O Homem Invisível (The Invisible Man, 2020); Direção: Leigh Whannell; Roteiro: Leigh Whannell; Elenco: Elisabeth Moss, Aldis Hodge, Storm Reid, Harriet Dyer, Oliver Jackson-Cohen, Michael Dorman; Duração: 124 minutos; Gênero: Drama, Suspense, Terror; Produção: Jason Blum, Kylie du Fresne; País: Estados Unidos; Distribuição: Universal Pictures; Estreia no Brasil: 27 de Março de 2020;

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Com o gênero se tornando cada vez de características mais miscelâneas, revitalizar um clássico como ocorre em “O Homem Invisível” é uma oportunidade e tanto, porque se abre a possibilidade de debate sobre um assunto, infelizmente, recorrente, sob uma ótica correspondente àquilo que realmente se trata, é o horror que se faz presente na vida real, em vítimas tais quais como a da protagonista que ganha vida no filme através de Elisabeth Moss. Uma “atualização” de um clássico do horror, que marcou gerações, mas que talvez tenha caído em desgraça, até certo ponto, após a versão de Paul Verhoeven protagonizada por Kevin Bacon, lançada nos anos 2000.

Mas Leigh Whannell não é nenhum Verhoeven, muito pelo contrário. Assim, esperar alguma originalidade aqui é algo completamente ilógico. O cineasta, que assina sozinho direção e roteiro do filme, é mais refém do estilo popularizado em franquias produzidas por James Wan, muito mais voltado ao jump scare, ao invés daquele que alçou Jordan Peele (“Corra!“, “Nós“), através da Blumhouse Productions, ao patamar em que se encontra hoje. Porque não é simplesmente aderir a algum tema ou comentário social que lhe fará ser diferente, mas sim saber desenvolvê-lo e aprofundar-se no que torna essa temática relevante.

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A roupagem para fazer “O Homem Invisível” parecer outra coisa está toda ali, e provavelmente é essa a faceta mais inteligente do filme, soar, de certa maneira, sofisticado, apelar a alguma elegância estética. Algo, no entanto, que não passa de mera formalidade para filmar um drama genérico estrelado por alguém tal qual a protagonista aqui. Os momentos que exibem alguma identidade mais próxima de seu realizador são, também, aqueles que mais ressaltam suas limitações, ainda mais dentro do gênero cuja outros nomes vieram ao resgate ao fazerem projetos mais arriscados e ricos, em tantas maneiras. Aqui, contudo, somos relegados a um conjunto de velhos truques.

A trilha sonora gritante e escandalosa, que didaticamente delineia todos os receios e sustos do filme, até os próprios movimentos de câmera. Inclusive, até retraí o poder de muitos momentos dramáticos destoando do sentimento em cena, por querer se fazer ser maior. É verborrágico. Assim como o próprio roteiro, que ao menos dá algum alívio ao se ater o mínimo possível em explicações sobre o que torna o personagem na figura do título, sendo que assim também foge de se embananar entorno de qualquer desculpa sobre a possibilidade da existência ou não de tal advento que permitiria a alguém se tornar, de fato, invisível.

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A passividade em aceitar o fato é, também, um dos pontos fracos do filme. Não tanto pelo que é, mas por como se propõe a querer iniciar seu debate, somente para logo em seguida desistir da ideia. Abrir mão do benefício da duvida é também selar o destino do filme, há um único caminho possível a se seguir, e o resultado são conveniências de roteiro para suprir furos, clichês a torto e a direito, e uma reviravolta que se faz incapaz de surpreender, deixando de lado qualquer força que podia ter um discurso entorno do abuso sofrido pela protagonista, que ao invés de cessar, muito pelo contrário, é vendido aqui como entretenimento.

O desenvolvimento da personagem é pautado muito em cima disso -e recentemente tivemos um choque de realidade quanto a esse caminho (leia mais aqui)-, sendo que Elisabeth Moss merecia muito mais do que Whannell pode lhe oferecer, ainda assim, a atriz brilha durante todo o filme. Em alguns momentos, porém, as semelhanças fazem parecer que o diretor apenas está emulando o que já vimos a atriz fazer em “The Handmaid’s Tale”, apenas denotando ainda mais suas limitações. Felizmente a atuação de Moss é autossuficiente, encontra um quê de veracidade e se sobressaí. É ela quem segura o espectador, não se engane, e é também através de sua atuação que tanto a tensão como a catarse funcionam o melhor que podem aqui.

“O Homem Invisível” – Trailer Legendado:

 

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