MS Slavic 7” parece um filme perdido no tempo, na realidade, parece até mesmo um filme perdido em si mesmo. A obra co-dirigida por Sofia Bohdanowicz e a intérprete da protagonista, Deragh Campbell, tem muito a dizer, contudo, sem saber a maneira exata como fazê-lo. Como se trata de um filme que gira entorno de poetas trocando cartas em meados do século passado, obviamente que há a intenção de se criar aqui algo poético. Entretanto, o trabalho das duas diretoras se desencontra no meio do caminho, há uma tonalidade tragicômica que tenta emular algo similar a riqueza das metáforas que a bisavó de Sofia fazia uso em suas inspiradíssimas cartas.

O que a princípio é uma gag, logo se vê deslocada pelo contexto, que assume um tom de maior seriedade. Enquanto o que possui desde o início essa seriedade, no entanto, acaba culminado em algo que constrangedoramente engraçado, pois a maneira quase fetichista com a qual as diretoras filmam, literalmente, as cartas em questão, é algo que parece até mais um documentário sobre colecionadores de cartas antigas, mas pelo simples fato da observação das cartas, que são enquadradas de todas as formas possíveis enquanto manuseadas pela protagonista.

Essa é apenas uma primeira impressão, pois conforme se avança na narrativa, passamos a encontrar elementos que só difundem mais essa confusão. A música de fundo, por exemplo, varia entre o lírico e o kitsch dentro de uma mesma cena, mas sem exata razão de ser. As coisas apenas pioram quando somos apresentados a outros personagens, completamente unidimensionais e caricatos, como a tia da protagonista, e que dispensam uso de qualquer reflexão, ao menos do público, pois “MS Slavic 7” faz questão de os tratar com plena seriedade. Trazendo a tona conflitos incabíveis para o que a princípio encontrávamos na trama da personagem.

É também o saldo negativo resultante de um híbrido que mistura ficção e realidade de duas formas diferentes, pois enquanto dramatiza eventos da vida real, ou seja, dramatiza os eventos nos quais é baseado, também quer se prestar a um papel documental, como uma maneira de registro e, também claramente, de reconhecimento da bisavó de Sofia. Contudo, por mais que tente fazer jus ao trabalho encontrado na sua herança, Sofia parece até mesmo incapaz de compreende-lo, não surpreende, então, quando um homem, o tradutor das cartas, se dispõe a explicar a protagonista significados da obra que lhe pertence enquanto utiliza a mesma como uma forma de galanteio.

Enquanto está tentando implicar que as personagens de seu filme se encontram no estado temido pela autora das cartas, onde relatava crer a seu romance platônico que a cidade grande consumia aqueles que a habitavam, “MS Slavic 7” não se percebe como a própria epítome de tal relato.

Confira aqui nossa cobertura do 8º Olhar de Cinema.

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