Crítica | 13 Reasons Why | 1ª Temporada

- in Séries de TV
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13 Reasons Why (1ª Temporada) (Netflix, 2017-); Criada por: Brian Yorkey; Direção: Tom McCarthy, Helen Shaver, Kyle Patrick Alvarez, Gregg Araki, Carl Franklin, Jessica Yu; Roteiro: Brian Yorkey, Diana Son, Thomas Higgins, Julia Bicknell, Nic Sheff, Elizabeth Benjamin, Kirk Moore, Hayley Tyler, Nathan Louis Jackson; Elenco: Dylan Minnette, Katherine Langford, Christian Navarro, Alisha Boe, Brandon Flynn, Justin Prentice, Miles Heizer, Ross Butler, Devin Druid, Amy Hargreaves, Derek Luke, Kate Walsh, Brian d’Arcy James, Sosie Bacon; Número de Episódios: 13 episódios; Data de Lançamento: 31 de Março de 2017;

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(Divulgação: Beth Dubber/Netflix)

O texto contém spoilers.

Por quantas vezes comecei a escrever sobre 13 Reasons Why é algo complicado de quantificar, seja na minha cabeça ou digitalmente no papel. A verdade é que, enquanto bastante válido debater a nova -e talvez já finada?- série da Netflix, há também um enorme desgaste sobre a mesma, considerando a enorme repercussão angariada sobre o produto do serviço de streaming. Possivelmente escrever sobre a série é, então, tomar um dos lados apresentados na discussão. A verdade é que o que temos aqui, porém, é algo que podemos encarar com um termo bastante conveniente pela participação de Tom McCarthy como diretor, dos dois primeiros episódios, e produtor executivo da série. Porque ainda que não ache seu projeto anterior de todo o ruim, é fato que 13 Reasons Why sofre de algo que podemos classificar como “efeito Spotlight”, referenciando exatamente o filme Spotlight – Segredos Revelados, vencedor do Oscar de Melhor Filme no ano passado. Ainda que mais competente tecnicamente, a produção não era de nenhuma primazia ou inspiração que se sobressaísse ou fizesse mais que algo mediano. Contudo, sua temática era tão contundente que fazia do filme algo veemente. Era, portanto, algo muito mais passional, que se relacionava muito mais ao emocional. O que claramente se repete na série, mas sem a mesma versatilidade para acobertar deficiências técnicas, que por vezes surgem com enorme gravidade.

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(Divulgação: Beth Dubber/Netflix)

Um dos pontos que mais influenciam nessa derrocada de 13 Reasons Why, além de estar se apresentando como um problema recorrente nas produções originais da Netflix, é justamente sua duração, pois, fica bastante óbvio que se fosse algo mais enxuto também se tornaria de um acompanhamento muito mais agradável. Evitando, assim, o próprio desgaste que torna a série em algo enfadonho em determinado momento, mostrando que se alongou além do devido. Há, lógico, a justifica das 13 fitas deixadas por Hannah Baker (Katherine Langford), com a tentativa de dedicar um episódio a cada uma delas. O que torna a série, também, em algo praticamente procedural, que em outros tempos, anteriores a febre da Netflix e ao binge watching, nos referíramos como a “fita da semana”. Aqui reside uma dinâmica que entrega bastante sobre o funcionamento, não completamente correto, da série no geral. Porque a intenção é, obviamente, explorar a individualidade de cada um dos adolescentes envolvidos nas fitas. A tentativa é de mostrar que para toda a história há dois lados, mesmo que um deles não esteja sempre correto. O que, também, aborda a possibilidade de se ignorar o fato daquilo pelo que Hannah estava passando em meio ao bullying na escola. A diferença é que numa pegada mais focada ao público adolescente, mas não inteiramente dedicada ao mesmo, 13 Reasons Why se vê bastante fragilizada.

