Game of Thornes (6ª Temporada)

(HBO, 2011-presente)

Direção: Jeremy Podeswa, Daniel Sackheim, Jack Bender, Mark Mylod, Miguel Sapochnik

Roteiro: David Benioff, D. B. Weiss, Dave Hill, Bryan Cogman

Elenco: Peter Dinklage, Lena Headey, Emilia Clarke, Kit Harington, Sophie Turner, Isaac Hempstead Wright, Liam Cunningham, Maisie Williams, Ellie Kendrick, Nikolaj Coster-Waldau, Nathalie Emmanuel, Iain Glen, Alfie Allen, John Bradley, Conleth Hill, Aidan Gillen, Gwendoline Christie, Rory McCann Natalie Dormer, Carice van Houten, Daniel Portman, Kristofer Hivju, Kristian Nairn, Hannah Murray, Finn Jones, Iwan Rheon, Michiel Huisman, Tom Wlaschiha, Anton Lesser, Art Parkinson, Gemma Whelan, Faye Marsay

Número de Episódios: 10 episódios

Período de Exibição: 24 de Abril a 26 de Junho de 2016

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O texto contém spoilers.

Relendo minha crítica da quinta temporada de Game of Thrones, percebi algo muito sério: o quão incondicional era minha avaliação da série. Por mais que eu estivesse inclinado a me decepcionar com ela, me continha. Percebi, relendo o texto, que havia gostado muito menos do que eu imaginava. O que era realidade, pois eu tinha gostado ainda menos do que havia expressado no texto. Tanto que, para este ano da série, minhas expectativas não eram das melhores. Enquanto as prévias enlouqueciam e animavam a internet, eu não conseguia encontrar a mesma energia para tal. No fim das contas, me apaixonei novamente com a série, ao mesmo tempo em que encontrei diversas ressalvas a serem feitas.

Nesta sexta temporada, mais do que nunca antes, nos víamos à parte das histórias dos livros, afinal, o quinto ano se encerrou com uma das maiores dúvidas que paira sobre os leitores da série e que, devido as camadas de George R.R. Martin, pode ter resoluções muito diferentes. Esse pensamento é algo muito importante no momento de separar os dois materiais, porém, também funciona como uma forma de revelar uma das grandes falhas de Game of Thrones, relacionada a um dos personagens que ficou de fora do ano anterior, semelhante ao que aconteceu nos livros. Porém, tudo aqui, na série, claramente alinha as peças para a reta final do jogo.

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O que nos leva diretamente a uma jogada já cantada, nos livros, mas feita de forma completamente equivocada na série. Dorne têm alguns dos melhores personagens, ao menos nos livros. Na série, fomos reduzidos apenas a Oberyn Martell (Pedro Pascal). O problema, entretanto, não é a divergência dos livros, mas o tamanho do problema que David Benioff e D.B. Weiss fizeram escolhendo tais opções para uma das casas mais importantes da história. Não só digo que foi um problema, como tenho apoio dos próprios roteiristas/criadores/showrunners da série que, percebendo o erro, não souberam o que fazer com as personagens e “esqueceram” Dorne ao longo da temporada.

As serpentes de areia retornam somente para coroar outra falha, numa participação que dá a Varys (Conleth Hill) uma única fala e uma dor de cabeça ilógica, quando ele faz uma viagem de retorno para dar as caras na cena final da temporada. Não faz sentido a ida e volta do personagem, e fica ainda menos plausível quando Bryan Cogman tenta defender o ocorrido, mostrando ele próprio não compreender que uma segunda fala, na participação mínima de Varys, faria toda a diferença. Porém, estamos aqui falando de Bryan Cogman, autor do infame estupro da personagem Sansa (Sophie Turner) na temporada passada.

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Aqui clarifica-se como foi um grosso deslize incluir o estupro, usado como uma ferramenta, em certo momento desta temporada, para fazer a personagem crescer a partir de um trauma. É uma abordagem falha e superficial, que demonstra a insensibilidade do roteirista. O que culmina em um ápice na cena de Yara (Gemma Whelan) e Theon (Alfie Allen) numa parada prévia a Meereen. Ali, Bryan Cogman tenta demonstrar a frieza dos Greyjoys, no entanto, por mais que o faça, só esboça um machismo incoerente e defenestra o desenvolvimento de Theon, justamente por, assim como ocorre com Sansa, não saber lidar com traumas. Num estado de depressão não só proveniente do psicológico, mas da tortura física, jamais se encara alguém da maneira como o roteirista induz Yara a fazer com o irmão.

É uma relação muito forte com a inferioridade da primeira metade desta temporada, que muitas vezes simplesmente se rende às tentativas de constante deslumbramento e até fan services. Este último elemento que se estende por toda temporada, assim como no retorno de Sandor Clegane (Rory McCann), por exemplo, onde não se tem uma cena à toa com galinhas. Por mais que agrade, demonstra como o roteiro se dobra às vontades do público, por isso mesmo não foi grande surpresa o final do episódio no qual Jon Snow (Kit Harrington) retorna à vida. Muitos dos acontecimentos, independentemente de spoilers correndo soltos internet afora, são previsíveis por se curvarem a essa vontade alheia.

