Rainhas do Crime (The Kitchen, 2019); Direção: Andrea Berloff; Roteiro: Andrea Berloff; Elenco: Melissa McCarthy, Tiffany Haddish, Elisabeth Moss, Domhnall Gleeson, James Badge Dale, Brian d’Arcy James, Margo Martindale, Common, Bill Camp; Duração: 102 minutos; Gênero: Ação, Drama, Policial; Produção: Michael De Luca, Marcus Viscidi; País: Estados Unidos; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 08 de Agosto de 2019;

Rainhas do Crime 02
(Divulgação/Imagem: Warner Bros. Pictures/Alison Cohen Rosa)

Adaptado de uma HQ da DC/Vertigo, “Rainhas do Crime” tem como mote desconstruir o cinema gangster, com uma veia neo-noir, dando nova roupagem para o arquétipo da “femme fatale“. Contudo, é um daqueles casos onde boas intenções não rendem grandes filmes… Ou pior, podem render obras extremamente esquecíveis, abrindo mão do potencial. Infelizmente é o caso deste “Rainhas do Crime“, um longa que tenta chegar a tantos lugares, propor tantos debates, mas que se perde em todos seus caminhos, tornando-se algo genérico de estúdio, ao qual nem um elenco estrelado, liderado pelas comediantes Melissa McCarthy -recém saída de uma indicação ao Oscar  por “Poderia Me Perdoar?“- Tiffany Hadish e Elisabeth Moss (“Nós“), ambas em momentos de grande notoriedade em suas carreiras, conseguem salvar do marasmo.

Ambientado nos anos 70, o longa da estreante Andrea Berloff na função de diretora narra a ascensão de três mulheres distintas, esposas de membros da máfia irlandesa, que precisam se colocar em campo nos “negócios” após seus maridos serem pegos em um assalto e presos. O bairro de Hell’s Kitchen é aonde elas passam a atuar, oferecendo serviços em troca de uma mensalidade, algo parecido com o esquema das milícias, comum aqui no Brasil, sobretudo no Rio de Janeiro. Seu sucesso como “gangsteres” acaba por fazer os homens, membros da mesma máfia, se sentirem ameaçados e tentarem enfrentar essa ascensão feminina. Paralelamente, vemos os dilemas das próprias protagonistas: Kathy (McCarthy) precisa conciliar o trabalho com a maternidade de dois filhos; Ruby (Haddish) enfrenta o preconceito racial; Claire (Moss) precisa lidar com o desejo e sua liberdade, após anos em um relacionamento abusivo.

As três personagens são arquétipos comuns de personagens femininas no gênero pelo qual o filme desconstrói. O cinema de máfia sempre teve personagens, ou sexualmente ativas ou meramente submissas, além dos papéis clássicos de mães zelosas, porém, com pouca vida pessoal. Enfim, é uma proposta bastante válida a resinificação de tais esteriótipos, num diálogo com os tempos atuais, onde as mulheres cada vez mais são empoderadas. Acrescenta-se ainda o fato do feminismo negro versus o feminismo branco, algo igualmente interessante. Contudo, o discurso beira ao lugar comum, as personagens são pouco desenvolvidas e não conseguem defender tais pontos. Não tenho conhecimento sobre o material original da HQ que deu origem ao filme, mas o roteiro dá pouca coisa para as personagens se desenvolverem, é quase um empoderamento gratuito, que mais dialoga com os anos 2010 do que com os anos 70, aonde a estória se passa.

Fora de tom, é exatamente como a direção de Berloff age, fazendo transições de cenas de plena tensão para alívios cômicos de forma jocosa. Pouco acrescenta ainda mais as interpretações meramente caricatas. Elisabeth Moss faz uma versão ainda mais sofrida e controversa de sua personagem no seriado “The Handmaid’s Tale“. Melissa McCarthy não sabe que filme está fazendo, se é uma comédia ou um drama. Tiffany Haddish mostra que é uma atriz interessante, com muito a oferecer, mesmo quando tem pouco para trabalhar. Ainda assim, não salva, sua personagem fica no lugar comum.

Mirando Scorsese, o longa acerta em qualquer coisa, menos na grandeza dos filmes de máfia. Um grande desperdiço de potencial e tempo. Uma grande pena, apenas deixa mais ansioso pro próximo filme do próprio Scorsese, que parece ser uma revisitação mais instigante do gênero do que esta.

“Rainhas do Crime” – Trailer Legendado:

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