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(Divulgação: Beth Dubber/Netflix)

Havia momentos em que a série me fazia remeter diretamente a segunda temporada de American Crime, que muito mais enxuta e complexa, e não tendo inteiramente os adolescentes como seu foco principal, se sobressaí completamente ao que é retratado aqui. A temática é em parte semelhante, mas o olhar que American Crime lança, que soa de uma maturidade muito maior, acaba resultando, só que com muito menos tempo, exatamente no que 13 Reasons Why queria para seus personagens, dando a eles uma ambiguidade que justificasse os diferentes pontos de vista, numa profundidade que realmente nos levava a questionar o que, até então, se assumia por fatos. Quando falam que essa realidade das fitas é a verdade de Hannah Baker, mas não dos outros, faz parecer algo muito maniqueísta, como o complô dos personagens aparentemente antagonistas que temem e tentam impedir que Clay Jensen (Dylan Minnette) ouça ao que Hannah tem a dizer. O próprio suspense que 13 Reasons Why faz em relação a presença de Clay, como uma das razões nas fitas, decaí para o maniqueísmo, mas se revela mesmo de uma tolice tremenda. Porque a resolução dada à presença dele ali é, no fundo, uma ferramenta barata justamente para tentar empreender o suspense que se cria, praticamente subvertendo a lógica do que acarreta nas escolhas da personagem de Katherine Langford.

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(Divulgação: Beth Dubber/Netflix)

O que se ignora aqui, porém, é o que a narrativa de 13 Reasons Why oferece de melhor. Porque o declínio da saúde mental de Hannah Baker ser imperceptível aos outros não é, de fato, equívoco algum. Sofrer em silêncio e amargar internamente sua depressão, isso quando se reconhece a doença, é tão mais comum do que parece. O que se perde em meio ao anseio total que a série tem são as grandes motivações por detrás de tudo aquilo que sofre a protagonista. O machismo e o sexismo são figuras centrais, não só porque propriamente ditos são introduzidos na trama e subjugam a personagem, assim como a homofobia, mas porque, num quadro muito maior, são essas diretrizes ignorantes que moldam muito do que acontece na sistemática em que se estabelecem regras e códigos subentendidos do convívio social. O personagem de Dylan Minnette podia muito bem funcionar como uma didática desconstrução dessas limitações, o que também se apresentaria como um problema, independentemente disso há sim, aqui, uma romantização parcial da percepção do personagem com o destino de Hannah. A verdade é que 13 Reasons Why falha em não perceber a própria desatenção que tem com a Skye de Sosie Bacon, e a maneira como cria um estereótipo para a mesma reflete o desenvolvimento que falta ao restante da série. Porque dar atenção a Skye e, possivelmente, torna-la naquela que busca e consegue a ajuda, era uma mera questão de realmente dedicar alguns minutos a mais a personagem e seu desenvolvimento, que, no fim das contas, acaba desempenhando um papel teoricamente grande na vida de Clay.

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(Divulgação: Beth Dubber/Netflix)

O que deixa perceptível, também, que a adequação da temática não é completamente condizente com o público alvo visado por 13 Reasons Why. Aí surge a polêmica, do teor explícito dos principais acontecimentos. O elenco não é bom o suficiente para conduzir o (melo)drama nas demais cenas, carecendo aí de sustentação, o que não se reflete na atuação de Katherine Langford e parte do elenco durante as cenas de estupro e, obviamente, na derradeira cena do suicídio de Hannah, todas bastante fortes. A exposição das mesmas, porém, é inevitavelmente um forte gatilho para certas pessoas, das mais vulneráveis, às que se consideram menos propensas ao ato fatal. Na realidade, falta sensibilidade para amparar as motivações, tanto de Hannah como a de incluir o momento em que esta tira sua própria vida. Não só por recomendações profissionais contrárias, citadas incansavelmente em meio a calorosos debates sobre a série, onde fica claro que tais momentos surtem efeitos drásticos, mas, também, num fato condizente com essa mesma afirmação, que é o de não podermos assumir que saberemos como cada pessoa reagirá às cenas. Além, ainda, pois não somente essas cenas podem servir como algo condutor a uma recaída do estado clínico de depressão, com o próprio andamento da situação, nos bons momentos da série em que se vê refletida a dura realidade do cotidiano ao qual muitos foram submetidos quando jovens, também auxiliando aí, negativamente. Portanto, assim como o filme de Tom McCarthy, se gera em 13 Reasons Why uma discussão necessária, sobre um dos maiores tabus na sociedade. Contudo, a frágil narrativa e a superficialidade dada ao desenvolvimento dos personagens tornam a série num produto que, além de sofrer com uma execução mediana, em momentos faz um retrato equivocado da temática.


Caso se encontre em situações semelhantes às dos personagens na série ou esteja sofrendo com pensamentos suicidas, recomendamos entrar em contato com o CVV (Centro de Valorização a Vida) através do link ou, então, pelo número telefônico 141. O CVV realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email, chat e Skype 24 horas todos os dias.

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