O Predador (The Predator, 2018); Direção: Shane Black; Roteiro: Fred Dekker & Shane Black; Elenco: Boyd Holbrook, Trevante Rhodes, Jacob Tremblay, Keegan-Michael Key, Thomas Jane, Alfie Allen, Sterling K. Brown, Yvonne Strahovski, Olivia Munn; Duração: 107 minutos; Gênero: Ação, Aventura, Comédia, Suspense, Terror; Produção: John Davis; País: Estados Unidos; Distribuição: Fox Film do Brasil; Estreia no Brasil: 13 de Setembro de 2018;
Em 2014, quando assumiu “O Predador”, o diretor e co-roteirista Shane Black vinha do sucesso massivo de “Homem de Ferro 3” (“Iron Man 3”), lançado no ano anterior, portanto, gozava de certo crédito para realizar um projeto ambicioso.
A verdade é que o foco do cineasta pairou antes, no entanto, sobre “Dois Caras Legais” (“The Nice Guys”), que apesar de grande aprovação da crítica falhou com o público, e fadou um amargo fracasso nas bilheterias.
Este seu novo filme ainda é uma incógnita, mas sua estreia traz junto a divulgação de que a atriz Olivia Munn, louvadamente, fez com que o estúdio responsável cortasse uma cena do filme que contava com a participação de um pedófilo condenado, amigo de Shane Black.
Segundo as declarações da atriz, na cena em questão o personagem interpretado pelo ator dava em cima de sua personagem. Ora, não surpreende nada depois de assistido ao filme.
Ainda que a misoginia presente no filme não seja o problema central, seu desinteresse nas personagens interpretadas por mulheres que não sejam figurantes -e são apenas duas em todo o filme- só é conflitante com o interesse de objetificar a ambas a todo momento possível.
Uma dessas personagens, inclusive, é o caminho para decodificar muito do que há de errado em “O Predador”, pois a personagem simplesmente desaparece do filme, esquecida em meio a montagem e deixada de fora logo após uma derradeira cena.
O fato dela poder ser esquecida assim, tão facilmente, diz respeito não somente ao tratamento que é dado a essas duas mulheres no filme, mas em como a narrativa falha em nos envolver com seus personagens.
Francamente, a melhor relação e os melhores personagens aqui são os interpretados por Keegan-Michael Key e Thomas Jane, que parecem uma esquete cômica completamente à parte do restante do filme. O final da trama de ambos é uma prova de que mesmo de maneira absurda, Shane Black possuí talento.
Mas que é completamente desperdiçado com o restante e com a toada e as decisões que toma em diversos aspectos do filme, como o das personagens, contínua tecla na qual precisa ser batida.
Enfim, o fato é que a narrativa é bastante conturbada, e se vê mergulhada tanto no excesso de personagens como de acontecimentos, ainda que ambos os elementos sendo bastante simplórios.
A transição entre filme de ação, suspense, terror e, finalmente, para um drama que às vezes quer que nos importemos com seus personagens, é deveras desleixado.
O tom não é uniforme, e o resultado é confuso. A preguiçosa trilha sonora de Henry Jackman denota didaticamente os sentimentos que “O Predador” quer implementar, e por isso mesmo é mais fácil os rechaçar.
Há uma tentativa de tornar o todo em algo um tanto mais épico, mais grandioso, frente ao que foi feito nos filmes anteriores da franquia. Entretanto, o que nos oferece nunca está à altura disso.
Enquanto como suspense, sempre falha em causar algo relacionado à aparição de seu antagonista. Tanto que é até difícil acreditar na superioridade do mesmo.
Em termos de comparação, enquanto no filme original, protagonizado por Arnold Schwarzenegger, imperava um visceral embate íntimo e cada vez mais envolvente, neste novo filme se segue a exploração da violência gratuita, com o que vemos aqui pendendo muito mais para o espalhafatoso segundo filme da franquia, estrelado por Danny Glover.
Nem o orçamento um pouco mais flexível justifica algo aqui, pois a direção das cenas é também igualmente confusa, onde dificilmente se pode discernir o que está ocorrendo e o que resta são apenas borrões entrecortados correndo, pulando, se debatendo, de um lado a outro dos planos no filme.
É uma completa decepção! Tudo pelo que o filme opta é o excesso, e isso resulta em algo que torna “O Predador” uma produção densa pelos motivos completamente errados. É difícil se identificar, ou até mesmo discernir, qualquer coisa aqui.
É uma colcha de retalhos, de fato, e emendados da maneira mais singela possível e que pouco fazem pare esconder falhas. Pouco entrega também do que promete, e a ideia de predadores mais fortes é desperdiçada, pelo menos se compreende, no fim, porque a escolha por Shane Black.
O diretor, entretanto, parece ainda estar preso ao ano do filme e às piadas de seu personagem na produção original de John McTiernan.