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Tanto que a passagem de Daenerys (Emilia Clarke) pelo Dosh Khaleen, apesar de render um dos acontecimentos mais satisfatórios da série para a personagem, se deu de maneira até efêmera. Sendo facilmente ofuscado por outros acontecimentos ao longo da temporada. Também por essa vitória dela ser previsível, diferente dos livros, onde as chances de Daenerys são muito menores, também pelos dragões não simplesmente cederem às ordens quando é conveniente ao roteiro. O que leva à conclusão que é desnecessária a introdução de Euron Greyjoy (Pilou Asbæk) que, diferente dos livros, aqui tem apenas sua genitália a oferecer.

Dos momentos relacionados ao núcleo dos dragões, dois destaques funcionam de maneira fundamental para a trama. O primeiro deles é a relação entre Jorah (Iain Glen) e Daenerys, numa cena que é fiel ao máximo a relação dos personagens, sem precisar recorrer a saídas fáceis. O outro é, talvez, um dos meus momentos favoritos dentre tudo que já ocorreu em Game of Thrones: a soltura dos dragões. Não porque eles são soltos, mas porque o Tyrion (Peter Dinklage) daquela cena é Game of Thrones em sua essência. Quando, mesmo recheada de efeitos visuais, a série tem seu momento mais natural e honesto, dando inveja, provavelmente, até a George R.R. Martin, que não chegou nem perto de construir tal momento.

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E falando em construção de momentos, a recriação do momento em que Jaime Lannister (Nikolaj Coster-Waldau) conquistou a alcunha de Kingslayer foi o melhor fan service da série. Contudo, a partir de uma maneira muito equivocada, relacionada a uma escolha prévia a essa temporada. Ao optarem por não usar flashbacks, por durante quatro temporadas, os roteiristas abarcaram apenas uma linha temporal de Game of Thrones. Assim, aparte do flashback desnecessário de Cersei (Lena Headey) na temporada passada, somos apresentados ao passado através de Bran Stark (Isaac Hempstead Wright) de maneira que não só descarta a mitologia dos livros, mas demostra que os flashbacks são essenciais, além de conferir ao personagem uma capacidade que não é bem-vinda, por mais que renda a confirmação de uma teoria há muito comentada. Esses flashbacks, ou a ausência deles anteriormente, entretanto, são exatamente o que fizeram a série avançar aos livros tão rapidamente.

Quanto a teoria confirmada, ela confere a um dos dois grandes personagens desta temporada um desfecho concomitante. Jon Snow sempre foi um dos melhores personagens na série e, na temporada que se resolveu uma das tramas dos livros em relação a ele, o que vimos foi, na verdade, a conclusão de um desenvolvimento incrível do personagem. A atitude precipitada no campo de batalha só revelou a integridade do herói e, nesse campo de batalha, construiu-se uma das melhores sequências na história da televisão. Todo o nono episódio, na realidade, é um marco histórico. Não só pelos feitos conquistados tecnologicamente, mas por embasar tudo isso em sequências que priorizavam seus personagens, principalmente Jon Snow em meio a caótica batalha dos bastardos.

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Outro grande personagem da temporada foi uma mulher. A mulher mais poderosa de Westeros, a mulher mais poderosa de Game of Thrones, mesmo não tendo dragões. Cersei Lannister também foi desenvolvida plenamente nesta temporada, alcançando aquilo ao que sempre aspirou. Por mais que, em teoria, ela seja uma das vilãs da série, a personagem de Lena Headey é, na prática, a melhor jogadora, a mais competente. O melhor de tudo: não esconde suas mágoas. Seus traumas são lidados de maneira, senão correta, honesta. Septã Unella (Hannah Waddingham), Alto Pardal (Jonathan Pryce), Margaery (Natalie Dormer) e companhia são provas disso.

Portanto, não parece ser um acaso os dois últimos episódios trazer algumas diferenças nas composições de Ramin Djawadi, que dá à trilha sonora da série sensacionais novas variações. Essas variações não se dão, por exemplo, nos erros cometidos pela série. Uma das insistências mais incômodas foi a permanência do diretor Mark Mylod, que voltará também para a sétima temporada. Se no ano passado ele entregou os mais fracos episódios, aqui repetiu o feito, pior ainda foi que teve a trama da Arya (Maisie Williams), numa perseguição que era mais dublê que atriz, que só retornou para uma cena fan service, no final da temporada, que poderia ser postergada. O que revela que Game of Thrones está cada vez mais próxima de um final. Porém, se quiser se encerrar em alta, precisa superar algumas inconsistências e insistências, abrir mão de se curvar à vontade alheia e, mais do que nunca, seguir seu próprio caminho.

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