Mindhunter – 1ª Temporada (Netflix, 2017-); Criada por: Joe Penhall; Direção: David Fincher, Asif Kapadia, Tobias Lindholm, Andrew Douglas; Roteiro: Joe Penhall, Ruby Rae Spiegel, Dominic Orlando, Jennifer Haley, Tobias Lindholm; Elenco: Jonathan Groff, Holt McCallany, Hannah Gross, Anna Torv, Cotter Smith, Cameron Britton, Sam Strike, Happy Anderson, Jack Erdie, Sonny Valicenti, Stacey Roca; Número de Episódios: 10 episódios; Data de Lançamento: 13 de Outubro de 2017;
Mindhunter certamente não tem a mais original das propostas, na verdade só na carreira de David Fincher (Garota Exemplar) flerta com temas que ajudaram a consagrar o cineasta e que renderam produções as quais ambas muito cultuadas. É impossível dizer que a série da Netflix não traz a memória “Zodíaco (Zoadiac)”, contudo são apenas semelhanças e a originalidade sequer precisa ser questionada. O que se indica vendo isso é que, na realidade, ao se encontrar nessa posição a própria série comprova, com toda a sua qualidade, o que apenas atesto aqui, da maneira que consigo. O cuidado com o qual trabalha Fincher torna esta mais outra memorável realização sua.
Mas não é somente o renomado diretor o responsável pelo o que encontramos aqui. É bem verdade que ele parece muito mais proativo nessa segunda série em que se envolve na Netflix, atuando aparentemente como showrunner e, literalmente, puxando as cordas que movem a narrativa, ao menos no que diz respeito ao aspecto estético da série, não tão somente ao visual, mas na maneira como nos aproximamos dos elementos e personagens e como estes são abordados, porque o que encontramos enquanto assistimos aos episódios parece ter sido meticulosamente calculado, denotando um suposto perfeccionismo de Fincher com suas produções.
O que também torna ainda mais notável a diferença de qualidade para os episódios que não contam com sua direção. Ainda que os nomes que o sucedam não devam em nada nas suas filmografias, é gritante a diferença na qual Fincher consegue sustentar as principais sequências de Mindhunter, enquanto os outros se deixam levar por costumeiras escolhas. Porque muito da série de Joe Penhall reside nos diálogos, o que culmina numa montagem que é extremamente dependente de como se estabelecem planos e contraplanos em conversações frente a frente entre os agentes do FBI e os assassinos em série.
A maneira como se monta esses diálogos depende muito, também, das atuações. Jonathan Groff por ser o protagonista obviamente recebe, assim como merece, destaque. Sua entrega é louvável e a forma como faz seu personagem transitar durante os diálogos é de um puro magnetismo. A desenvoltura que o ator apresenta é admirável, principalmente porque se requer dele essa aproximação, ou uma espécie de adaptação, a personalidade daquele com quem dialoga. O que só pode ser refletido se for possível captar isso primeiramente em quem interpreta o sujeito em questão, ou seja, aqueles que vivem os assassinos em série em Mindhunter.
Sam Strike e Jack Erdie têm participações mais curtas, porém, são o suficiente para deixar claro como todo o trabalho de construção dessas figuras é de um enorme esmero. Resultando então, por exemplo, no impacto que causa Happy Anderson (The Deuce) com seu Jerry Brudos, logicamente por sua grave eloquência, mas cuja méritos recaem ao próprio ator. É diferente do que ocorre com o grande destaque nesse núcleo de personagens. O Ed Kemper de Cameron Britton é, no fim das contas, aterrorizante. Construído em sutilezas pelo ator, encontramos na delicadeza algo que se revela um próprio estudo dessa personalidade.
Os efeitos dessas conversações surtem de diferentes maneiras. O Holden de Jonathan Groff é consumido sem perceber, afetando diretamente suas relações. A contribuição de Hannah Gross à sua personagem é grandiosa também, porque com menos ela precisa fazer mais, precisa fazer frente a Holden. No fim ambos sucumbem um ao outro e suas reações são completamente condizentes com o que trabalharam em seus personagens ao longo da temporada. A química de ambos é algo a mais a se ressaltar, onde suas interações são sempre um deleite, decaindo quase para um jogo onde o que podemos fazer é simplesmente deixar-nos hipnotizar pela graça da atuação dos dois.
Porém, enquanto Anna Torv precisa de mais consistência e tempo para poder trabalhar sua personagem, quem rouba a cena e divide o protagonismo com Holden é o Bill Tench de Holt McCallany (Jack Reacher: Sem Retorno, Sully). Este sim, talvez, o grande nome em toda a temporada de Mindhunter. Seu personagem serve como um termômetro da série e a temática com qual se lida, sinalizando, portanto, conforme o andamento da série nos propícia cada vez um mergulho mais profundo na psique dessas figuras de comportamento divergente. O ápice dessa brilhante atuação e do que se constrói na série é o momento no qual o personagem simplesmente desaba em lágrimas na frente da esposa, num momento de pura catarse e o mais tocante em Mindhunter.
Entretanto, só é possível e plausível o choque de determinado momento quando retornamos a David Fincher. Sua construção dos diálogos é magistral e, por isso mesmo, nos consome mentalmente, pois flerta com o divergente, cria um estado que ao contemplarmos passamos a fazer parte deste. Assim como sua escolha por evitar a exibição de violência gráfica, que consequentemente não banaliza as ações, e sim as intensifica. O conjunto da obra é delineado, por fim, pela trilha sonora assombrosa de Jason Hill, a primeira do compositor e um trabalho que dá a Mindhunter o ambiente que precisa. Uma série assombrosa e que mexe com o espectador, hipnotiza e inquieta, onde deslize algum parece se fazer obstáculo.
Mindhunter – Trailer Legendado:
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