Presenta na mostra Outros Olhares, “Espero tua (re)volta“, o longa documental de Eliza Capai, chega num momento extremamente pertinente. Após duas grandes manifestações nos dias 15 e 30 de maio, respectivamente, contra os cortes impostos pelo Ministério da Educação comandado pelo atual governo brasileiro. A premissa é acompanhar o movimento das ocupações escolares iniciado em meados de 2015, no Estado de São Paulo, liderado por estudantes secundaristas. Capai foca em três personagens principais, acompanhando a participação deles no movimento, na construção de uma narrativa em prol da reivindicação dos direitos básicos.

Os contrapontos que a edição faz em estabelecer ligações entre as manifestações populares de 2013, em prol do passe livre, 2015 e 2016, pela educação pública, conseguem demostrar a carência de liderança em meio a essas demandas exigidas. Os jovens Nayara Souza, Lucas Koka e Marcela Jesus lutam com retórica, se expõem em meio aos desmandos da polícia militar de São Paulo, fazem o possível para dar visibilidade ao movimento, carecendo de uma liderança política que os represente. Não por acaso, esse vácuo sentido pelos demais movimentos abriu espaço para a rejeição aos partidos políticos, seja em 2013 ou 2015, fato no qual os próprios estudantes classificam como erro, pois deu visibilidade ao movimento anti-político que, ironicamente, foi fundamental para a eleição de um deputado com sete mandatos à presidência da república.

Há um grande dinamismo na edição de “Espero tua (re)volta“, construindo uma narrativa que se comunique com seu público alvo, ao mesmo tempo que este provavelmente devem se sentir representados na tela. O tom de indignação vem ao se deparar com o autoritarismo escancarado da polícia militar, retratando como os resquícios da ditadura militar estão latentes, na tortura da juventude marginalizada, pobre e negra.  Capai adota um tom extremamente didático, para contextualizar o movimento, mostrar as suas consequências e incitar seu público em prol de mobilização. Soa necessário ser explicitamente explicativo, pelo momento de predomínio das fake news e das inúmeras tentativas de desmontar os movimentos sociais organizados.

Contudo, o principal demérito é soar um tanto parcial em sua representação. Há um maniqueísmo na construção de uma narrativa aonde o nós versus eles parece batido. Seria interessante haver o contraponto, ouvindo os secretários de educação e segurança pública de São Paulo, Herman Voordwald e Alexandre de Moraes. Ou mesmo, o candidato derrotado à presidência e ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Os raros momentos aonde se vê as vozes antagônicas são por reportagens burocráticas, mesmo os jovens favoráveis ao então governador não tem voz, sendo tratados como alívio cômico.

Odeio tipificar um filme como “essencial”, porém, “Espero tua (re)volta” funciona ao público, sobretudo o mais jovem, em demonstrar a força de uma mobilização, incitar o povo em não recuar e lutar por seus direitos. Informar, portanto, a população sobre o outro lado, de dentro das ocupações e do movimento estudantil, dando voz aos que são normalmente calados. É inspirador e rende um sopro de esperança para as futuras gerações, que estas consigam se mobilizar, dialogar com diferentes setores da sociedade e liderarem o país.

Pode parecer utópico, porém mais do que nunca é o que precisamos.

Confira aqui nossa cobertura do 8º Olhar de Cinema.

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