Star Wars: O Despertar da Força (Star Wars: The Force Awakens, 2015); Direção: J.J. Abrams; Roteiro: Lawrence Kasdan & J.J. Abrams e Michael Arndt; Elenco: Daisy Ridley, John Boyega, Oscar Isaac, Adam Driver, Harrison Ford, Carrie Fisher, Anthony Daniels, Peter Mayhew, Gwendoline Christie, Lupita Nyong’o, Domhnall Gleeson, Max von Sydow, Andy Serkis, Mark Hamill; Duração: 136 minutos; Gênero: Ação, Aventura, Fantasia; Produção: J.J. Abrams, Bryan Burk, Kathleen Kennedy; País: Estados Unidos; Distribuição: Disney/Buena Vista; Estreia no Brasil: 17 de Dezembro de 2015;

Parece que foi ontem o anúncio feito por George Lucas de que Star Wars retornaria aos cinemas, agora em parceria entre LucasFilmes e Disney, gerando êxtase na indústria, nos fãs e demais amantes do gênero, essencial para se compreender a cultura pop hoje em dia. Desde o início da produção, muito se especulava: Os Jedis conseguiram se firmar novamente como representantes da paz e liberdade? A República foi reconstituída? Os Sith, após tombarem com seu império, retornariam? E Leia e Han Solo, ficaram juntos? Tiveram filhos? Enfim… Muitas perguntas, absolutamente nenhuma resposta, o longa foi guardado da forma mais rigorosa possível, sequer sabíamos o enredo até essa semana (!) quando foi exibido oficialmente para os críticos, isso dois dias antes de sua pré-estreia oficial ao público. É justificável essa preocupação, de fato é uma experiência onde quanto menos o público souber mais ele aproveitará. Felizmente, todo o burburinho valeu a pena, pois Star Wars: O Despertar da Força consegue se equivaler ao fenômeno de Uma Nova Esperança (1977), não só no sentido de qualidade, mas na forma de quebrar paradigmas, romper laços e estipular uma nova forma de produção. Se em 77, o longa de Lucas foi ovacionado de forma gloriosa e surpreendente, agora o de J.J. Abrams deve -merecidamente – ser aclamado pelo motivo principal: retornar uma franquia já estabelecida e adorada, mas não se escorando nisso, acrescentando elementos genuinamente próprios, expandindo aquele universo, conquistando novos terrenos e camadas do público ao mesmo tempo honrando o antigo. Ou seja, é um filme que consegue dialogar muito bem com todos, até mesmo com aqueles que vagamente -ou nunca viram – a saga original. Além disso, o mérito maior não só em questões pop ou cinematográficas, é aceitar o potencial filosófico/social no qual a franquia sempre teve, mas adotava um caminho tímido, servindo de um entretenimento completo, não meramente uma diversão desprendida, sim um longa com muitas funções, inúmeras interpretações e muita competência em mostra-las.

Uma noção primária da estória de O Despertar da Força é a seguinte: Luke Skywalker (Mark Hamill), o último jedi, encontra-se desaparecido. Numa galáxia com traços de guerra civil, de um lado a Resistência tenta restituir a República na forma de um governo representativo, Democrático de Direitos, no outro lado a Primeira Ordem, dos remanescentes do antigo Império, tentam se (re) impor novamente ao poder, anulando direitos e liberdades, instituindo um regime totalitarista. Nem precisa dizer que os Sith comandam os fascistas, sendo comandados pelo Supremo Líder Snoke (Andy Serkins), que tem como aprendiz Kylo Ren (Adam Driver). Do outro lado, Leia Organa (Carrie Fisher), eterna princesa, adquire o status de Generala. Contudo, o filme não gira entorno da briga entre bem x mal , vai mais além quando nos apresenta personagens dúbios, que podem tanto fazer o bem quando o oposto. Rey (Daisy Ridley) é uma catadora de lixo em um planeja desértico de sucatas das antigas guerras imperiais, ela acaba encontrando BB8, um robô que carrega informações primordiais para o paradeiro do Luke. Certamente, ela acaba ficando na mira da Primeira Ordem, tendo que escapar ao lado de Finn (John Boyega), um stormtrooper (ou soldado) que deserda do exército por simplesmente não aceitar a ideia de violência gratuita, matar como função de vida. No meio disso, reencontramos Han Solo (Harrison Ford) e seu eterno parceiro Chewbacca (Peter Mayhew), ambos rapidamente vêem potencial da Força nos dois jovens, percebendo a necessidade de reencontrar Luke para enfim por um desfecho na divisão da galáxia. Tanto sinopse quanto enredo são simples mesmo, deixam múltiplas pontas soltas para os próximos filmes, porém sem deixar as coisas mal explicadas ou confusas. Há uma clareza na medida, ao ponto de reintroduzir aquele universo de forma sólida, não didática, deixando o terreno preparado para as próximas aventuras que procederão.

