Orange is the New Black (4ª Temporada)

(Netflix, 2013-presente)

Direção: Andrew McCarthy, Constantine Makris, Erin Feeley, Tricia Brock, Uta Briesewitz, Mark A. Burley, Phil Abraham, Lev L. Spiro, Matthew Weiner, Adam Bernstein

Roteiro: Jenji Kohan, Sara Hess, Jim Danger Gray, Carly Mensch, Jordan Harrison, Lauren Morelli, Nick Jones, Alex Regnery, Hartley Voss, Tara Herrmann

Elenco: Taylor Schilling, Michael Harney, Kate Mulgrew, Danielle Brooks, Uzo Aduba, Dascha Polanco, Samira Wiley, Nick Sandow, Selenis Leyva, Lea DeLaria, Yael Stone, Taryn Manning, Vicky Jeudy, Emma Myles, Annie Golden, Jackie Cruz, Laura Prepon, Adrienne C. Moore, Diane Guerrero, Natasha Lyonne, Jessica Pimentel, Abigail Savage, Laverne Cox, Elizabeth Rodriguez, Constance Shulman, Beth Fowler, Matt McGorry, Kimiko Glenn, Lolita Foster, Lin Tucci, Laura Gómez, Julie Lake, Matt Peters, Alysia Reiner, Lori Tan Chinn, Lori Petty, Deborah Rush, Alan Aisenberg, Brad William Henke, Beth Dover

Número de Episódios: 13 episódios

Data de Lançamento: 17 de Junho de 2016

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O texto contém spoilers.

Orange is the New Black é uma série que, acredito, conversa muito com nosso estado pessoal. Não me refiro, entretanto, a questão da opinião, em relação ao que se pensa de algo, pois aqui, como sempre, a série da Netflix tem função social essencial de conscientizar. Apesar do atraso em relação a assistir e resenhar ser similar entre a terceira e a quarta temporada da série, ambos acontecem em momentos completamente divergentes da minha vida pessoal. O que penso influenciar na forma como os acontecimentos, situações e escolhas feitas nesta temporada me atingem. Não que comprometa algo, simplesmente sinto que avalio o conteúdo de maneira mais dura.

Com a chegada de novas prisioneiras e a fuga temporária das antigas, devido ao buraco na cerca, Orange is the New Black começa sua quarta temporada a todo vapor. O que dá a entender que as personagens, este ano, não terão sossego algum. Ainda mais que, após a renúncia dos antigos guardas, Joe Caputo (Nick Sandow) recebe reforço vindo da prisão de segurança máxima, com o excesso de força praticamente personificado em Desi Piscatella (Brad William Henke). Além disso há, ainda, a introdução da instabilidade, com os oficiais veteranos de guerra que se instalam nas casas abandonadas às margens do lago.

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A geografia de Litchfield não é das melhores, é verdade. Ainda assim, não prejudica as importantes idas até ali, que culminam não só em pequenos acontecimentos, não se deixem enganar, mas sim no momento de fúria derradeiro das prisioneiras de Litchfield, no final da temporada. Independentemente disso, a verdade é que Orange is the New Black traí, de certa forma, essa sua premissa de que as coisas ficarão ainda mais caóticas. O excesso de prisioneiras está presente, mas sempre em segundo plano, com chuveiros e banheiros químicos lotados, no entanto, nunca é convertido como maior preocupação.

O problema é que essa temporada da série é castigada pelo excesso de personagens, elemento que nem sempre ruim, pois em muitos casos são personagens muito bem trabalhados. O castigo, entretanto, é que muitas das prisioneiras também são mantidas em um segundo plano. O foco, portanto, recaí sobre outras personagens, só que mesmo esse foco é prejudicado pelo grande número de tramas paralelas. Assim, ao mesmo tempo em que nos vemos aprisionados por um protagonismo desnecessário, acompanhamos a série tentando desvencilhar-se sutilmente disso. O que não ocorre como esperado e, se para muitos já era insuportável, Piper Chapman (Taylor Schilling) se supera nesta temporada.

