cramugêiro Filmes; País: Brasil; Distribuição: –; Estreia no Brasil: –;

O sertão brasileiro tem uma correlação com o divino muito forte, desde a literatura de cordel à “Deus e o Diabo na Terra do Sol“, de Glauber Rocha. Essa relação se potencializa pelo abandono, pela miséria, pela concepção de que há uma força maior da natureza que condena esse canto do país. Numa odisseia coletiva por soluções, a religião surge como a resposta maior. Roberto Sagui decide abordar isso com uma trama de mesclas em “Rosa Tirana“.

A história sem data e lugar definida pela cartela que abre o filme, também define o que há como concepção de espaço na obra. O sertão retratado pelo diretor é um lugar paralisado pela condenação eterna do inferno árido, onde para trazer uma chuva é necessário passar por uma jornada dantesca pelo mesmo. Esse é o pretexto para a trama de Rosa, uma menina que perde seu avô e mãe, ao entrar em uma busca pela Nossa Senhora do Imaculado.

Além dos cânticos e imagens fortes, a trama do longa-metragem se posta como uma passagem bíblica quase. O evento que tira a vida da mãe remete ao pecado fundador, a mordida de Adão, e a morte do avô soa como uma espécie de oração para que o mesmo deixe de sofrer em vida os males dali. “Teve muitas Marias que viraram Ave” esse contraste entre a desgraça e o divino permeia toda a composição das cenas dessa jornada.

A vegetação seca e morta faz uma composição que remete ao caminho de ladrilhos dourados de O Mágico de Oz. Difícil não pensar em “Rosa Tirana” sem remeter a outros filmes ou até mesmo obras da literatura, como A Divina Comédia, já citada. Mas não apenas de obras clássicas importadas vive o longa, existe um DNA glauberesco nos momentos protagonizados por adultos. Todo o relato do avô no enterro da filha, em que ele fala com a câmera sobre a eterna condenação daquele lugar, assim como a morte da mãe, em um ato divino após a filha tocar na rosa em meio aos espinhos, tem uma teatralidade exposta e visceral.

Porém, enquanto o cineasta dos anos 60 abria sua câmera e formava uma espécie de palco no quadro para que seus personagens proclamassem o texto, esses poucos momentos se abrem para um aspecto mais documental quase. A câmera busca closes e um naturalismo que pouco se repete durante o longa. O relato do avô é filmado quase como um de cunho jornalístico, passando por ali uma verdade que permeia toda a jornada da neta de forma mais abstrata.

Quando a canção pela santa surge ao final, após Rosa se frustrar por não achar a mesma no fim da estrada, ela ganha o tom de esperança por um dia em que a profecia se concretize. Ao entregar a rosa de volta para aquela que é carregada como a figura sacra, ela entrega o destino daquela terra ao metafísico novamente. Por entender sua impotência, provar-se pelo percurso e demonstrar arrependimento perante suas ações, ela e todo o sertão é recompensado com a chuva.

Desta forma, o filme consegue ser uma unidade sólida, que carrega suas ideias permeando temáticas-chave capazes de cativar e prender o espectador. No entanto, a obra peca em desenvolvê-las, criando poucos momentos verdadeiramente genuínos e deixando uma sensação de déjà vu. A obra é uma jornada interessante, mas de um caminho já familiar.

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Estudante de cinema, Roteirista e Produtor de curtas independentes. Crítico de cinema vulgar nas horas vagas.

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