Como falado anteriormente, o roteiro e a argumentação O Despertar da Força discorrem de temas potentes, como o autoritarismo renasce e procura  adentrar novamente nas veias do poder, a aquisição de consciência individual ou coletiva, na forma de não aceitar o morticínio mesmo em prol de “cumprimento de ordens”, uma questão primordial na filosofia no qual Hannah Arendt nos trouxe ao dissecar os julgamentos de nazistas após suas derrotas. Outro ponto importante é a retratação da força feminina, não por acaso Rey é uma fúria da natureza, não se curva perante dogmas machistas rudimentar, ela é independente, trabalhadora, esforçada, não leva desaforo pra casa e nem se fraqueja… Um belo retrato das mulheres nesse século, ganhadoras de cada vez mais espaço, porém ainda pouco contempladas no cinema de forma ampla e não meramente superficial. O filme, contudo, não é panfletário e nem metido, é simples, consciente e empático. J.J Abrams não demonstra os seus vícios que o marcaram na franquia Star Trek, ele usa os efeitos de forma natural e não mecânica como ocorreu na trilogia de 2000, aproveita ao máximo a tecnologia sim para construir suspense, gerando variados sentimentos: emoção, tristeza, nostalgia, felicidade. Uma experiência, portanto, recheada de fôlego, ação, reflexão, até dramas familiares, fugindo de clichês e tendo alma própria, para além daquele mundo. Não se trata meramente de uma obra comercial ou o retorno de Star Wars aos cinemas. Trata-se sim de um filme que representa realmente o cinema contemporâneo, abaixo o gigantismo visual estéril, favorável as ideias conjuntas de aventuras.

A trilha sonora do maestro John Williams é primordial, novamente, para aumentar a experiência sensorial e cinematográfica, o som, seja sua edição ou mixagem, dão nuances que podem ser imperceptíveis aos olhos -e ouvidos- do público, mas claramente ficaria muito sem alma se não fosse por eles. A fotografia trás referências de Apocalypse Now e de outros filmes da temática, é muito mais requintada e elaborada que os demais filmes da saga, proporcionando uma seriedade e beleza maiores. Os efeitos, como anteriormente foi dito, são incrivelmente naturais, não soam falso e tão pouco interferem narrativamente de forma bizarra, um viva para captura de imagens. Star Wars – O Despertar da Força tem seus méritos principalmente por não querer ser levado meramente como produto de uma amada franquia, exige sim ser levado a sério como Cinema com “C” maiúsculo, algo que remete a primeira trilogia facilmente, o que por si só já nos deixa com mais expectativas para os próximos filmes deste universo. Mais ainda por ficarmos com o anseio, depois de seu sensacional desfecho, de ir além, de sentirmos mais emoções, vivermos mais experiências, conhecermos mais daquela galáxia tão, tão distante. Que a Força Esteja conosco!

  Star Wars: O Despertar da Força – TRAILER LEGENDADO

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