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O problema que é Piper Chapman fica perceptível na falta de interesse em continuar a explorar suas tramas, seja o império de calcinhas, seja nas relações familiares. Tanto que a primeira vez na qual ela entra em contato com alguém da família, nesta temporada, acontece somente no oitavo episódio. Ademais, suas tramas acabam recaindo em recorrências que são redundantes, ainda que demonstrem, superficialmente, formas de se equivocar em relação às reivindicações e movimentos de minorias, gerando uma intolerância condenável. Contudo, um dos elementos mais incômodos da trama de Piper é sua relação com Alex Vause (Laura Prepon), que demonstra uma indecisão tremenda de Orange is the New Black.

Já na trama de Alex Vause é onde Orange is the New Black vai na contramão da premissa dessa temporada, na maneira com a qual é lidada o assassinato. O que parecia que consumiria a personagem em poucos episódios, estendeu-se até o décimo episódio da temporada, vindo à tona numa bela conveniência do roteiro. A maior vantagem dessa trama foi desvendarmos a Lolly de Lori Petty, facilmente uma das melhores personagens da temporada, e vermos ela em conjunto do Sam Healy de Michael Harney. A interação entre os dois é de uma incrível sensibilidade, onde um parece selar o destino do outro.

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São momentos o que se destacam nessa temporada da série. Grandes acontecimentos, pequenos acontecimentos de enorme significância. São estes o que salvam a temporada. Como o flashback de Suzanne, a Crazy Eyes (Uzo Aduba), que só torna a personagem ainda mais rica em camadas. Diferente, por exemplo, do que acontece com Maritza (Diane Guerrero), ainda mais que sua trama envolve um dos principais estopins da temporada, quando ela é torturada nas mãos do oficial Humphrey (Michael Torpey). Elementos assim, penso, revelam mais uma falta de empenho de Orange is the New Black do que qualquer outra coisa.

A maneira com a qual a série flerta em demasia com a vida exterior de Caputo, explorando sua relação com Linda (Beth Dover), ofusca dramas mais interessantes, como o encarceramento confinado à solitária de Sophia Burset (Laverne Cox). Essa negligência em se aprofundar em determinadas tramas acaba sendo crucial no resultado final da temporada. Todavia, também é sentido durante a própria temporada, onde, por exemplo, a reação de Boo (Lea DeLaria), quanto a conciliação de Pennsatucky (Taryn Manning) e Donuts (James McMenamin), não é completamente condizente com aquilo o que prega Orange is the New Black. Essa falta de atitude se repete no retorno de Nicky (Natasha Lyonne), que ocorre de maneira deveras artificial.

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Ao invés de recorrer a sua melhor faceta, de drama, Orange is the New Black alivia completamente o peso de suas tramas ao cair de amores pela relação entre Judy King (Blair Brown) e Luschek (Matt Peters), sendo que a presença dela dentro de Litchfield poderia exercer papel muito mais funcional do que flashbacks em alguns episódios. Porque a derradeira tragédia da temporada, e talvez a maior até agora em Orange is the New Black, cai no antigo clichê de dar demasiada atenção ao personagem que em seguida será morto. A série inclusive entregou o autor do crime/acidente previamente, ao dedicar os flashbacks do penúltimo episódio à Baxter Bayley (Alan Aisenberg), sendo que, numa ação no episódio anterior e num diálogo entre ele e Caputo, o caráter do personagem já havia sido definido.

Com um episódio posterior a tragédia, a certeza de que Orange is the New Black trabalhou em prol de aliviar a perda é clara, inexplicável é Poussey (Samira Wiley) quebrando a quarta temporada no final do último episódio. Confirmada para pelo menos mais três temporadas, a série se encaminha para mudanças drásticas, a melhor delas seria abrir mão de Piper, dando liberdade para aprofundar ainda mais outras personagens, explorando suas tramas. Recolocar em jogo pautas sérias, trabalhando-as com sinceridade, deixando a faceta do humor em segundo plano, e não o inverso. Orange is the New Black se tornou uma peça social importante demais para leviandades.

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