The Night Manager

(BBC One, 2016)

Direção: Susanne Bier

Roteiro: David Farr

Elenco: Tom Hiddleston, Hugh Laurie, Olivia Colman, Tom Hollander, Tobias Menzies, Elizabeth Debicki, Douglas Hodge, Antonio de la Torre, Michael Nardone, Alistair Petrie, Hovik Keuchkerian, David Harewood, Adeel Akhtar, Noah Jupe, Nasser Memarzia, Aure Atika, David Avery, Tábata Cerezo

Número de Episódios: 6 Episódios

Data de Exibição: 21 de Fevereiro a 27 de Março de 2016 (Reino Unido)

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O texto contém spoilers.

The Night Manager já carrega um certo peso por ser uma adaptação de John Le Carré, cuja obras que foram adaptadas na última década acabaram encontrando, em maioria, calorosos elogios, destacando-se como alguns dos melhores filmes no ano em que eram lançadas. No caso de The Night Manager temos uma minissérie, o que dá muito mais tempo para se trabalhar as densas tramas do autor de uma forma mais cadenciada. O melhor da adaptação, no entanto, é a maneira com a qual David Farr, roteiristas dos seis episódios, atualiza a trama de The Night Manager, colocando-a nos dias atuais e gerando um debate muito importante sobre situações contemporâneas.

Em The Night Manager, num hotel no Cairo, o ex-militar Jonathan Pine (Tom Hiddleston) trabalha dedicadamente como gerente noturno. Certa noite ele acaba conhecendo a amante de um traficante de armas árabe, cuja família é muito poderosa e temida. Ela pede um favor a Jonathan Pine, que o realiza cordialmente, mas ao perceber que está lidando com documentos que comprovam envolvimento britânico no contrabando de armas. Jonathan sente que necessita prezar pelo bem de sua nação, entrando em contato com um conhecido que trabalha no MI6, o serviço de inteligência britânico. As consequências dessa escolha, mesmo que Jonathan não saiba, o acompanharão por quase uma década de sua vida.

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O meu problema com The Night Manager começa logo no primeiro episódio e é contínuo, porque é o que moverá a trama quase toda da série. A importância disso, entretanto, só fui eu perceber no último episódio, quando num reencontro um personagem pergunta a outro o que o move, o que o motiva a fazer aquilo. Só que esse meu problema com The Night Manager, que está longe de ser uma minissérie ruim, pelo contrário, o problema é a recorrência dessa motivação de Jonathan Pine, onde não há trejeitos suficientes demonstrados por Tom Hiddleston para me convencer dessa importância toda que será atribuída a este elemento.

Qual, então, meu problema com The Night Manager? A maneira como é importante a relação de Sophie Alekan (Aure Atika) e Jonathan Pine. Essa relação é elemento chave na história. No entanto, ela acontece de maneira tão mecânica que eu simplesmente não consegui me convencer de que havia aquela importância toda na relação entre os dois. Lógico, na injustiça com qual é tratada a morte dela e seu encobrimento, aqui é racional a revolta do personagem de Tom Hiddleston. Porém, o que me incomoda é a maneira como os dois são tão repentinamente atraídos um pelo outro, não é algo que acontece, é algo que fazem acontecer.

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O mesmo acontece quando entra em cena a Jed de Elizabeth Debicki (O Agente da U.N.C.L.E.). A atração desta personagem com a de Tom Hiddleston é também tão mecânica, fazendo os acontecimentos que sucedem o encontro dos dois não serem mais do que previsíveis. Mesmo que essa relação ao menos seja desenvolvida até o último episódio, esse é um sério problema em The Night Manager, porque se dá mais atenção que o devido a estas relações, ofuscando o que a minissérie tem de melhor a oferecer. Então, quando questionado se fazia aquilo por Sophie, não só Jonathan Pine não pode ter certeza disso, como o público também não.

Por mais que Tom Hiddleston faça um trabalho interessante, são outros nomes que chamam mais atenção. Uma pena que sejam mais coadjuvantes, pois mesmo o bom trabalho de Elizabeth Debicki não é tão bom quanto o destes outros que merecem os maiores elogios na minissérie. O Corky de Tom Hollander, por exemplo, faz falta quando não está em cena, pois o ator desencadeia um peso, até por ser, dentre todos os personagens ali, o que mais se descontrola ao longo da minissérie. Exatamente pela complexidade do personagem, que parece combater sua homossexualidade se confirmando como alguém de forte caráter.

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Se Tom Hollander precisa ser o mais expressivo, Hugh Laurie precisa fazer exatamente o oposto. É nos episódios finais, principalmente no último, que nos damos conta da plenitude de sua atuação, que é delineada por uma sutileza requerida pela forma como seu personagem lida com suas negociações ilegais. Quando transita confusamente da posição de poder absoluto sobre o andamento das coisas, a não ter controle nenhum sobre nada, nem sobre sua própria vida. Seu destino, aliás, leva a um questionamento maior, e que é relacionado ao que The Night Manager tem de melhor a oferecer, literalmente.

Em dado momento da minissérie, é Angela Burr quem parece ser a personagem principal em The Night Manager. É uma consequência da atuação de Olivia Colman, disparadamente o melhor trabalho em toda a minissérie. A maneira como ela entra em cena parece magnetizar a história em torno de si, e muito da trama parece consequentemente revolver em torno dela. No último episódio, quando temos a personagem finalmente num confronto face a face com o Richard Roper de Hugh Laurie, compreendemos toda a complexidade da personagem. Somos aqui presenteados com um dos melhores trabalhos em minisséries feitas para a televisão.

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Não é de se dispensar o trabalho de Susanne Bier, que consegue dar um intimismo impressionante à The Night Manager. Muito pela maneira como ela é capaz de captar os olhares dos atores, a forma como sua câmera se aproxima dessas emoções expressas pela janela da alma. Diretora de todos os episódios, ela consegue fazer algo muito interpessoal em uma história que envolve muito do mundo externo, do qual ela também sabe lidar muito bem. Um exemplo claro disso é a cena do bombardeamento na vila, no quinto episódio, mesmo que os efeitos visuais não sejam dos melhores, a construção da cena é arrebatadora.

No final das contas, The Night Manager perde força justamente por esse problema da força motriz. As motivações da personagem de Olivia Colman, por exemplo, são muito mais atrativas e presentes do que as que movem a personagem de Tom Hiddleston. O resultado disso é um deslocamento. Ainda que a minissérie consiga contemplar ações e reações com qualidade, esse sentimento de justiça sendo feita não surge do centro da história, o que não permite que The Night Manager se torne uma obra completamente notável. É, entretanto, um ótimo trabalho, tanto de atuação, como de direção e roteiro. Conta bem uma história, porém, tinha potencial para muito mais.

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