Bates Motel

(A&E, 2013-2016)

Direção: Tucker Gates, Tim Southam, Phil Abraham, T.J. Scott, Sarah Boyd, Olatunde Osunsanmi, Nestor Carbonell, Stephen Surjik

Roteiro: Carlton Cuse, Kerry Ehrin, Torrey Speer, Steve Kornacki, Alyson Evans, Tom Szentgyorgyi, Erica Lipez, Scott Kosar, Philip Buiser, Freddie Highmore

Elenco: Vera Farmiga, Freddie Highmore, Max Thieriot, Olivia Cooke, Nestor Carbonell, Damon Gupton, Jaime Ray Newman, Andrew Howard, Terence Kelly, Ryan Hurst, Marshall Allman, Kelly-Ruth Mercier, Aliyah O’Brien, Karina Logue, Fiona Vroom, Craig Erickson, Anika Noni Rose, Louis Ferreira, David Cubitt, Luke Roessler, Alexia Fast

Número de Episódios: 10 episódios

Período de Exibição: 07 de Março a 16 de Maio de 2016

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O texto contém spoilers.

Bates Motel em sua terceira temporada deixou claro quem era seu protagonista, nos fazendo remeter, principalmente no final da temporada, ao icônico personagem central do filme de Alfred Hitchcock, um dos mais cultuados na história do cinema. Portanto, se nos fazia remeter de maneira tão forte ao personagem, quer dizer que estávamos próximos de ver a história encaminhar-se para o final que já conhecemos. Assim, em sua inconsistente quarta temporada, Bates Motel se apoia mais uma vez nas atuações de Vera Farmiga e Freddie Highmore para alinhar o caminho a ser seguido no ano que vem, na sua quinta e derradeira temporada.

Após os acontecimentos do último episódio da terceira temporada, Norman (Freddie Highmore) acorda sem saber o que exatamente aconteceu, enquanto sua mãe, Norma (Vera Farmiga), conta com a ajuda de Dylan (Max Thieriot) na busca por seu filho, agora desaparecido há alguns dias. Em outra parte da cidade, o xerife Alex Romero (Nestor Carbonell) dá fim no crime que cometeu e nas evidências que podem levar até ele. Já Emma (Olivia Cooke) se prepara para um transplante de pulmão, uma chance que ela tem de finalmente encontrar paz em sua vida. Com tanto acontecendo, novos laços surgem e certas situações chegam a um ultimato.

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O que não parece fazer efeito, mesmo próximo ao final da série, na tentativa de se introduzir personagens dos quais somente se havia falado, porém, que não havia a necessidade de darem as caras. Ainda mais quando, por exemplo, Audrey (Karina Logue), a mãe de Emma, entra na história simplesmente para perecer frente a um Norman enfurecido com as restrições e receios de sua mãe. A personagem não só não teve o desenvolvimento necessário, como desempenhou um papel dentro da trama que não agregou tanto como poderia se apenas tivesse deixado a carta para Emma, ao invés de ter que morrer pelas mãos de Norman.

O problema de personagens mal desenvolvidos e surgindo na hora errada se estende além da mãe de Emma, exatamente quando a Rebecca Hamilton de Jaime Ray Newman surge como personagem chave numa das principais tramas de Bates Motel. A gerente do banco da cidade, que tinha um caso com o xerife e envolvimento com a lavagem de dinheiro local, surge como algo que essa quarta temporada de Bates Motel usa e abusa: conveniência. A personagem, no entanto, se faz presente dentro da trama, e da série, de uma maneira que não chega a funcionar muito bem, evidenciando um excesso desnecessário dos roteiristas.

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Por falar em excessos desnecessários, falemos daquele que é a maior conveniência de Bates Motel. O internamento de Norman no centro psiquiátrico não é uma surpresa, é verdade, mas funciona como uma grande conveniência nesta temporada para acelerar a transição de Norman para Norma, isso de uma maneira que não é, exatamente, a melhor que poderia acontecer. Bates Motel acaba apelando para um desenvolvimento barato de sua trama, mais pobre do que o conteúdo que sabemos que a série tem a oferecer. Não somente é assim, mas afasta os dois personagens que movem a trama em frente.

O grande elemento de Bates Motel é, sem dúvida alguma, o relacionamento de Norma e Norman, muito por conta das brilhantes atuações de Vera Farmiga e Freddie Highmore. Portanto, ao afastar os dois personagens, a série precisa desesperadamente trabalhar uma forma de reaproxima-los. A reunião dos dois vem num episódio que, caso não tenha percebido, foi feito especialmente para agradar aos fãs de Lost, série que lançou ao estrelato Carlton Cuse, co-criador de Bates Motel. O episódio em questão é o sétimo desta temporada, There’s No Place Like Home, que não foi escrito por Carlton Cuse, é verdade, contudo foi dirigido por Nestor Carbonell, outro remanescente de Lost, série que tem um episódio em três partes com este mesmo título, todos co-escritos por Carlton Cuse.

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Voltando a Bates Motel, a relação de Norma e Norman, e a transição deste segundo para a personalidade da primeira, contou principalmente com a competência dos diretores nesta temporada. Um destaque merecido é o do quarto episódio, que dirigido por T.J. Scott nos leva a acompanhar uma aventura com Norman e Julian (Marshall Allman). Todo o episódio é muito bem elaborado, mas a sequência de Norman no lounge Vip com Athena (Alexia Fast), mesmo que faça uso de trucagens simples, consegue nos proporcionar um momento envolvente e memorável, coroado, novamente, pelas atuações dos atores principais.

É uma pena que o elenco de apoio de Bates Motel, por mais que se mostre mais competente que em outros projetos paralelos, não consiga se sobressair a algo acima da média. O maior destaque dessa temporada, ao não se tratar da trama principal, foi o melodrama entre Dylan e Emma. Quando a parte mais novelesca de Bates Motel falou mais alto, todavia, com qualidade de sobra, com cenas que exploravam a fragilidade de ambos personagens, bem como dos caminhos pelos quais os dois percorreram até se encontrarem. Em meio a tantas tragédias, muitas que ainda estão por vir, é um final feliz à vista que pode deixar Bates Motel no mínimo com um gosto agridoce.

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O que faz sentido quando consideramos quem é que a série está construindo. Por mais que Norman seja um personagem icônico, por mais que, mesmo em Bates Motel, o personagem consiga extrair a simpatia do público, não há redenção para o personagem, ao menos não nesse período de tempo que a série aborda e muito menos naquele que se conheceu há mais de meio século atrás. O fato de que Bates Motel é um encaminhamento para algo trágico não é segredo, e fomos relembrados disso com o acontecimento do final desta quarta temporada.

Que Norma morreu, não há dúvidas. Agora, se essa temporada mostrou que seus dois personagens principais, separados, não são a melhor opção, agora precisa mostrar que juntos, mais próximos do que jamais foram, funcionam sem apelar a exageros. O final da temporada foi um episódio de luto, selando a transição de Norman numa temporada que, para chegar a tal acontecimento, abusou demais das conveniências do roteiro. Apesar de deslizes em um ou outro quesito, na competência técnica Bates Motel conquista no que falta de audácia aos seus roteiros. Resta esperar que a última temporada, que deve se encerrar momentos antes de onde começa a história de Psicose (Psycho), tenha qualidade o suficiente para elevar a série ao patamar que ela merece, não a deixando somente às sombras do clássico de 1960.

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